23 de outubro de 2010

Por trás do fim de um relacionamento


O escritor Albert Camus disse que o suicídio era a grande questão filosófica do nosso tempo. Parafraseando, eu diria que o fim dos relacionamentos é a grande questão da vida afetiva moderna: por que as pessoas se separam? Por que tantos de nós fracassam em manter relações estáveis e duradouras? Por que num mundo repleto de possibilidades de encontros há tanta gente sozinha? 

Outro dia, dei de cara numa festa, inesperadamente, com uma ex-namorada de enorme importância. Ela estava com um homem mais alto, mais jovem e mais bonito do que eu. Parecia feliz. Dias depois, encontrei num restaurante outra das poucas mulheres que marcaram a minha vida - dessa vez com a família, a mesma que eu costumava freqüentar. 

Rever essas duas mulheres, vê-las seguindo tranqüilas o fluxo da própria existência, me fez pensar sobre o que havia levado à separação. A conclusão, simples e chata, é que não aconteceu nada. Não houve crime, traição, abandono, tragédia, fatalidade, drama, gritos, morte, nada. Se eu tivesse de apontar a causa mortis diria... O que eu diria mesmo? Não sei. 

Sei que as pessoas parecem se cansar umas das outras. Perdem o interesse. Elas se distraem, desafinam entre si. Não sentem mais tesão e logo deixam de sentir alegria. O outro deixa de ser uma surpresa para se tornar uma repetição. O sonho empalidece, os planos nublam, chove. Quando se perde o amor, chove. 

Quando a gente fala dessas coisas é comum que as pessoas perguntem: quem acabou, você ou a fulana? Isso costumava ser a coisa mais importante do mundo. Afinal, quem leva o pé na bunda carrega o ônus da rejeição. Dói e dói muito. Mas hoje, mais experiente, isso me parece de importância secundária. Não interessa a quem cabe o gesto final - o fato importante é que acabou. Os dois perderam, de novo, a oportunidade de serem felizes. É uma espécie muito concreta de fracasso que muitos de nós experimentamos seguidamente. 

Da minha parte, eu tenho feito um esforço danado de entender o que nos separa. Já tive dois casamentos e, como dizem os mexicanos, o terceiro é o que conta. Estou me preparando: duas sessões de análise por semana, esta troca semanal com vocês (que ajuda imensamente a entender o que eu penso e sinto) e a exploração descarada da vida dos amigos – tudo que eles fazem me interessa, desde que venha contado em detalhes, desde que se possa aprender. 

O que eu aprendi até agora? É pouco, mas eu divido: 

1) Tem que ter compromisso. Estar com alguém vale a pena, ainda que seja uma pessoa por década, por ano ou por mês. Uma relação monogâmica ainda é o melhor jeito de aprender sobre o outro e sobre si mesmo. Mas exige atenção e dedicação. 

2) Se tiver problemas, converse. Homens não gostam de discutir a relação. Está errado. Nós somos criaturas tão complexas, tão neuróticas e tão infelizes que já é um milagre que convivamos socialmente sem nos matar o tempo todo. Como se vai dormir junto, comer junto e beijar a boca um do outro sem que pilhas de questões apareçam? Fale. A palavra salva. 

3) Quando o sexo fica chato, paciência – e imaginação. Lembre que você tem a sorte de viver no século 21 e que tudo (ou quase tudo) que você e sua parceira (ou parceiro) quiserem fazer, é permitido. Dentro e fora de casa. 

4) Quando o sexo ainda continua chato, escute, preste atenção na parceira. As mulheres, quando sentem que há espaço, são atrevidas e divertidas. Escute o que a sua mulher tem a dizer, sobretudo se ela falar baixinho ao seu ouvido. 

5) Quando encontrar em público as pessoas que já foram importantes para você, seja gentil. Você é o resultado direto da vida com seus parceiros. Do carinho, das risadas e dos gritos com eles ou elas. Isso é muito mais importante do que lembrar quem levou o pé no rabo. 

Ivan Martins

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