15 de junho de 2010

O falar brasiliense





Cinquenta anos é pouco tempo para se formar um sotaque, mas, de acordo com linguistas, já existem tendências perceptíveis no modo de falar brasiliense. Na cidade que recebeu sotaques de todo Brasil, uma das tendências mais fortes é a perda das marcas mais características dos modos de falar de cada região.

Mesmo com pouco tempo, a curva melódica já está presente. Na fala de Brasília, não há traços muito marcados de outras regiões. O que era bem característico na fala dos que vieram para cá já não está presente na fala dos próprios filhos. As gerações de brasilienses,que hoje somam cerca de 50% da população do Distrito Federal, nãoproliferaram as marcas mais conhecidas do sotaque do país.

Não se encontra na fala do brasiliense, por exemplo, o chiado do carioca e de outras cidades litorâneas que conviveram muito tempo com os portugueses. O “s” é pronunciado à mineira. Não há a ênfase e as interjeições dos gaúchos. Os erres puxados dos goianos, mineiros do sul do estado e do triângulo desapareceram da fala dos filhos da capital. Também não se tem as vogais abertas dos baianos, nem o típico “t” e “d” dos pernambucanos e paraibanos.

Mas, já se percebem diferenças no falar das comunidades que moram no Entorno do DF e de quem vive no Plano Piloto, e ainda de quem teve acesso à escola. A questão do rural para o urbano também é muito relevante, pois Brasília foi construída em uma área de rica e tradicional cultura rural, com a qual a cidade rompe na medida em que ela própria representa a urbanização. A cidade, de fato, foi fundada em um período em que o Brasil todo experimentava uma rápida transição de um modus vivendi rural para o urbano.



O falar dos mais jovens ainda está repleto de expressões que funcionam como um fator de identificação. Entender a letra da música Eduardo e Mônica, de Renato Russo, por exemplo, seria possível apenas para os “iniciados” no "português candango". Só em Brasília se anda de camelo (bicicleta) ou se pega um baú (ônibus). É aqui também que a meninada jovem chama os amigos de “véi”.

A própria arquitetura também emprestou ao “falar candango” expressões que só fazem sentido no glossário da capital federal, onde “fazer uma tesourinha” significa para o motorista retornar utilizando o conjunto de retornos nos cruzamentos em forma de trevo entre as superquadras.


Fonte: Agência Brasil
Edição: Lena
 

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