30 de abril de 2011

Trabalhando com nossas culpas



Quero falar das desculpas que todos temos, que de uma forma ou de outra descobrimos um jeito de arrumar, e, pior, acabamos vivendo com elas ou delas.

A desculpa é a carta na manga do colete, como se diz por aí, uma coisinha que sempre podemos contar com ela.

Que nos esconde - nos protege - que está sempre ali à mão para nos dar cobertura de algum fato que queremos muito evitar. Sempre pronta a nos mostrar as razões pelas quais podemos deixar de lado uma tarefa, às vezes, um dever e outras tantas vezes um pouquinho de felicidade e prazer.

É sim; começamos usando as desculpas para nos afastar de coisas que não gostamos e queremos evitar a todo custo. Com o tempo, isso vai se incorporando, nos envolvendo e quando menos se espera, estamos nos desculpando de sermos felizes o suficiente apenas por estarmos na praia.

Temos grande dificuldade em sermos felizes e em assumir nossa alegria e prazer. E qualquer acontecimento, por menor que seja, pode nos roubar este instante mágico.

Eu estou aqui, mas melhor não deixar que me vejam curtir. Tudo tem que ficar escondido embaixo de uma cortina de fumaça, pode ser sofrimento, desilusão ou simplesmente de uma carinha infeliz.

As desculpas são usadas, na maioria das vezes e desde sempre em nossas vidas, para encobrir algum fato ou como a palavra já diz:- "nos culpa" de algo. Até mesmo por ter quebrado um copo sem querer.

Vivemos numa sociedade onde já nascemos culpados, por isso estamos sempre de olho para ver de quem é a culpa. Já que não pode ser minha...

Afinal, saber quem tem culpa, de quem é a culpa nos deixa imensamente felizes, pois só quando surge um culpado é que aquietamos nossa mente com a certeza de que ela a culpa não é minha, UFA! Isto é louco sim, mas... muito humano também.

Então, fique atento, pense sempre no que está pensando, no caso no que ou porque está se "des - culpando"; quebre a rotina de só procurar culpados, para se sentir inocente e talvez acabe por descobrir que não é preciso existir culpados! 
Cássia Marina Moreira 


29 de abril de 2011

Amor: uma comunicação profunda




O que é o verdadeiro amor? Será que ele (ou ela) me ama realmente? Será que eu sei amar? Existe tal coisa como o amor?

Qual o ser humano que já não fez uma destas perguntas? De fato o amor está na ordem do dia desde que a humanidade se tornou consciente deste sentimento.

Existem muitas formas de amar, mas são elas o verdadeiro amor? Para responder com clareza à esta pergunta, é preciso conhecer qual o nível de motivação que predomina em determinada pessoa.

Será que alguém excessivamente preocupado pela sua segurança, por ganhar dinheiro para garantir a sua subsistência, ter um abrigo contra as intempéries e roupa para se proteger do frio, pode amar? Talvez seja demasiado, preocupado pelas suas próprias necessidades vitais? Sem contar pessoas que mesmo tendo estas necessidades satisfeitas, continuam obcecadas pela sua segurança. O medo de lhes faltar algo lhes faz acumular bens de modo insaciável. Se se estabelecem relacionamento com outrem, será para nutrir a sua possessividade e não para amar.

Há pessoas que, do ponto de vista material se contentam com pouco, desde que possam satisfazer o seu prazer sexual. Sexo é uma forma de energia muito poderosa, pois ela existe antes de tudo para satisfazer a necessidade de procriação, isto é, de sobrevivência da espécie. Para muitos, atração sexual é algo irresistível. Conhecemos desde o famoso inquérito Kinsey, muitos detalhes da vida sexual, sabe-se inclusive a freqüência e estatística de relações sexuais em relação à idade, o sexo, a categoria profissional, etc...

Mas será isto o que chamamos de amor? Sabe-se que neste tipo de relacionamento, a satisfação é provisória e de fato não existe, porém quanto mais se tem, mais se quer ter. Grande parte da humanidade fica estagnada neste nível de motivação. E quando os filhos são criados, se inexistir o verdadeiro amor, surge a separação e o divórcio, pois constatam que o relacionamento acabou. Vão procurar outros parceiros sexuais, num círculo vicioso que não acaba... Ou então vão procurar satisfazer a sua vontade de poder, de ser importante, de ser admirado pelos outros, de ter a sua foto nos jornais. O círculo vicioso continua: mais importância se tem, mais importância e admiração se quer. A sede de poder não tem limite.

De fato, segurança, sensualidade e poder, nunca são satisfeitos de modo absoluto. Apego ao conforto, ao sexo e à auto-imagem, só levam a decepções e sofrimento. O prazer que despertam é apenas momentâneo. Deixa um vazio angustiante que exige mais prazer para preenchê-lo.

Felizmente existem pessoas que conseguiram ultrapassar estas manifestações do egoísmo e do egocentrismo. Estas pessoas vivem em estado de amor. Para elas tudo o que acontece em torno delas tem um caráter sagrado e maravilhoso. A cada instante são sensibilizadas por pequenos detalhes da vida cotidiana: o passarinho que canta; uma troca de sorrisos com um transeunte; um gesto de carinho para um menino da rua, a solidariedade num mutirão. 

Para estas pessoas a alegria de viver é ilimitada. Este estado de amor desperta e acompanha uma capacidade criativa impar; nada de condicionamentos e de atos automáticos; tudo se renova. A sua criatividade e seu amor se tornam verdadeira compaixão, pois se coloca a serviço de aliviar o sofrimento e dar alegria a todos os seres. Estes são os verdadeiros cidadãos.

E quando dois seres assim se encontram e decidem unir sua existência, suas sexualidades se expandem e se transformam em ternura e amor à vida sob todas às suas formas. É uma comunicação profunda sentida pelos dois como tendo caráter divino.


Pierre Weil

28 de abril de 2011

O medo de amar congela as pessoas




Para evitar futuras desilusões, cada vez mais as pessoas se aproximam esperando receber e dar pouco apoio e ternura. Agem como uma máquina que ”liga” e “desliga”. “Ficam”, mas não se envolvem, e acabam reprimindo os sentimentos.

Existe hoje um profundo medo de se envolver, de amar. A tentativa é de construir um escudo e se esconder atrás dele. Homens e mulheres aproximam-se esperando pouco apoio e ternura, e mesmo quando lhes são oferecidos têm medo de aceitar. Por isso, muitas vezes acabam com menos do que esperavam. Isso provoca uma sensação de desapontamento constante, podendo levar à decisão de não se apegar, não se ligar, o que significa nem ser protetor, nem ser protegido.

Transar, desempenhar, mas não se envolver, é a forma perfeita de não reconhecer os próprios sentimentos. Quando uma pessoa enterra os sentimentos, começa a viver de forma automatizada, e mais e mais passa a ter esse tipo de "sensação desligada". Pensa que o ideal é se perceber como uma máquina que simplesmente "liga e desliga", acende e apaga.

Alguns vêem o envolvimento emocional como o caminho mais curto para o desastre e acham que o "ficar" é a salvação. Portanto, sentir é um perigo, algo arriscado, e a meta é se proteger do envolvimento, encontrar uma saída. As mais conhecidas são duas: uma é "ficar frio", insensível, e a outra, exatamente o contrário, se atirar de cabeça, mergulhar na hiperestimulação.

Como alguém pode ficar insensível? Todos sabemos que nossos sentimentos podem ir se congelando lentamente ou, às vezes, até se solidificar de uma hora para outra, mas também sabemos que não é possível descongelá-los num forno de microondas. Por esse motivo, é fundamental compreendermos porque resolvemos parar de sentir. Como diz Sam Keen em seu livro A Fronteira Interior, "o hábito de reprimir os sentimentos é profundo. Isso porque, em algum momento, em geral na infância, fomos decepcionados, frustrados e rejeitados de alguma maneira. A resposta automática ao sofrimento é o recuo, é se proteger, tentar fugir".
Essa é a lógica da dor. A mente e o corpo se mobilizam para minimizar o sofrimento, influindo a memória de dores passadas, para evitar as futuras. Entretanto, perdas, decepções, fracassos são inevitáveis. Ou decidimos encarar a dor ou nossa aventura de sentir termina aí.

Já outros ficam fixados na maneira oposta de agir: ficam "ligados" sempre. Tornam-se viciados em excitação, vão de um lado para outro, se deslocando sem parar, só agitando. Sua vida parece um aeroporto onde acontecem vários eventos simultaneamente. Pessoas estão sempre entrando e saindo, chegando e partindo. Acontece que a vida não é sempre excitante. Se insistirmos em ficar eternamente borbulhantes, teremos de fabricar muito entusiasmo falso. É arriscado cultivar o apetite pela sensação pura, pela excitação permanente.

Todos precisamos entender a diferença entre sensação e sentimento. A sensação é a resposta mecânica do corpo a determinados estímulos. Trata-se de terminações nervosas, músculos e pele. É simples: no terreno das sensações, as coisas ou dão prazer ou causam dor. Elas também se limitam ao "aqui e agora", como um simples toque que causa arrepio. Já os sentimentos têm história, envolvem tanto nossas memórias quanto nossas intenções. Um beijo, por exemplo, pode produzir uma sensação passageira ou se transformar em carícia. Nessa hora, vêm à tona todos os nossos desejos, nossos medos e nossas lembranças. Aí precisamos de tempo para registrarmos o que sentimos, para digerirmos, para sabermos o que aquele beijo significou.

A verdade é que, quanto mais sentimos a nós mesmos, mais poderemos entrar na vida do outro. Entretanto, nada garante que ao decidirmos sentir, sentiremos o melhor. Apenas sentiremos mais. Mais desejo, mais esperança, mais medo, mais prazer...Descobrimos que nossos sentimentos descongelaram e começaram a fluir quando, um dia, começamos a sentir: vinte minutos de alegria, trinta de raiva, quarenta de indiferença, quinze de verdadeiro desespero; mas não só isso, talvez também duas horas de paz e amor.

Nessa altura dizemos: "Eu me sinto, sinto você, sinto a nós". Sinto que amo. Ficamos, assim, capazes de nos voltarmos para o outro para conseguirmos sustentação e apoio. Aí vem a noção de juntar, unir, confiar, arriscar, começar.



Maria Helena Matarazzo 

27 de abril de 2011

Qual o melhor blog da semana?


O "Amadeirado" foi um blog indicado pela Cris, do Blog CAFOFO ON LINE@
http://sou-da-cris.blogspot.com/ para disputar o Selo BLOG DA SEMANA oferecido gentilmente pelo BLOG DO SUPER WILL (http://wwwwillblog.blogspot.com . O local de votação está abaixo do box "Seguidores".

O Amadeirado disputará com outros 5 esta homenagem através de uma enquete que se encontra e permanecerá aberta para votação no BLOG DO SUPER WILL por 10 dias, logo abaixo dos SEGUIDORES.

O selo é uma forma muito bacana de incluir links em outros blogs colaborando com a divulgação e troca de experiências . O vencedor ganhará, além do Selo, uma homenagem do BLOG DO SUPER WILL na página BLOG DA SEMANA, assim como outros ganhadores anteriores ainda disponíveis na página.


Obrigada. Bjkas!!!!

Lena Simões

Tentar mudar o outro




Parece fácil amar outra pessoa. Porém, a convivência diária traz aborrecimentos e os gestos românticos se escasseiam. Uma conversa franca pode complicar em vez de resolver. Não tente encaixar o outro na forma que você idealizou. Apenas o aceite. No mundo de esperanças, medos, prazeres e lágrimas.

O que mantém o vínculo são dezenas de fios invisíveis (segredos compartilhados, promessas cumpridas)que ligam uma pessoa à outra através dos anos. Um mundo feito de corações que se escutam, racham, quebram e voltam a se colar.

No começo parece tão fácil amar outra pessoa. E o sexo... Bem, o sexo é divino. Os olhares, sorrisos e gestos falam mais do que as palavras. É tão bom descobrir de quantas formas diferentes somos capazes de compartilhar, de nos fundir com a pessoa que amamos... Acontece que junto com as afinidades vêm as hostilidades geradas pelo conflito de querer amar e de se sentir obrigado a amar.

A familiaridade com o companheiro traz à tona suas imperfeições. Pequenos aborrecimentos se agigantam e mesmo os gestos românticos vão se escasseando. Pouco a pouco, a realidade toma o lugar das imagens idealizadas. Brigas acontecem, mas, naturalmente, a culpa é sempre do outro. "Ele já não é o mesmo de antes; portanto, é o responsável pelos problemas que estamos enfrentando."

É sempre mais fácil encontrar uma causa externa em vez de olharmos para nós mesmos. "Eu gosto de metade de você. O que faço com o resto?"

De alguns anos para cá, muitos casais valorizam o diálogo como forma de resolver esse problema. Revistas, cursos e terapeutas passaram a dizer que o importante é pedir o que se deseja. "Tenha uma conversa franca e sincera com seu parceiro, exponha o que você realmente quer e assim tudo vai se resolver."

Embora uma boa conversa seja um ponto de partida razoável, não é suficiente. Nós fomos levados a acreditar que a mudança, até mesmo uma transformação radical na relação, era algo totalmente possível: se o outro realmente amasse, ele faria esforços sobre-humanos para caber na forma que você idealizou. Mas na prática não é bem assim. Foi ensinado às pessoas que a negociação é essencial em um bom relacionamento. É possível negociar tarefas e alguns comportamentos específicos, mas não a personalidade do outro. É impossível modelá-lo, transformá-lo.

No livro Maridos e Mulheres, Melvyn Kinder e Connell Cowan explicam que uma pessoa pode querer mudar, mas de algum modo achar isso dolorosamente difícil. Muitos dos traços da nossa personalidade foram desenvolvidos como meios de nos proteger de danos psicológicos. Hoje podemos não precisar desses mecanismos de defesa, mas eles persistem.

Por mais que queiramos modificá-los, inconscientemente ainda sentimos que precisamos deles. Estes traços que incomodam ou enfurecem são, para a outra pessoa, formas de enfrentar a vida e de sobreviver. Ninguém quer contrariar seu parceiro, todos nós tentamos agradar, só que nem sempre conseguimos. E acabamos fazendo coisas que machucam.

Temos de aceitar tanto os defeitos como as qualidades do outro. Amor é aceitação. Nem sempre falar francamente fortalece o relacionamento.A afirmação parece contrária a tudo do que se disse nos últimos tempos, mas a experiência provou que às vezes "é melhor calar. E agir."

É ingênuo imaginar que basta expressar claramente os sentimentos para que o parceiro nos compreenda. Quando duas pessoas resolvem falar tudo o que pensam e sentem, podem ficar mais informadas, mas também podem acabar mais machucadas e ressentidas. Certas coisas não devem nem precisam ser ditas, por mais verdadeiras que sejam, pois não ajudam em nada e costumam provocar devastação emocional.

A superação das decepções devido ao fato de o outro não ser como tínhamos sonhado é uma dura tarefa. Mas se descobre lentamente, muito lentamente, que se pode amar alguém apesar de suas falhas.

Por outro lado, precisamos lembrar que é impossível mudar o outro, mas não a nós mesmos, pois todos estamos constantemente nos modelando. A vida é, afinal, uma procura dos segredos do crescimento e ninguém os conhece plenamente.



Maria Helena Matarazzo

26 de abril de 2011

Na busca pela essência, quero ser crua!




Como vocês bem sabem, tenho estado recolhida para um tempo de revisões, que chamei de uma pausa para crisalidar. Dentre as percepções e novas ações, resolvi fazer algumas mudanças em meus hábitos alimentares.

Gosto de pensar que cada um de nós tem um talento especial, o qual pode ser trocado com os mais próximos para que nossas vidas fiquem enriquecidas dessas sabedorias particulares. Portanto, para efetuar com segurança essas mudanças, busquei o talento de minha querida amiga Conceição Trucom. Ela é autora dos livros ‘Alimentação Desintoxicante’ e ‘O Poder de Cura do Limão’. Além disso, é uma pessoa linda, que transborda vida e energia positiva por todo o seu ser...

De tudo de importante e especial que ela tem me ensinado, o que mais me tocou foi sobre o cru. Aproveitei as preciosas dicas para, sobretudo, freqüentar mais e mais a feira. E enquanto ela vai me falando sobre as vitaminas, as enzimas, os minerais e toda a riqueza que pode ser assimilada dos alimentos vivos (como ela os chama) e do quanto tudo isso revivesce nosso organismo e muda nossa saúde de modo integral, eu vou viajando no ‘cru’... no ‘ser cru’...

E tenho refletido sobre o quanto, ao longo da vida, vamos desvalorizando o que é cru dentro e fora da gente, vamos nos perdendo em processos absolutamente desnecessários. Iludidos pelos sabores artificiais e pela estética industrialmente elaborada, vamos criando maneiras de não sermos nós, mas sim sermos quem acreditamos que os outros desejam que sejamos (ainda que essa crença seja também apenas uma ilusão).

Engolidos por este desejo adoecido de sermos aceitos num mundo onde bom é quem se encaixa nos moldes inventados, perdemos os nutrientes que nos tornam únicos e, portanto, genuinamente diferentes, desencaixados de qualquer molde.

Acho que fica mais fácil compreender o que acontece conosco se pensarmos no refinamento pelo qual passa o arroz, por exemplo. Para deixar seu aspecto aparentemente mais bonito, ele é processado até que fique completamente branco; com isso, chega a perder até 75% de seu valor nutritivo, que está justamente na película escura que reveste o grão. O fato é que quando se refina o arroz até deixá-lo branco, seu germe é destruído e o grão não tem mais vida; é, portanto, um alimento morto.
De integral, pleno de vida e nutrientes, é transformado em nada... mas pelo menos é um nada bem mais bonito, bem mais apresentável, na opinião da indústria e, consequentemente, na opinião da maioria dos consumidores de arroz.

Bem, não pretendo falar sobre alimentação, e sim sobre essência, sobre processos internos e, em última instância, sobre os refinamentos aos quais nos submetemos sem nos darmos conta de que estamos nos matando, abrindo mão do que há de mais íntegro e vivo em nós...

E fazemos isso, na grande maioria das vezes, simplesmente para ‘parecermos’ melhores. Seja ganhando mais dinheiro, seja sustentando um emprego incoerente com nossos valores, seja investindo em conquistas que só alimentam a nossa vaidade, seja mantendo relações superficiais para termos a sensação de controle dos sentimentos. Enfim, temos apostado muitas vezes num refinamento que nos torna vazios.

É por isso que me decido agora pelo que é íntegro e cru. Menos defesas e mais espontaneidade. Menos hambúrguer e mais brócolis. Menos maquiagem e mais transparência. E, nesta medida, bem mais essência nesta vida ainda que, muitas vezes, nossas cascas fiquem à mostra!



Rosana Braga




25 de abril de 2011

O amor no terceiro milênio



Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o início desde milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor.

O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.

A ideia de uma pessoa ser o remédio para nossas felicidades, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei. Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma idéia prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal.

A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso - o que é muito diferente.

Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa alguma. É apenas um companheiro de viagem.

O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir se reciclando para se adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria, ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral. A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado. Visa a aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade. Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva.

A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém. Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto.

Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal. Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não a partir do outro. Ao perceber isso, ele se toma menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.

O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo.

"A pior solidão é aquela que se sente quando acompanhado".


Flávio Gikovate

24 de abril de 2011

Um brinde aos 300 amigos!!!




Este é o selo comemorativo dos 300 amigos do Blog "Amadeirado" , que lhes presenteio com muito orgulho. Levá-lo com vocês é uma honra muito grande para mim! Obrigada a todos, pois sem vocês o blog não teria chegado até aqui!

Tenho ficado emocionada com o feedback que vocês têm me dado em relação à escolha que tenho feito dos temas, dos autores, dos textos, do lay-out, dentre outros quesitos. Os comentários que você registram nos posts me deixam especialmente feliz. Estou amando interagir com meus amigos: novas ideias, novas formas de ver o problema colocado em foco no dia-a-dia, troca de experiências e afinidades, enfim, um verdadeiro aprendizado de vida!

Fico muito feliz em perceber que nós, seres humanos, ainda temos a capacidade de dialogar, de interagir, de expressar nossa admiração ou descontentamento - se for o caso - mas com habilidade, com muito amor, sem ferir ninguém, com o único intuito de nos conhecermos melhor, ainda que virtualmente. Juro a vocês que morro de saudades quando passo um único dia sem vir aqui!

Este foi um dos grandes presentes da minha Páscoa 2011: formar um time de 300 amigos!

Tim tim!!! 
 
 
Lena Simões
 


"Seja alguém simples.
Seja algo que você ama e entende.
Esqueça o resto, tudo que você precisa está na sua alma...
e em seu coração". 
(Caio Fernando Abreu)


 
 

(Re) Descobrindo a vida




Quando perguntamos para uma criança: "Você me ama?", ela não se limita a dizer que sim. Abre os braços e mostra: "Esse tanto". Para ela, o amor tem um tamanho palpável. Mais tarde, tentamos demonstrar de muitas e muitas maneiras quanto é "esse tanto".

A psicanálise nos ensina que aqueles que foram bem amados na infância ao crescer tentam encontrar um companheiro para recriar o paraíso perdido, o mundo perfeito da infância, enquanto os que sofreram privação, que não foram desejados nem queridos, buscam alguém para compensar esse vazio.

Assim, vamos pela vida querendo amar para copiar, recuperar o que tivemos ou para compensar o que nunca nos foi dado. Em qualquer um dos casos, sentimos medo: medo de abrir o coração, porque nos expomos ficamos vulneráveis ao risco da desilusão, da rejeição.

É assustador amar: às vezes, um homem diz: "Que desgraça, acho que me apaixonei!" Isso porque se apaixonar pode parecer uma sucessão de quedas livres, como pular de um avião em pleno vôo... A sensação é única, entretanto, o risco é imenso.

O escritor irlandês Oscar Wilde disse que certas tentações são tão grandes que é preciso muita coragem para ceder a elas. Mas todos sabemos que, na vida, se aprende mais com dez dias de agonia do que com dez anos de felicidade.

Quando amamos, sentimos um prazer exuberante, equivalente ao de um homem dirigindo um carro novo, fascinado com seus poderes recém - adquiridos. Entretanto, parece que existem três fases, três etapas, no processo de conquista do outro.

A primeira - a do deslumbramento - dura um dia, um mês, dois meses - se for verão. Desde mais cedo na nossa vida, a excitação se mistura com a superação de obstáculos.

Então, à medida que nos desenvolvemos, vamos criando nosso mapa interno de excitação. Neste mapa estão os riscos que enfrentamos, nossos conflitos, nossas lutas pessoais. Superar as barreiras é, portanto, o teste da nossa força e também da força da atração que estamos sentindo pelo outro.

Já a segunda fase da conquista pode ser tão curta quanto um telefonema, dependendo dos nossos medos, das nossas dúvidas, ou tão longa quanto forem nossos desejos, nossa fome, nossos sonhos eróticos, e durar muito tempo. Essa segunda fase pode ter um sabor salgado, incrivelmente doce ou doce - amargo.

Mas a terceira e última fase, bem, esta nunca sabemos se vamos atingi-la ou não. Por isso sentimos aquele tipo de medo estranho chamado coragem. Nela, rapidamente (ou lentamente), cada um vai mostrando seu jogo, pondo as cartas sobre a mesa, pensando: "Eu sinto; eu quero; eu posso".

Os dois vão-se abrindo, revelando seus sentimentos, seus pensamentos, e a fronteira entre o permitido e o proibido começa a se dissolver. Mergulha-se no jogo do vai e vém, das trocas, do sexo variado, às vezes, simplesmente guloso, outras vezes, gourmet.

Começa agora, de fato, a descoberta de outro. Quando amamos de verdade, amamos porque o outro é isto, isso e aquilo e apesar de o outro não ser nem isto, nem isso, nem aquilo. É nessa fase que se quebra a barreira entre a fantasia e a realidade.

Então, quando a pessoa se percebe sendo correspondida, aceita e amada por aquilo que ela é, o nível de intimidade vai-se aprofundando e acontece a entrega.

Mas esta entrega não é fácil! É preciso muita coragem para viver as incertezas do amor. Por outro lado, é preciso enfrentar o medo, as dificuldades, porque são elas que nos forçam a prestar atenção em nós mesmos e na luta pelos nossos sonhos.

O que buscamos na vida não é passar somente de raspão pelo amor. O que todos nós queremos é criar uma relação emocional em cadeia, para poder ir abrindo os braços, mais e mais, até chegar "nesse tanto".



Maria Helena Matarazzo 



23 de abril de 2011

Porque os amores se perdem




O mais difícil de entender quando os amores acabam, são os porquês.
Por que duas pessoas que se encontraram e se encantaram, viveram um amor que parecia indestrutível, se separam?
Por que o amor geralmente acaba de um lado só e é o outro que fica chorando e querendo entender as razões?
Amores deveriam ser eternos, mas nem sempre são.
Costumo comparar casais à chave e fechadura.
Nem toda chave abre todas as portas e é necessário encontrar aquela exata que vai se encaixar perfeitamente e tudo será possível.
Mas a gente acredita que cada vez que alguém toca nosso coração e entra,
que é definitivo.
Um casal que se apaixona de início, sem que um tenha tido o tempo de desnudar o outro nas suas verdades, acredita nessa chama e até briga por ela muitas vezes.
E cria-se sonhos, planeja-se o futuro...
Enquanto isso os dias vão passando, toma-se menos cuidado em manter a magia e a parte dos dois que é mais sonhadora começa a sentir-se incomodada.
Dá medo.
Medo de ter que olhar bem nos olhos da realidade e dizer:
Acabou!
Medo de ter que se confessar a si próprio que ainda não foi aquela vez!
Medo da solidão, de ter que recomeçar...
Não são as decepções que matam o amor.
Se assim fosse, não existiriam perdões e reconciliações. O que mata o amor é simplesmente a tomada de consciência de que o outro não é o ser sonhado.
É como acordar depois de um longo sono e lindos sonhos.
O outro está ali, é a mesma pessoa, mas aquela neblina que dava a impressão de irrealidade já não mais existe.
E isso não acontece da noite para o dia, como se costuma pensar.
É algo que vem com os dias, os hábitos, as monotonias.
Um percebe, o outro não.
Um começa a se sentir angustiado e o outro continua acreditando ou finge que acredita.
E quando a gota que faz transbordar o vaso chega é o mundo todo que desmorona.
Porém, tudo não fica definitivamente perdido.
Sobra de um lado a dor, e os porquês, um resto de amor que teima em ficar no fundo como o vinho envelhecido na garrafa e do outro o coração dividido por não poder reparar erros cometidos e a vontade de continuar em busca de outros horizontes.
Sobra para os dois a ternura e a lembrança dos momentos passados juntos.
Por que corta-se relacionamentos, mas não se apaga momentos, mesmo
que a gente queira.
Vivido é vivido, feliz ou infelizmente.
Inútil é querer resgatar um amor que resolveu partir pra outras direções.
Quanto mais apega-se, mais ele se afasta.
E quanto mais se afasta, mais dói no outro a incompreensão.
É uma roda da qual é difícil de sair.
E é uma pena, pois os corações não merecem isso.
Quando a questão é amor, não existe justo ou injusto.
Existe o que ama, e o que não ama mais.
Precisamos aceitar que o outro não tenha os mesmos sentimentos, mesmo se isso nos faz mal, por que se o amor não for livre para se instalar onde realmente deseja, ele perde toda a razão de ser.
 
Letícia Thompson 
 

22 de abril de 2011

O valor da amizade





Costuma-se dizer que ninguém pode escolher a família em que nasce. Mas é possível selecionar os amigos, que são como a extensão da vida. A amizade, um dos sentimentos mais nobres que existem, nasce de forma espontânea, pura e vai se desenvolvendo até chegar à maturidade. Caracteriza-se por uma afinidade muito grande com alguém, baseada no amor, no carinho, na ternura, no respeito, na compreensão, na troca e na ajuda. É um sentimento muito sincero, que não depende da idade, de dinheiro e de posição social.

O amigo é um dom precioso. A própria Bíblia diz que "quem encontrou um amigo encontrou um tesouro". A amizade é um sentimento limpo, verdadeiro e profundo. Instiga a pessoa ao apoio e ao incentivo, quando as coisas estão bem. E à correção, com muito jeito e carinho, quando estão erradas. Amigo é aquele que está sempre presente, que adivinha o pensamento do outro, sem melindrá-lo; que é sincero e faz da amizade um ponto positivo na vida.

No relacionamento diário, entra-se em contato com muitas pessoas. Mas o amigo torna-se alguém diferente, especial e único. E visto com outros olhos - uma pessoa por quem a gente torce, vibra e sofre. Está presente nos bons e nos maus momentos; é amado e tratado com muita sinceridade. Além da afinidade, a amizade sólida baseia-se no convívio, na compreensão e na manifestação desses sentimentos profundos. Por essa razão, é um processo. Não nasce pronta. A relação deve ser construída e trabalhada dia a dia, por ambas as partes, porque exige reciprocidade. E como cultivar uma planta que, se não for regada com frequência, morre. A amizade, quando não cultivada, desfalece, esfria e acaba.

Quem gosta de outra pessoa não deve ter orgulho. Quando se é amigo, releva-se os defeitos e até o gênio difícil e a impaciência do outro. A compreensão é uma característica da amizade. Os sentimentos são livres e descontraídos, expressos sem cobranças. Numa grande amizade, as pessoas são fiéis. Ao amigo se fazem confidências, que, às vezes, não foram feitas a ninguém. Há uma entrega do que se é, pois não há traição nem mesquinharias. O amigo sempre está pronto para tudo e se pode contar com ele em qualquer momento ou situação de vida.

Mais que um irmão, o amigo é a oportunidade que Deus dá a cada um para encontrar sua metade. Com ele, a pessoa pode se revelar verdadeiramente: dizer não, sem medo de ferir; sim, sem medo de bajular; e as verdades, sem medo de ofender. Isso porque se acredita na amizade, por ela ser isenta de paixão. Num relacionamento assim, não existe inveja, orgulho, rancor ou grandes mágoas. A verdadeira amizade é eterna, como o amor.

Com o amigo, inexiste a censura e o medo de ser por ele conhecido a fundo. Nesse relacionamento, tudo vem à tona: as fraquezas, os limites, os defeitos, mas também as grandezas de alma e os aspectos positivos. Tudo é aceito, partilhado e vivenciado para o crescimento de ambos.

A amizade é uma ligação espiritual, que deixa a impressão de que sempre se conheceu o amigo. Isso ocorre porque ele preenche a outra metade da pessoa. Da mesma forma que se encontra o amor, encontra-se também o amigo. Trata-se de uma preferência de identificação, de carinho, de ternura e de vontades.

Atualmente, existem poucas pessoas que têm amigos e se fazem amigas. Há, também, as que vivem no seu próprio mundo, em que ninguém entra. Outras, por timidez, insegurança ou desconfiança, temem se arriscar, privando-se de uma das melhores coisas que Deus criou. Aqueles que são profundamente infelizes com certeza não conseguiram experimentar a alegria de uma verdadeira amizade. Não se abriram para o outro e morrerão sufocados pelo seu egoísmo.

A infelicidade existente no mundo resulta da incapacidade de as pessoas criarem vínculos de amizade e confiarem nas outras. Elas pensam só em si mesmas, revelando um egoísmo exacerbado. Não se dão ao trabalho de tentar construir uma amizade. Não se arriscam. Preferem ficar sozinhas. Há uma carência de sentimentos positivos relacionados às outras pessoas. Por que é tão difícil alguém encontrar o lado positivo do outro?

Quando os homens descobrirem o valor da amizade, a vida se tornará melhor, porque vale a pena sentir a felicidade de contar incondicionalmente com alguém.



Maria Helena Matarazzo

21 de abril de 2011

Você sente pena?




Não é preciso procurar muito para encontrar alguém que esteja passando por um de sofrimento. Quanto mais próximo, maior a nossa tendência em sentir pena e sofrer junto com a criatura. Há também aqueles que sentem pena de tudo e todos, até mesmo de pessoas que vêem na televisão, nas ruas ou de outras que apenas ouviram falar através de um amigo. Parece algo natural: se eu vejo alguém sofrendo, sinto-me mal com aquele sofrimento e assim tento ajudar. Se consigo ajudar sinto um certo alívio. Se não consigo ou não tenho a possibilidade, além da pena, surge também o sentimento de impotência.

Mas o que verdadeiramente está por trás do sentimento de pena de forma inconsciente? Respondo. A culpa em estar em uma situação melhor, por não carregar aquele problema que o outro carrega. Em resumo, é a culpa em ser feliz. Como posso me sentir bem se tal pessoa (filho, pai, mãe, amigo, parente, criança de rua, população de tal país...) está sofrendo? Como não nos permitimos nos sentir bem quando outras pessoas estão sofrendo (e sempre tem gente sofrendo), criamos então um sofrimento para nós mesmos: culpa e pena.

A partir desses sentimentos, criaremos ainda mais situações nas nossas vidas para nos igualarmos aos outros. Obviamente, fazemos isso na maior parte da vezes de forma inconsciente. Vou explicar melhor como isso funciona.

Vamos supor alguém que tem uma situação financeira razoável e que sente muita pena quando vê um conhecido em situação difícil. Essa pessoa poderá usar vários mecanismos para aliviar esse sentimento. Talvez ela empreste ou doe dinheiro a pessoa. Tem pessoas que vivem perdendo dinheiro dessa forma: emprestando para pessoas em dificuldades que acabam não pagando. Muitas amizades já se acabaram por isso. A pessoa pode até ficar com raiva do devedor, mas em um nível mais profundo, ela desejou perder aquele dinheiro, houve um ganho inconsciente do alívio da culpa.

Mas caso essa pessoa não possa ajudar todo mundo, afinal de contas, tem muita gente sofrendo com a pobreza e é impossível ajudar a todos, uma forma de aliviar esse desconforto é causar sofrimento a si mesma. A pessoa acaba criando situações financeiras difíceis pra sua própria vida.

Inconscientemente, quando sentimos pena das pessoas pobres é como se quiséssemos também ficar na mesma situação delas para assim aliviar a culpa em ter uma vida melhor, já que não conseguimos tirá-las da pobreza.

Pode parecer irracional, absurdo, mas o inconsciente é assim mesmo. Se você for pobre como eles, então, não há razão para se sentir culpado. Talvez você até pense que seria bom que tudo mundo saísse da pobreza, mas como não é essa realidade atual e muitos acham que não é possível que todos tenham uma vida próspera (o pensamento de que só tem pobre porque tem rico e etc...), é mais fácil sabotar o próprio crescimento financeiro e ficar numa pior para se sentir aliviado por um lado.

O cúmulo dessa sabotagem é quando a pessoa perde ou doa tudo e vira mendigo. Ela não ajudou a resolver a pobreza, mas agora não sente mais culpa, e passou a ser parte do problema. Outras pessoas agora sentirão pena e culpa ao vê-la.

Esses mecanismos sabotadores acontecem de outras formas. Uma mulher que seja muito bonita pode ser sentir mal ao ser elogiada na frente de outras que sejam, vamos assim dizer, menos favorecidas esteticamente, e acaba não se cuidando tanto ou se escondendo. Um filho de uma mãe depressiva se sabota e não se permite ser feliz pois inconscientemente sente que não seria justo já que sua mãe sofre. Isso é comum demais, e está sempre presente em algum nível nas famílias, principalmente naquelas com depressão e outros tipos de sofrimento mais intensos.

Os familiares tendem a sofrer uns com os outros como uma forma de solidariedade doentia. Assim, o filho cria uma vida difícil, entra em relacionamentos que causam sofrimento, não busca um trabalho terapêutico para se ajudar, e quando busca e começa a melhorar... muitas vezes larga o tratamento para se sabotar e não ficar mais feliz.

No nível racional, desejamos nos libertar do sofrimento e ajudar nossos amigos e a família. No entanto, ao sentir pena e culpa, alem de nos causar sofrimento, nossa tendência será tomar atitudes que vão ajudar a manter padrões negativos das pessoas. Atrapalhamos o crescimento alheio ao invés de ajudar. É o caso dos pais que ajudam o filho de forma ilimitada por sentir pena e não querer que ele sofra. O filho pode ser tornar inseguro, ou vira um inconsequente. Ao sentir pena da mãe em depressão, os filhos cedem aos mais variados tipos de chantagem emocional (direta ou indireta) e alimentam o vitimismo e a depressão dela. Quando estamos envolvidos nessas situações, é muito difícil enxergar tudo isso.

Outras situações comuns onde ocorre a "tabelinha" culpa/pena que ajudam a manter os padrões negativos: casos de doenças graves, alcoolismo, dependência de droga, obesidade e etc... Em resumo, quando sentimentos pena, estamos, na verdade, é nos sentindo culpados e desejando inconscientemente sofrer junto com as pessoas. Além disso, esses sentimentos nos levam a agir de forma a incentivar outras pessoa a se manterem em um padrão negativo, mas pensamos que estamos ajudando.

O que fazer? Devemos nos tornar pessoas frias e insensíveis? Muitos pensam que, se a pessoa não sente pena, ela é egoísta, uma pessoa má. É mais um equívoco do ego que está sempre buscando formas de justificar a necessidade de sofrer. Permitir a si mesmo ser feliz e estar em paz não é ser insensível, pelo contrário. Ajudamos mais quando somos mais felizes, assim, não caíremos nos mecanismos sabotadores de alimentar o padrão negativo dos outros.

É muito importante tratar com terapias próprias para dissolver os sentimentos de culpa e pena. Sempre que detecto isso nos clientes, começo a aplicar a técnica para limpar essas emoções. Quando fazemos isso, muito da auto-sabotagem inconsciente que a pessoa vinha praticando desaparece. A mulher bonita passa a gostar de se arrumar e aparecer sem constrangimento. Os pais conseguem dizer não e impor limites, entendendo que o sofrimento do filho faz parte do seu crescimento. O filho que tem a mãe depressiva se permite ser feliz e deixa de cair na chantagem emocional que alimenta o vitimismo. Deixamos de entrar em enrascadas financeiras e começamos a prosperar.



Andre Lima 
 

20 de abril de 2011

Abraça-me




Uma química delicada se produz entre duas pessoas que se sentem atraídas uma pela outra. O encontro se faz quase sempre pelo olhar. Segue-se a participação da boca, primeiro em sorrisos, depois em palavras. Aí vai surgindo o desejo de tocar, de abraçar.

Pesquisadores dizem que precisamos de seis abraços por dia para não nos sentirmos carentes. Por que seis? Talvez porque um é pouco, dois é bom, três é melhor ainda, quatro então nem se fala ...

Nossos braços servem para abraçar, enlaçar. Só que cada abraço tem que ser sentido, vivido. Como dizia o terapeuta paulistano José Ângelo Gaiarsa, você não toca no outro como se ele fosse uma cadeira. Senão você está coisificando o outro. Acontece que o outro é de carne e osso, parecido com você, por isso, o gesto não pode ser impensado, mecânico, automatizado.

As pessoas estão cansadas do gesto maquinal que não reflete nada. Quando eu toco o outro, que está além das fronteiras do meu próprio corpo, eu o sinto e sinto a mim mesma simultaneamente. Nesse sentido, podemos ficar horas sem fim nos tocando e nos sentindo. Mergulhando na sensação, percebendo o outro e me percebendo, tenho a sensação de estar sendo abraçada.

A criança registra essa impressão na mente e vai pelo resto da vida tentando reconstituir, reencontrar essa sensação. Por isso o ser humano tem fome de abraço. Ele está tentando repetir o prazer que está associado a essa primeira experiência.

Assim como aprendemos a falar, porque alguma pessoas falam conosco e vamos falar da forma como elas falaram, também aprendemos a tocar, em grande parte, dependendo da forma como fomos tocados. O aprendizado do amor começa aí.

As sensações de mamar e amar ficam profundamente interligadas e até inseparáveis em nossa mente.

Mais tarde, frequentemente comer se torna uma forma de compensar a falta de amor.

É por isso que, quando estamos carentes, atacamos a geladeira, bebemos mais cerveja, tomamos mais sorvete, comemos mais um chocolate.

Tanto a fome de alimento com essa fome de contato normalmente se intensificam nos períodos de tensão. Entretanto, enquanto a fome de alimento podemos matar sozinos com comida, cigarro ou álcool, a fome de contato dificilmente pode ser satisfeita sem outra pessoa. O que se resolve com gestos que nos aproximam, nos vinculam ao outro.

Pode-se alisar, abraçar, tocar de forma apressada, impensada, dissociada. Ou pode-se tocar sensualizando, erotizando cada movimento.Cada gesto traduz um sentimento, uma emoção, que provoca uma reação. e o gesto é indiferente, não manifesta nada, não tem energia nem intenção, você congela o outro e se congela. Se ele for macio, terno, doce, você derrete o outro e se derrete. Se ele for erótico, excitante, estimulante, apaixonado, você incandesce o outro e se incandesce também.

Muitas vezes, quando se faz amor, carinho e carícia se misturam, se juntam, se fundem e confundem. Brincamos com o nosso corpo porque sabemos que fazer amor é "um alisar o outro e o outro alisar o um". Nessa troca de carícias, o outro responde ao meu gesto e tende a fazer aquilo que meu gesto insinua. O que acontece é uma conversa dos dedos sobre a pele.

O que se busca, quando se faz amor, é essa ampliação da consciência do contato. Na medida em que vamos aprendendo a ampliar o contato com outra pessoa, vamos ampliando e aprofundando nosso contato vivo e prazeroso com tudo o que existe.

Tato é a linguagem inicial da vida. 


Maria Helena Matarazzo 


19 de abril de 2011

Bolinhos de chuva





A gente se cobra tanto que esquecemos de fechar a porta. Deveríamos nos pressionar menos. Aceitar que esqueceremos sempre alguma coisa a sair, de que é natural não se lembrar de tudo, de que não adianta se explicar, o melhor é viver sem sinalização.

Tão simples. Extraviei a ingenuidade e não coloquei nada em seu lugar. Talvez minha ingenuidade fosse comer bolinho de chuva no sábado de tarde. Ingenuidade é quando temos vó para fazer nossos desejos. Depois, maduros, nossos desejos são bem mais difíceis. O cotidiano poderia ser mais líquido, menos temeroso.

Trabalha-se para conseguir reconhecimento que se perde dentro de casa. Fica-se com a família para conseguir o reconhecimento que se perde no trabalho. É necessário pular do jogo de compensações, se permitir não ser bem informado, não saber o que acontece, não depender do tempo para definir o que fazer no dia. Ler um livro que não é lançamento.

Ler uma revista velha de consultório de dentista. Cortar o cabelo diferente. Escolher um filme no escuro. Fazer palavras cruzadas com ajuda dos resultados. Tomar a cerveja da visita que não apareceu. Ligar para amigos sem um pretexto. Permanecer de bobeira, ingenuamente de bobeira. Não estocar, não se guardar, não se esconder, não esperar o pior, não xingar. Compreender que o outro pode estar falando a verdade, mesmo que a verdade não seja o que gostaríamos de ouvir.

Tanto que recebi uma mensagem de um amigo que fala do distanciamento adulto, do isolamento adulto, que não é solidão, que é algo que nos adia até nos adiar novamente:

"Chega uma hora em que não nos esforçamos mais para aprender. Aprender o que o outro quer, o que o outro precisa. Tudo se torna causa própria: minha família, meus amigos, meu trabalho, minhas festas. E o resto que se dane. Eu lembro de minha irmã mais velha. Era ciumento quando pequeno. Interrogava seus namorados como um cão de guarda. Ela levava na brincadeira e ria da implicância. Eu me dava tão bem, não precisávamos ter alguma coisa em comum. Se ela chorava, eu não queria saber o motivo. Eu me juntava a ela como um pacto até ajeitar seus olhos. Eu dedicava minha vida para ouvi-la. Ela dedicava a sua para me entender. Ela me levava em seus passeios, por mais tedioso que é ter o irmão mais novo colado. E não sentia que estava incomodada, ela tinha orgulho de me apresentar o mundo. Alargou os padrões domésticos. Saiu de casa cedo, fez minha primeira festa aberta aos amigos, me ensinou a dirigir, me deu dicas de como me comportar com as mulheres (o que convenhamos, não deu muito resultado). Passou em primeiro lugar na universidade, era inteligente a ponto de tornar qualquer sucesso dos seus irmãos um tremendo esforço. Ela fazia as provas e os testes sem estudar. Nada parecia complicado. Ela cresceu, teve filhos, casou. Eu cresci, tive filhos, casei. Hoje não há alegria, não há comoção das diferenças, não há compreensão. Não nos prendemos ao telefone e acabamos estranhos, indiferentes, medrosos. Ninguém comemora o sucesso do outro. Nossos filhos não brincam juntos. Não dividimos casa na praia. Como telegramas, só nos comunicamos nas tragédias. As diferenças sociais e de classe nos afastaram. Ela apenas fala de trabalho e viagens, do que gasta e não gasta. Eu não sei o que falar. Cada um procura sua mãe para reclamar, que é a mesma".


Fabrício Carpinejar

18 de abril de 2011

O verdadeiro é transparente





O verdadeiro é transparente, está no sorriso, no brilho do olhar, nos gestos espontâneos, felizes e calorosos... Desconfio de gente misteriosa e silenciosa, há que se demonstrar afeto...

O amor quando está presente sai pelos poros, agita as células, contagia quem passa perto.... O amor não é quieto, não fica longe, não sente medo.... amor é para quem tem coragem, quem tem vontade, fome de vida, saudade.... O amor só cresce a medida que se dá, amor é doação. Desconfio de quem ama e fica longe, e não se preocupa, não cuida, não confia, não se dá. Desconfio que seja amor.... não é verdadeiro.

O eterno está nas pequenas coisas.... todo o resto é breve. A vida está nos detalhes, nos profundos detalhes.... Você é cada pequena coisa..... cada coisa que gosta. É amor que sente, é os seus sonhos, é como decora sua casa, é o riso, a sua flor preferida, seus livros e discos....

Você é inteira, não metade. Não se desconstrói por pouco, nem por ninguém.... Não aceite menos, jamais. Nem mentiras, nem migalhas.....

Porque, o verdadeiro, o amor e o eterno está naquilo que transborda, é visível aos olhos e ao coração, é inteiro.


Carolina Salcides


17 de abril de 2011

Começando a despertar




Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. Só sei que tudo começou a ganhar uma cara que, no fundo, eu já conhecia, mas que havia esquecido como era. Comecei a despertar do sono estéril que, com suas mãos feitas de medo e neblina, fez minha alma calar. E foi então que comecei a ouvir o canto de força e ternura que a vida tem.

Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. Só sei que ninguém começa a despertar antes do instante em que algo em nós consegue deixar à mostra o truque que o medo faz. Só então a gente começa, devagarinho, para não assustar o medo, a refazer o caminho que nos leva a parir estrelas por dentro e a querer presentear o mundo com o brilho do riso que elas cantam. Só então a gente começa a entender o que é esse sol que mora no coração de todas as coisas. Não importa com que roupa elas se vistam: ele está lá.

Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. Só sei que comecei a lembrar de onde é o céu e a perceber que o inferno é onde a gente mora quando tudo é sono. Comecei a sair dos meus desertos. E a olhar, ainda que timidamente, para todas as miragens, sem tanto desprezo, entendendo que havia um motivo para que elas estivessem exatamente onde as coloquei. Nenhum livro, nenhum sábio, nada poderia me ensinar o que cada uma me trouxe e o que, com o passar do tempo, continuo aprendendo com elas. Dizem que só é possível entendermos alguns pedaços da vida olhando para eles em retrospectiva. Acho que é verdade.

Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. Só sei que comecei a compreender o respeito e a reverência que a experiência humana merece. A me dar conta de delícias que passaram despercebidas durante um sono inteiro. E a lembrar do que estou fazendo aqui. Ainda que eu não faça. Ainda que os vícios que o sono deixou costumem me atrapalhar. Ainda que, de vez em quando, finja continuar dormindo. Mas não tenho mais tanta pressa. Comecei a aprender a ser mais gentil com o meu passo. Afinal, não há lugar algum para chegar além de mim. Eu sou a viajante e a viagem.

Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. Só sei que comecei a querer brincar, com uma percepção mais nítida do que é o brinquedo, mas também com um olhar mais puro para o que é o prazer. A ouvir o chamado da minha alma e a querer desenhar uma vida que passe por ele. A assumir a intenção de acordar a cada manhã sabendo para o quê estou levantando e comprometida com isso, seja lá o que isso for, porque, definitivamente, cansei de perambular pelos dias sem um compromisso genuíno. E comecei a gritar por liberdade de uma forma que me surpreendeu. Antes eu também gritava, mas o medo sufocava o grito para que eu não me desse conta do quanto estava presa.

Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. Só sei que comecei a desejar menos entender de onde vim e a desejar mais aprender a estar aqui a cada agora. Só sei que descobri que a solidão é estar longe da própria alma. Que ninguém pode nos ferir sem a nossa cumplicidade. Que, sem que a gente perceba, estamos o tempo todo criando o que vivemos. Que o nosso menor gesto toca toda a vida porque nada está separado. Que a fé é uma palavra curta que arrumamos para denominar essa amplidão que é o nosso próprio poder.

Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. Só sei que não importam todos os rabiscos que já fizemos nem todos os papéis amassados na lixeira, porque todo texto bom de ser lido antes foi rascunho. E, por mais belo que seja, é natural que, ao relê-lo, percebamos uma palavra para ser acrescentada, trocada, excluída. A ausência de uma vírgula. A necessidade de um ponto. Uma interrogação que surge de repente. Viver é refazer o próprio texto muitas, incontáveis, vezes.

Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. O que sei é que não quero aquele sono outra vez.


Ana Jácomo 


16 de abril de 2011

Que tal agora?!?




Recentemente, terminei de ler um livro fantástico chamado “Um novo mundo : o despertar de uma nova consciência”. Nele, dentre muitos aprendizados maravilhosos, tem uma passagem que conta sobre um mestre zen que, diante de qualquer circunstância, seja ela aparentemente boa ou má, ele simplesmente pratica o estado de presença e aceitação e responde “É mesmo?”, vivendo o que há para ser vivido! Sem julgar, sem fazer ligação com o passado ou com o futuro. Simplesmente confiando na vida...

Se você reparar, pelo menos os artigos mais recentes que tenho escrito, todos terminam convergindo para a uma idéia muito semelhante: deixar a vida fluir e viver o que está aqui, agora, neste momento, para ser vivido.

Se você pensa que estou falando de uma mesma situação ou de um mesmo aprendizado, está enganado. Apenas entrei num estado de sincronicidade incrível. O que existe dentro de mim e o que existe fora de mim tem sido, dia após dia, algo indissociável. É a unicidade da vida se manifestando milagrosamente, simplesmente porque decidi, definitivamente, que tudo é exatamente como tem de ser.

“Mas, então, tudo se trata apenas de uma escolha?!?”, você poderia me perguntar. E eu responderia com toda a certeza: sim, apenas uma escolha! É exatamente do que se trata tudo o que você faz ou deixa de fazer na vida: uma escolha, seja ela consciente ou não! Isto é, quanto mais você entra em sintonia com o que há de mais verdadeiro em você, mais consciente será cada uma dessas escolhas que você faz a todo o momento.

“E é fácil?!?”, poderia ser a sua próxima... E eu não tentaria te iludir! Depende! Na maior parte das vezes, especialmente no início desta sincronicidade, não é tão fácil, já que estamos presos a padrões negativos que foram nutridos durante toda a nossa vida. Então, embora seja simples, nem sempre é fácil. No entanto, a cada dia que você tenta, a cada dia que você treina, torna-se mais fácil do que antes.

O segredo é abandonar a resistência. Toda a nossa dor, todo o nosso sofrimento está em resistir, em não aceitar, em brigar com as circunstâncias que não acontecem exatamente como esperávamos. Travamos uma briga interna a maior parte do tempo, seja com o trânsito, seja com o tempo, seja com alguém que tem um comportamento que nos incomoda, seja com um resultado insatisfatório, seja com nada. Isso mesmo! Brigamos até com o nada, com o que não acontece. Tornou-se praticamente um vício nos mantermos num estado de constante conflito com a vida!

E sabe o que é pior? Nem percebemos. Terminamos acreditando que é assim mesmo. Que o melhor da vida está justamente nesta tensão que parece nos motivar, neste amontoado de problemas a serem resolvidos. Afinal, se pensarmos bem, terminaríamos concluindo: o que seria nossa vida senão todas essas questões a serem ultrapassadas!

Que desperdício!!! Tenho descoberto, na prática, extasiada e feliz, o quanto posso relaxar, parar de fazer força, parar de brigar. O quanto é tão melhor e tão menos difícil viver o tão falado agora, que até então eu não havia sentido exatamente que tempo era esse...

Afinal de contas, quando pode ser a vida senão agora? Quando eu posso aproveitar senão agora? E agora, acreditem, neste instante, não há mais nada senão eu mesma escrevendo essas linhas. E agora, enquanto você lê, não há mais nada senão você lendo essas linhas.

O agora é tudo o que temos e o que somos. E quando conseguirmos não entender (porque a mente não é capaz de compreender o agora), mas viver de fato esse momento, viver de fato o agora, sem conduzir nossos pensamentos para o passado ou para o futuro e sem ficar analisando e julgando tudo o que acontece, como se fôssemos juízes do mundo e de nós mesmos, como se pudéssemos controlar o Universo, simplesmente entramos num estado de paz até então desconhecido... e sentimos o que é, finalmente, a felicidade.

Então, simplesmente relaxe os músculos, respire profundamente e se entregue, aceite o que for, o que vier. Tente, só por hoje, responder “é mesmo?” para tudo o que lhe acontecer, e veja o que acontece.

E quando a sua mente tentar te distrair com reclamações, indignações e tensões, apenas proponha a si mesmo: "Que tal agora?" E volte para o único tempo que realmente vale a pena ser vivido! Parece utopia, mas não é!


Rosana Braga 

15 de abril de 2011

Os paradoxos da paixão




Por experiência própria, você já deve ter descoberto que há muitas maneiras de amar.

Existem os amores descomprometidos e rápidos, surgidos de olhares que se cruzam ao acaso, provocando uma enorme descarga de energia, uma vontade incontrolável de seguir, de perseguir, de caçar. São encontros não marcados, diante dos quais vibramos numa intensidade anormal porque sabemos que a primeira vez também pode ser a última.

Existem ainda os amores intensos e rápidos, aqueles nos quais se perde a consciência do perigo e a noção de limites. O que se deseja é variedade, excitação, a promessa certeira do prazer. O que se deseja é estar fora do mundo das proibições, experimentando o perigoso jogo do tudo ou nada. Estes encontros poderiam ser chamados de minipaixões. Acontecem com frequência em viagens, férias e também são facilitados pelo anonimato das grandes cidades. O objetivo é a conquista: um alvo determinado, aquele homem, aquela mulher. Nessas horas, fantasia e realidade se misturam e se confundem.

Mas as diferentes maneiras de amar não acabam por aí. Como esquecer os amores comprometidos e lentos? Para muitas pessoas, só o primeiro encontro não basta. A busca da felicidade exige um segundo, um terceiro, um quinquagésimo. Nesses casos, a ligação amorosa nasce da revelação, do desvendamento, da descoberta. Deseja-se encontrar aquele "algo mais", que só parece atingível quando se explora cada milímetro do outro, por meio de uma sucessão de perguntas, de toques, de confidências e provas de dedicação que, aos poucos, vão construindo o vínculo amoroso.

Poderíamos falar também dos amores intensos e lentos, quando se descobre que o prazer é a energia que une e agrega. Nesses amores de combustão vagarosa, a relação se delineia à medida que os parceiros se encaixam e criam laços de apego. São vínculos que dão a sensação de um porto seguro, de morar dentro do outro, e não de estar só de passagem.

Na verdade, as possibilidades de relacionamento amoroso são infinitas, mas também vale lembrar que, raramente, os encontros acontecem da forma como previmos ou planejamos. O que, de resto, é ótimo, pois quando nos abrimos para essa força vital que chamamos Eros, amor, descobrimos que o impulso erótico profundo, misterioso, não pode ser facilmente compreendido, classificado ou controlado.

Talvez não exista, no vasto repertório de experiências humanas, nada que se compare a uma paixão. É um sentimento que nos faz viver momentos de expectativa, de excitação, de incerteza; que de uma hora para outra nos tira os pés do chão, deixando-nos "nas nuvens".

Estou falando daquelas paixões sentidas na pele, na carne, que fazem a temperatura emocional ultrapassar os 100 graus centígrados, que dão ao mundo um colorido que nunca observáramos antes. Paixões que mudam o rumo de nossas vidas, nas quais nos entregamos totalmente, sem defesas e sem receio, nas mãos do ser amado. Paixões que, colocando-nos na fronteira da sanidade e da loucura, nos fazem perder a consciência do perigo e a noção de limites.

Ao nos apaixonarmos, sentimo-nos a dois passos do Paraíso; ora entrando (quando estamos junto da pessoa amada), ora saindo (quando nos afastamos). Uma idéia fixa nos envolve: como representar tudo para o outro e como conseguir que o outro se transforme em tudo para nós. Sob o domínio da paixão, sentimos a compulsão de negar o que somos, ou já fomos, para corresponder às expectativas daquele ou daquela por quem nos apaixonamos. Nessa fase, nada se compara à extasiante experiência de estar a sós, de mergulhar, de se fundir com a pessoa amada. Invade-nos uma fome insaciável de intimidade, infinita de reciprocidade, que torna apavorante a perda do amor recém-encontrado.

Como algo tão assustador pode ao mesmo tempo ser tão bom?

Você já deve ter percebido por experiência própria que paixão jamais combina com lógica ou rima com racionalidade. Não se trata de uma escolha consciente, de um ato premeditado; simplesmente, acontece. Apesar disso, sempre fica uma pergunta no ar: por que as pessoas se apaixonam perdidamente? É difícil, para não dizer impossível, explicar de forma total uma experiência humana ao mesmo tempo tão universal e tão misteriosa como é a paixão amorosa. No entanto, podemos levantar algumas possibilidades.

Em nosso mundo externo sempre existe falhas, buracos, assim como em nosso mundo interno sempre existem carências e necessidades. Quando nos damos conta de nosso vazio interior, surge a necessidade de preenchê-lo, ou seja, sentimo-nos ávidos de amor. Nessas circunstâncias, em geral, o aparecimento de uma pessoa de carne e osso para suprir a carência se transforma em mera questão de tempo. De uma hora para outra, a paixão bate à porta.

Na ânsia de se preencher, de se completar, o apaixonado absorve, engole o outro, ou se deixa absorver, engolir totalmente. Em conseqüência, a paixão vai crescendo de forma avassaladora e se transforma em "monomania", na coisa mais importante da vida, na razão de ser da própria existência.

A "vítima" da paixão passa a ver o mundo por uma ótica distorcida. Os valores se alteram, tudo muda de sentido. Quem se apaixona fica por demais ansioso para poder decifrar os sinais que o outro lhe envia. Fica também por demais apegado para poder realmente enxergar o outro e por demais obcecado para poder conhecer o outro. Chega a dizer que o ser amado é tudo e tudo se resume ao ser amado. Isso significa ignorar as demais pessoas.

Embutida nessa entrega total, há também uma exigência de complementação total. As grandes paixões desconhecem barreiras, insurgem-se contra o proibido. A literatura está cheia de exemplos de amantes que, apesar dos mais terríveis obstáculos, mantiveram-se unidos por laços indestrutíveis.

Mas a ligação entre paixão e sofrimento não aparece apenas na ficção, nos romances, nas novelas. Ela existe na vida real. A separação é tão dolorosa porque um homem, uma mulher apaixonados não preenchem suas necessidades afetivas com várias relações de troca, de amizade. Para eles, o ser amado é a única fonte de gratificação. Isso transforma a paixão numa espécie de prisão paradisíaca.

A expressão "estar perdidamente apaixonado" dá bem a medida da ambiguidade que envolve esse sentimento que todos ansiamos por experimentar, mas que tanto nos perturba quando, sem pedir licença, ele invade nosso coração.



Maria Helena Matarazzo