26 de novembro de 2010

Mortos que brilham



Antigamente a gente dizia assim: “Quem é vivo sempre aparece”. Agora seria melhor reformular o ditado popular para a seguinte versão: “Quem é morto nunca desaparece”. Isso se o morto for famoso, porque, vive só quem morre na glória. Nos últimos anos, temos nos maravilhados cada vez mais pelo culto dos mortos célebres, em especial os recentes.

Mais do que nunca, os vivos consomem os mortos, deliciam-se com o sentimento de que sobreviveram a eles, de que ainda estão por aqui para festejar o espetáculo da finitude. O fenômeno sempre existiu com variantes de quando e lugar. Os fantasmas nos divertem, porque eles já não oferecem perigo, já não apresentam novidades nem decepcionam. Já se converteram em um ícone a ser venerado.

Neste momento, os mortos oferecem o maior e mais lucrativo espetáculo da Terra. Desde sua morte súbita, Michael Jackson faturou pelo menos US$ 100 milhões e se tornou novamente o maior astro pop da atualidade. Vendeu 5 milhões de CDs e quase 9 milhões de downloads de suas músicas foram feitos na internet. Se alguém fosse bater no túmulo de Michael, lá em Los Angeles, e perguntar se ele gostaria de ressuscitar, ele sacudiria a cabeça num movimento de euforia – e assim iria de encontro à famosa declaração de Schopenhauer: “Vá bater nos túmulos e perguntar aos mortos se querem ressuscitar: eles sacudirão a cabeça num movimento de recusa”.

Mas talvez o sábio alemão tenha razão. Caso os mortos pudessem voltar para ver o sucesso que estão fazendo, talvez perdessem o cartaz. Os mortos de verdade, os famosos, nunca morrem, porque a tecnologia os torna eternos. A princesa Diana, que se foi em 1996, continua até hoje a receber mensagens de condolências, como se essas tivessem de ser enviadas aos mortos e não aos seus entes queridos vivos.

O ator Heath Ledger, que morreu aos 28 anos em 2008, talvez não tivesse ganhado o Oscar por seu papel como Coringa no filme Batman – o cavaleiro das trevas. E talvez o filme não houvesse chegado a uma bilheteria de US$ 1 bilhão, se ele já não fosse o astro póstumo. Segundo a revista Forbes, ele se tornou um dos grandes milionários post mortem; só perdeu Elvis Presley que tem a seu favor os royalties sobre as suas canções, além dos objetos colecionáveis e outros produtos enviados ao mundo inteiro de Graceland, hoje parque temático com lojinha.

Eis aí o eterno ex-beatle John Lennon – revivido em música por Yoko Ono, que resolveu ressuscitar a Plastic Ono Band. Ele faturou nos últimos meses US$ 9 milhões com as vendas do game The Beatles: Rock Band. Marilyn Moroe continua fazendo sucesso 50 anos depois de sua morte – e arrecadou este ano US$ 6,5 milhões só com a venda de sua imagem para campanhas publicitárias.

No Brasil, o músico Renato Russo virou uma espécie de santo das vendas de material bruto de sua banda Legião Urbana, e continua a arrecadar milhares de reais mensalmente. Talvez se os argentinos fundassem um parque conceitual da recentemente falecida cantora Mercedes Sosa em Tucumán, sua cidade natal, talvez conseguissem repetir o fenômeno do sucesso fúnebre na América do Sul. O culto portenho ao cantor Carlos Gardel rende dividendos desde que o avião em que estava explodiu, em 1935. Che Guevara é o líder dos colecionáveis latino-americanos, sua camiseta ainda é um hit, e Evo Morales está lançando o diário do guerrilheiro na Bolívia.

O método do marketing póstumo tem-se popularizado, agora entre os moribundos sedentos de notoriedade. São eles que tomam voluntariamente a atitude de se lançar à aventura da posteridade de ouro. Farrah Fawcett se expôs em um documentário para a televisão, que mostrava o progresso de seu câncer. Foi tanto sucesso que agora vai ganhar uma sequência, finalmente com o epílogo. O astro Patrick Swayze também frequentou as manchetes e foi alvo dos paparazzi nos momentos finais de sua doença; planejou também lançar um livro logo que morresse. E acaba de sair nos Estados Unidos The time of my life, feito em parceria com a mulher, Lisa Niemi, que já está na lista dos mais vendidos.

Luís Antônio Giron

Um comentário:

jerry lee leiber disse...

elvis he is gone but the most important for us is your soul who live here and forever