7 de dezembro de 2010

Devolvam nosso sol



Sol, no domingo você não me escapa. Consultei a previsão do tempo e estou confiante de que o dia será lindo em São Paulo.Vou estender uma toalha na grama do Parque Villa-Lobos, pegar um livro e aproveitar o solzinho fraco de outono. Nessa época do ano, meu corpo grita por sol. Não consigo passar muitos dias sem ele. Deitar no chão, sentir o calor da terra e a luminosidade que vem do céu vai recarregar minhas baterias depois de semanas de trabalho duro. Para mim, sol é vital. Principalmente nas estações mais frias.

Sol faz bem à saúde. Por que, então, querem nos privar dessa delícia como fizeram com o prazer sublime de furar a gema de um ovo frito? Durante décadas fomos aconselhados a evitar as gemas, terríveis depósitos de colesterol. Recentemente estudos demonstraram que elas não fazem tanto mal assim. O prazer foi absolvido. E quem nos trará de volta os anos de abstinência? Merecemos uma indenização, como lembra o escritor Luis Fernando Veríssimo na deliciosa crônica Ovo.

Acho que vai acontecer coisa semelhante com o sol. Nos últimos anos, ele virou um demônio a ser exorcizado. Para evitar câncer de pele e rugas precoces, ouvimos que é preciso usar protetor solar no verão e no inverno. No corpo e no rosto. Todos os dias. O radicalismo corre solto. Nenhuma mulher vaidosa sai de casa sem antes besuntar o rosto com camadas generosas de protetor solar (não usam produtos baratos, desses de levar para a praia. A onda é usar uns creminhos franceses, caros pra chuchu, que já vêm com protetor solar).

De onde veio essa cultura de aversão ao sol? É verdade que em excesso ele provoca câncer de pele. Trabalhadores rurais, pescadores e outros profissionais que passam o ano inteiro expostos ao sol estão mais sujeitos à doença. Mas a média nacional de exposição ao sol é bem inferior a isso.

Cuidados exagerados fazem mal à saúde. Crianças precisam de sol, adultos precisam de sol, velhos precisam de sol. Ele é fundamental para a produção de vitamina D. Nossa pele fabrica uma substância que precisa da radiação ultravioleta do sol para transformar-se em vitamina D. Ela favorece a absorção de cálcio que, entre tantas outras funções, mantém os ossos fortes.

Pesquisas recentes revelam que a maioria dos tecidos de nosso corpo é equipada com receptores de vitamina D. Isso sugere que a substância pode estar envolvida em várias funções. Alguns estudos apontam que a vitamina D ajuda a evitar o câncer, embora as conclusões desses trabalhos sejam questionáveis. Aparentemente, a vitamina D ajuda a nos proteger contra os tumores de intestino e talvez contra os de mama e próstata.

Do jeito que a coisa vai, em pouco tempo estaremos nos entupindo de suplementos. A cada ano, os especialistas elevam os níveis ideais de ingestão diária de vitamina D. Os bebês, que antes tomavam um solzinho matinal para produzir a substância naturalmente, agora precisam tomar os suplementos. Eram felizes e não sabiam.

Gostei da mensagem do professor de medicina Michael Holick, da Universidade de Boston. Ele reconhece a importância dos suplementos casos, mas não exclui a contribuição do sol. Recomenda que as pessoas se exponham ao sol sem exagero. As pernas e os braços devem estar descobertos e sem protetor solar. Antes que exista o risco de queimadura, no entanto, a pessoa deve se cobrir com roupas e aplicar o protetor solar.

Vou seguir a recomendação. Pela minha saúde e por puro prazer. Sol faz bem para o corpo e para a mente. A humanidade, na maior parte de sua história, viveu ao ar livre, absorvendo a luz ultravioleta do sol. Ao longo dos séculos, fomos migrando para a sombra até virar os ratos de escritório que somos hoje. Essa carência crônica nos torna sedentos de sol. No domingo, vou correr para o abraço.

Cristiane Segatto

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