Ele deita cedo, bem na hora em que ela está a toda, disposta e animada para puxar conversa, fazer planos para o dia seguinte e programar a saída com amigos no final da semana ou um passeio com os filhos. Sonolento, ele mal ouve o que a mulher diz. De manhã, a cena muda e os papéis se invertem. Ele canta no chuveiro, liga o rádio alto para ouvir as últimas notícias, reclama dos impostos e do chefe rabugento, enquanto ela permanece muda, sem entender como alguém pode ter ânimo para falar tanto e tão cedo.
Essa incompatibilidade de disposição e desempenho atribuída ao ciclo sono/vigília reflete o ritmo biológico de cada indivíduo e não depende somente de fatores ambientais, como o dia e a noite, as estações do ano ou o horário de verão.
Ele é regulado por um relógio interno, inerente aos seres vivos, que comanda não só essa, mas outras funções do organismo, respeitando um ritmo, que se repete aproximadamente a cada 24 horas, como o controle da temperatura e da pressão arterial, a produção de hormônios, a sensação de fome, a atividade dos rins, digestiva e dos intestinos, por exemplo.
Segundo a Cronobiologia todos possuem relógios internos que determinam seus ritmos biológicos. Já foram descritos os genes envolvidos nesse processo que tem implicação em vários campos e explica, por exemplo, por que algumas pessoas - “as cotovias genéticas” - preferem acordar e dormir cedo e funcionam melhor nas primeiras horas do dia, enquanto outras - as “corujas genéticas” - funcionam melhor à noite e, por conseguinte, acabam deitando e levantando mais tarde.
Mudanças bruscas que afetem o ciclo sono e, conseqüentemente, os demais ciclos biológicos a ele associados, promovem uma dessincronização entre o relógio interno e os indicadores temporais externos e a pessoa precisa de algum tempo para readaptar-se às condições ambientais no que se refere aos horários de dormir, de comer, do esvaziamento dos intestinos e da bexiga e da produção de hormônios como a melatonina, o cortisol, a prolactina, e do hormônio do crescimento.
Trabalho noturno ou em turnos, plantões médicos ou de funcionários de empresas que prestam serviço à noite e muitas horas de vôo atravessando vários fusos horários são responsáveis pela dessincronização, um distúrbio que provoca sonolência fora de hora, cansaço, alteração do humor, queda do rendimento físico e mental.
Afirmam os cronobiologistas que respeitar os horários em que as funções orgânicas se processam segundo as características desses relógios ajuda a manter o organismo mais saudável, deixa a pessoa mais disposta e melhora seu desempenho intelectual. Defendem também que desrespeitá-lo pode ter implicações no risco de desenvolver certas doenças: depressão, diabetes e doenças cardiovasculares, por exemplo.
As vantagens, porém, extrapolam o campo da saúde. O casal que “não acerta os ponteiros” por causa das diferenças individuais, no ritmo do relógio biológico pode descobrir uma forma de viver com menos conflitos e mais harmonia e entendimento.
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