17 de agosto de 2010

Superficiais?




A grande polêmica da internet recentemente girou em torno do último livro do jornalista Nichoals Carr, “The shallows” ( “Os superficiais”). O autor é acostumado a fazer barulho: em 2003, ele chacoalhou o campo de sistemas de informação ao defender que Tecnologia da Informação tinha virado algo tão comum que não trazia mais vantagem competitiva a ninguém. Agora, a bomba da vez é que a internet está nos tornando menos profundos.

O resumo é que cada novo meio estimula uma habilidade em detrimento das outras. Jogar videogame, por exemplo, estimula a nossa capacidade visual, mas não tanto a nossa habilidade de leitura. Os nossos atuais hábitos digitais – de pular de página em página na internet e de acessar simultaneamente celulares, TVs, emails e textos – amplia a nossa capacidade de prestar atenção em várias coisas ao mesmo tempo. Mas, por outro lado, diminui a nossa concentração e a habilidade de pensar profundamente em um tema. Em outras palavras, estamos nos tornando mais superficiais.

O livro gerou já um bocado de respostas interessantes. Uma delas veio de Clay Shirky, da Universidade de Nova York, que acredita que é ainda muito cedo para afirmar isso: a internet está há no máximo 15 anos na vida das pessoas, e a “superficialidade” é apenas um sintoma que em breve será remediado. Estamos lidando com a cultura de livros há séculos, e criamos meios de cultivar modos de sermos profundos. Na internet, essas técnicas ainda precisam ser desenvolvidas.

Já o neurocientista Steven Pinker lembra que todo novo meio de comunicação criou pânico ao chegar: acreditava-se, por exemplo, que quadrinhos e videogames iam corromper crianças. E de fato o uso das mídias nos torna melhores em algumas habilidades, mas só nela: ouvir música não aumenta nossas habilidades em matemática, por exemplo. O resultado final é que, apesar de tantos Twitters e Facebooks, sempre teremos a capacidade de sermos profundos assim que encontrarmos tempo para nos desligar de interrupções e refletir um pouco.

Mas… será que é fácil achar esse tempo hoje em dia?

Rafael Kenski
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