Quanto mais sal nos alimentos, mais nos habituamos com ele. Há muito se sabe que a ingestão de quantidades maiores pode agravar quadros de hipertensão, mas prejudicaria a saúde daqueles com pressão normal?
Nas últimas décadas, as recomendações contra o abuso de sal têm sido conflitantes. Alguns especialistas defendiam que as políticas públicas destinadas a reduzir o sal deveriam atingir a população inteira, enquanto outros consideravam mais apropriado dirigi-las aos que sofrem de hipertensão arterial ou diabetes.
Um artigo publicado no The New England Journal of Medicine, a revista de maior circulação entre os médicos, sugere que as políticas públicas devem ser dirigidas a todos e que não se ganha nada comendo sal à vontade; talvez até me prejudique. Vou explicar porque mudei de posição.
O sal de cozinha é o cloreto de sódio. Cada grama contém 0,4 g de sódio, íon essencial para o organismo porque facilita a retenção de água: para cada 9 g de sal ingeridas, o organismo retém um litro de água. Quando o sódio é consumido em excesso, o sistema cardiovascular poderá ficar sobrecarregado caso a água não seja eliminada com eficiência.
Para as pessoas saudáveis, a dose máxima de sal recomendada pelo Ministério da Saúde é de 5 g por dia. Os brasileiros, no entanto, consomem em média cerca de 10 gramas, o dobro do recomendado, sem contar o sal dos alimentos ingeridos fora de casa. Lembre que 1 g de sal é a quantidade existente em cada um daqueles pacotinhos servidos nos restaurantes.
Nos Estados Unidos, os homens ingerem em média 10,4 g de sal e as mulheres 7,3 g por dia. Lá, como aqui, hipertensão é moda. No trabalho citado, pesquisadores da Universidade da Califórnia construíram um modelo de simulação para ver o impacto que pequenas reduções do consumo de sódio teriam na incidência de doenças cardiovasculares, na população de 35 a 84 anos de idade.
Os resultados foram assustadores. Um esforço nacional que resultasse na redução de 3 g de sal no consumo diário, reduziria o número de infartos (de 54 a 99 mil casos por ano), de derrames cerebrais (60 a 120 mil por ano) e de mortes por outras causas (44 a 90 mil por ano). Como consequência o sistema de saúde do país economizaria U$ 10 a 20 bilhões, anuais.
Para combater o abuso de sal existem duas estratégias: uma individual, outra pública. A individual é baseada na conscientização de que reduzir o consumo faz bem à saúde; a pública visa convencer os fabricantes de alimentos processados industrialmente a colocar menos sal em seus produtos.
Como cerca de 70% do sódio ingerido na dieta do brasileiro médio vem dos alimentos industrializados, o convencimento individual tem impacto limitado. Cabe às autoridades responsáveis estabelecer regras que limitem a quantidade de sódio em molhos, condimentos, salgadinhos, picles, conservas, pizzas, sopas de pacote, embutidos, queijos e outros alimentos. Deve-se começar a diminuir o sal nas refeições e a prestar atenção na quantidade de sódio exposta no rótulo dos alimentos industrializados. Não custa nada, é apenas questão de acostumar com o gosto menos salgado.
Apesar de ter pressão normal, quem garante que no futuro o excesso de sal não tornará você um hipertenso? Não vale a pena correr esse risco.
Autor: Drauzio Varella
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