18 de dezembro de 2010

O passado não existe. Aliás, o passado, nem passado é



Essa frase pode resumir, minimamente, a mudança de paradigma existencial que a febre das rede sociais tem causado na vida das pessoas ao redor do mundo.

Nesta época, em que as ditas “redes de relacionamento” (Orkut, Facebook, Twitter, entre outros) são parte inerente ao nosso convívio em sociedade, podemos dizer que passado, presente e futuro (por que não?) coabitam diariamente.

Estão todos ali, no nosso constante e crescente álbum de figurinhas virtual: colegas de jardim de infância e da faculdade, ex-namorados, amigos do curso de inglês, recém parceiros de trabalho, futuros chefes, os “semi-conhecidos” (que nunca lembramos quem são), amigos virtuais por afinidades, familiares e por aí vai.

Todos postando seus vídeos preferidos, suas fotos de viagens de férias, fazendo testes de autoconhecimento, falando sobre baladas e restaurantes degustados, sugerindo links e mesmo curtindo e interagindo aleatoriamente os nossos próprios uploads, avatares e tweets.

Faz tempo que não se escuta a expressão: “E fulano, por onde anda?” Antigamente, as pessoas simplesmente desapareciam do nosso convívio, pareciam sucumbidas pelas camadas terrestres ou mesmo transportadas a outra dimensão. Hoje, temos múltiplas escolhas. O que houve com aquele colega da quinta série do colegial?

1. Está morando em Buenos Aires e agora tem uma banda de sucesso
2. Casou semana passada e passou a lua de mel em Aruba
3. Está desempregado e me adicionou no Facebook


Ninguém mais faz uma viagem (só de ida) ao Triângulo das Bermudas – sem que isso seja devidamente documentado e compartilhado em seu Flickr. Todos estão presentes. Todos estão ativos, ou melhor, online. Nem que seja debatendo sobre a guerra do tráfico no Rio, falando sobre o novo programa de TV, estreia de cinema ou o último show que compareceram.

Se você desconhece o destino de alguém, pare para dar um “search” em seus contatos. Provavelmente, um, dois ou três amigos vocês terão em comum. Basta um pouco de curiosidade mórbida, combinada ao tempo livre no trabalho e “bingo!”

Até aí, tudo passa indolor: saber que o bonitão do colégio está gordo e careca, ou mesmo que o nerd vítima do bullying adolescente é um grande executivo de uma grande empresa. Tudo tornou-se uma grande telenovela a ser acompanhada, e em tempo real, diga-se de passagem.

No entanto, e os relacionamentos amorosos? Como esquecer alguém que postou uma foto há meia hora tomando sol em Floripa ou mesmo curtindo uma festa de Halloween em Londres? Como manter o passado em algum lugar obscuro e inóspito, se as cenas dos próximas capítulos nos são anunciadas como chamadas na telona?

A pergunta que fica é: como abrir espaço para novas experiências, quando se é bombardeado constantemente por atualizações do passado? Creio que as novas gerações já venham com um tipo de HD externo para armanezar tantas informações.

Malu Porto 

Um comentário:

Adriana Alencar disse...

A avalanche de informações que nos bombardeia diariamente pode ser prejudicial e até retrógrada como o artigo sugere mas, assim, como nos adaptamos a essa convivência virtual, podemos criar mecanismos de defesa e selecionar quem desejamos contatar com mais frequência e fazer da tecnologia nossa aliada, não um fator estressante e que nos deprime.
Excelente texto!
Beijo
Adri