3 de janeiro de 2011

Promessas de ano novo: são válidas?



Sei que esta segunda-feira já é o terceiro dia de 2011, mas não resisti a voltar ao tema depois de topar com um artigo sensacional da jornalista Kathryn Schulz, autora do livro Being Wrong: Adventures in the Margin of Error (“Errando: Aventuras na Margem de Erro”), uma espécie de catálogo dos tipos de erros humanos e da importância deles para a evolução do conhecimento e da sociedade. Se alguém ainda não tomou nenhuma resolução para 2011 ou desistiu de tomar porque achava perda de tempo se comprometer com o que não vai conseguir cumprir, seguem aqui algumas conclusões do livro.

As resoluções não são estúpidas, absolutamente. Elas são, porém, erradas – na maioria das vezes. Especificamente, elas representam uma distinta, importante e estranhamente inspiradora categoria de erro - que pode ser chamada de ‘erro como otimismo’.

O erro como otimismo não fica adormecido durante o ano todo para aparecer, de fininho, no dia 31 de dezembro. Pelo contrário, ele está conosco o tempo todo. O erro como otimismo é a razão pela qual você coloca na mala três volumes de Proust para passar férias de duas semanas. É o motivo para o meu vizinho jurar que acabou de fumar seu último cigarro. É por que eu fui dormir ontem à noite pensando que eu poderia acordar cedo esta manhã, ir para a academia, estar de volta às nove e terminar este artigo no início da noite.

Na verdade, o erro como otimismo é um tipo de erro sem o qual não podemos viver. Na maioria dos domínios de nossas vidas não queremos que a fé cega substitua os fatos. Mas quando se trata do terreno lodoso da nossa noção sobre nós mesmos, todos nos servimos de uma boa dose de ilusão. Um pouco de auto-ilusão ajuda a afastar o desespero existencial. É por isso que a sua antítese – a falta de fé que nossas vidas vão melhorar no futuro – é um sinal clássico de depressão.

Há uma segunda razão pela qual não podemos viver sem o erro como otimismo. Os seres humanos não podem se tornar alguma coisa sem, primeiro, fingir sê-lo. Nossas resoluções não são falhos atos de nossa vontade, mas bem-sucedidos atos de nossa imaginação. Você não vai entrar no programa de doutorado e perder 10 quilos apenas porque assim resolveu. Mas você tem muito mais chances de falhar – e se sentir emocionalmente pobre – se você nunca sonhar com essas coisas em primeiro lugar.

É por isso que nossas resoluções, até as mais fantasiosas, são para mim a melhor maneira de começar um novo ano. Elas nos fazem entrar em contato com todas as versões fantasmas de nós mesmos, aqueles fantasmas reversos que assombram nosso futuro, esperando para tomar o nosso corpo. Assim como as outras formas de erro como otimismo nos ajudam a sair da cama de manhã depois de um dia terrível, nossas resoluções nos impulsionam para um ano novo mais uma vez cheios de esperança de que podemos ser pessoas melhores nos dias que virão.

É muito importante ter um objetivo específico, atingível, viável. Mas, se, por acaso, no final de 2012, nos dermos conta de que nossas resoluções de agora nunca saíram do plano das ideias, podemos estar cientes que as resoluções aumentam nossa chance de tornar algo real – é preciso primeiro sonhar para, depois, fazer – e mostram que continuamos tendo fé que podemos melhorar.
Letícia Sorg

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