15 de janeiro de 2011

Tudo que eu queria te dizer: cartas no palco




Tudo que eu queria te dizer é um livro de sucesso da escritora Martha Medeiros, lançado há dois anos. Vendeu mais de 100 mil exemplares. Cada capítulo é uma carta, escrita por alguém num momento de desespero, de limite. Agora os dramas desses personagens ganharam corpo com o espetáculo teatral que leva o mesmo nome, e é protagonizado por Ana Beatriz Nogueira. Sozinha no palco, ela se desdobra em várias mulheres e interpreta as cartas do livro – num apresentação que ela chama de stand up book.

No palco, sem cenário, Ana Beatriz, usando apenas uma roupa preta, se transforma a cada personagem. Uma senhora viúva escreve uma carta para o marido morto, falando dos males da velhice e da saudade que sente. A amante de um homem casado escreve para a mulher traída. Uma mulher escreve para a amiga sobre as informações fatais que recebeu de uma cartomante. O tom é dramático e por vezes cômico. E sempre emociona.

É o primeiro monólogo desta atriz, que estreou na carreira há 25 anos, no longa-metragem Vera. Seu papel, de uma moça que queria ser homem, a levou a ganhar o Urso de Prata em Berlim, entre outros festivais nacionais e internacionais. Fez outros filmes e novelas, na televisão.

Não é à toa que Ana Beatriz rima com atriz. Ela atua de forma muito especial, em qualquer palco ou tela. Mesmo assim, conta que teve medo ao enfrentar o desafio de estar sozinha em cena. Em Tudo que eu queria te dizer, ela é dirigida por Victor Garcia Peralta, um diretor sensível que esteve por trás de outros projetos, como, por exemplo, Se os homens são de marte, é pra lá que eu vou, com Mônica Martelli. Os dois combinaram de escolher seis cartas do livro para levar ao palco. Cada um escolheria as suas e depois mandaria para o outro. Coincidentemente, escolheram as mesmas. Há muitos anos os dois sonhavam em trabalhar juntos. O resultado é excelente.

A preparação para o monólogo foi diferente da usual. Em outros tipos de espetáculo o texto vai sendo decorado na experimentação do personagem. Dessa vez, decorar e ser fiel ao texto era a primeira providência. Nas cartas, não existe a pessoa inteira. É uma parte dela, num determinado momento. A atriz diz que se emociona a cada vez que interpreta as cartas. Cartas que ficaram para trás em tempo de internet, e-mails, twitter. Ana Beatriz ainda guarda, em pastas, cartas de amigos. “Por volta dos 20 anos, morei fora do Brasil, depois tive muitos amigos que moraram em outros países também. Havia uma intensa correspondência entre nós. Às vezes, releio essas cartas e é interessante ver o que eu pensava e o que eles pensavam”, diz.

É impossível assistir ao espetáculo e não sair pensando nas cartas que já mandamos e recebemos. E, talvez, nas que ainda gostaríamos de mandar, usando a tradicional tecnologia da caneta sobre o papel.
 

Martha Mendonça 
 
 

Nenhum comentário: