Se em um momento de chegada, saudações cordiais são deliciosamente compartilhadas, e as mais entusiasmadas disposições se voltam àquele instante em que o reencontro a todos brinda a presença, as expectativas - um pouco discretas, talvez - são dos melhores e mais exaltados porvires, pois, por mais óbvio que possa parecer, vale destacar que com certa inocência as melhores expectativas são associadas a recomeços.
Inicialmente, há a felicidade do reencontro, alegria, contentamento: uma verdadeira celebração merecedora de todos os registros disponíveis e possíveis, afinal, a chegada é tão deliciosa e especial. O reencontro nos informa que é mais que um ponto de chegada -embora a motivação comunique que está mais para ponto de partida- vez que a própria palavra já informa que a confluência ou reunião é um evento resultante de junção anterior. É um encontro que se repete, e a inocência e a pureza inerentes ao momento da pura satisfação de "reencontrar", exclui e afasta qualquer consideração de ordem negativa ou de pesar da sequência desse evento. É, do mesmo modo, um ponto de partida, pois sucede um evento que justifique a recorrência da reunião.
Chegada e largada, pois frente ao desconhecido que se descortina diante de cada partícipe dessa interessantíssima combinação, há os roteiros que se desenrolam à medida que a jornada segue. De que tratamos neste texto, exatamente? De uma reunião, de uma festividade, do nascimento?
Sim é a resposta: sim para todas as possibilidades de chegada e de partida. E o destaque não se destina ao que se finda ou que se reinicia, pois tudo o que é experienciado, o fazemos em ciclos, e o movimento cíclico não tem um começo ou fim, é, em sua própria natureza, parte de um todo que só se fraciona para ser bem capturado e entendido pela compreensão. A segmentação, a quebra, a separação satisfaz o entendimento racional, mas o coração "entende", assimila e o Ser percebe: não existe separação (o que o intelecto separou para compreender a experiência une para participar). Assim, chegada e partida são igualmente importantes e estimulantes ao regozijo e ao contentamento compartilhado.
O foco de muitas ações está na partida e, principalmente, na chegada. A ação está condicionada à recompensa de todo esforço empreendido ao caminhar rumo à realização daquilo que foi definido, e que justificou todo empenho, sacrifício, suor e lágrimas. Não há recompensa na chegada, nobres amigos, eis o alerta. A chegada é tão somente um ponto de partida. Temos inúmeras provas coletadas ao longo da vida: metas profissionais, acadêmicas, sociais, econômicas; objetivos bem definidos e sustentados pela motivação de serem os depositórios da felicidade. Todos aqueles que realizam suas definições e objetivos bem sabem que o caminho foi desafiador, em maior ou menor grau quando comparado a outros caminhos, mas foi muito mais gratificante e realizador do que a chegada, o objetivo. Somos impulsionados para seguirmos além. Não há felicidade em algum lugar ou condição, senão na própria experiência presente, e esta, é a própria caminhada agora.
O caminho é toda a fonte de realização de que necessitamos, e quanto mais em harmonia com a ação consciente e pacificada estivermos -quando mais dispostos a viver meios como meios e ao Todo oferecermos nossa disposição de aprendizes e servidores-, quanto mais conscientes de que a plenitude não será encontrada em nenhum lugar chamado de "lá" e em nenhum tempo chamado de "depois", e que todo o sentido que pode ser buscado para a ação está contido na própria relação com a ação, ou seja, o caminho comunica ao caminhante o que é necessário para o momento, mais e mais bem aventurança será experienciada.
Pontos de partida e pontos de chegada são somente referências e oportunidades de mais e mais celebração da existência. O entusiasmo com que algo começou, ou mesmo com que um reencontro foi brindado, ensina-nos a fazermos e a sentirmos o mesmo quando algo termina, com os pontos de chegada, com as despedidas. A história pode começar empolgante e muito estimulante, mas a obra será lembrada principalmente pelo modo com que seu desfecho se deu. Ao final e às despedidas nossas alegrias podem ser bem dirigidas, afinal, uma estória que é encerrada, com toda certeza é somente o início fantástico e promissor de uma nova estória.
Compreender os ciclos em nossas vidas, como que as águas em suaves ondas que chegam às areias da praia; sentir nossa existência como um fluxo contínuo e deliciosamente harmonioso quando nos permitimos a sintonia com o fluxo maior, é o modo mais simples e praticável de vivermos nossa plena capacidade de experienciamos o milagre da renovação em vida. Eis a receita desta ocasião, amigos leitores, para o contentamento e a paz realizáveis agora: "inícios e partidas, reencontros e despedidas, ciclos, fluxo: nós já somos o que necessitamos e o restante é complementação. Vamos carregar conosco, com motivação e ânimo renovado o lema 'existir' é o caminho da realização".
Marcelo Hindi
Um comentário:
a vida é a arte do encontro embora hajaa tanto desencontro pela vida
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