12 de outubro de 2010

A criança e a linguagem do amor



Ao ler algum livro sobre educação infantil, busco um ou outro ensinamento que, acredito, será o mais útil de todos, se eu pudesse escolher do que gostaria de lembrar. Costuma funcionar: a coisa gruda na cabeça.

Um desses ensinamentos que grudaram na minha cabeça recomenda escolher as batalhas que valem a pena. Taí algo muito útil para a gente não entrar naquela de dizer que é muito cansativo convencer uma criança de quase 5 anos de idade a fazer tudo da maneira como você acha que é o melhor para ela, da hora de levantar até dormir. Isso partindo do pressuposto que nós, pais, temos essa mania de achar que sabemos o que é melhor para elas. Tipo a roupa que vai usar. Temos que escolher o tempo todo? Acho que não. E procuro não fazer disso um cavalo de batalha, desde que ela não vista um gorro e uma saída de praia por cima da meia-calça para ir jantar com a gente num restaurante.

Claro que estou brincando. Não sou tão mandona assim. Ela tentou fazer isso ontem e mudou de idéia por conta própria. Depois de ouvir nossa opinião, bateu o bom senso na criança. Crianças também têm bom senso. Mas eu falava das batalhas corretas.

Até que outro dia, numa conversa com uma amiga, falávamos sobre nossas tentativas, às vezes erradas, às vezes certas, de participar de forma autêntica da vida das crianças, com brincadeiras, fantasias e demonstrando nossa empatia.

Quantas vezes você já disse ou viu outro dizer assim para uma criança: pare de bobagem, vai chorar por causa disso? A resposta é “vai chorar sim”. Provavelmente ela vai chorar por causa de algo cuja importância escapa aos nossos olhos treinados para pensar coisas sérias, tomar decisões importantes, lidar com problemas muito mais torturantes. Provavelmente a criança vai chorar porque desmontamos a casinha de lego que ela acredita jamais conseguir reconstruir igual, ou porque jogaram fora aquela colagem maluca de papel picado que era uma armadilha mágica capaz de prender qualquer assombração que entrasse no quarto dela.

Nós, adultos, muitas vezes nos esquecemos que o “importanciômetro” da criança funciona numa freqüência bem diferente da nossa. Não quero dizer com isso que vamos abrir mão do nosso papel de ensiná-las a discernir o certo do errado, o grave do desimportante. Não é isso. Estou falando daquela nossa capacidade de ver o outro sob a perspectiva dele.

Isso tudo calou fundo em mim quando li “A auto-estima do seu filho”, de Dorothy Corkille Briggs. O capítulo entitulado “A segurança da empatia” sugere exatamente isso: que a gente lembre daquela vez em que, depois de desabafar com alguém, ouvimos como resposta um inútil “não fica assim não porque tudo dará certo”. Obrigada pela força, mas não era bem isso que eu esperava ouvir. Não dá vontade de falar mais nada, né? Às vezes queremos ouvir simplesmente algo como “se eu estivesse no seu lugar, me sentiria da mesma maneira, isso dói, isso chateia, mas de repente…”, aí a coisa envereda pela mensagem positiva.

Descartar o sentimento alheio é das piores reações que podemos ter quando o outro busca consolo. Não seria diferente com as crianças. Empatia é ser compreendido pelo nosso ponto de vista. É a verdadeira compreensão, diz a autora. É mais do que mera simpatia. É sobretudo não tentar negar o sentimento do outro.

Em vez de sabotar o escuro com um comentário tipo “bobagem ter medo do escuro porque não tem nada lá”, uma história que resgate a criança que fomos e como superamos o nosso medo da escuridão surtirá mais efeito. Para refrescar minha memória, reli o capítulo do livro que trata do assunto e deixo aqui um trecho que considero muito bom. Usem à vontade.

A empatia é uma prova vigorosa de interesse. Quando você deixa de lado, temporariamente, o seu ponto de vista para estar com seu filho, você demonstra um respeito fundamental por ele, tratando-o como um indivíduo à parte, cujo ponto de vista pessoal tem importância. A empatia diz ‘a maneira pela qual você vê as coisas é importante para mim. Vale o meu tempo e esforço para estar com você em seus sentimentos. Eu realmente quero compreender como você é, porque eu me importo (…)’. A empatia tem importância fundamental para que as linhas de comunicação fiquem abertas. As crianças deixam de falar quando se sentem sempre incompreendidas.
 
Pensando bem, não está aí a base das grandes amizades?
 
 
Isabel Clemente
 

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