Quem já teve oportunidade de namorar a mesma mulher com intervalo de alguns anos sabe: as pessoas melhoram. As duas pessoas. O sexo fica mais intenso, as conversas ganham outra densidade, a vida torna-se mais simples e o convívio, mais confortável. Aquilo que na juventude é problema chega ao futuro resolvido. É como se as pessoas parassem de ensaiar e se aproximassem, afinal, do seu papel verdadeiro na vida. Relaxam e desfrutam.
O prazer é resultado da experiência repetida e da segurança adquirida. E essas coisas crescem... com o tempo. Apenas a passagem do tempo é realmente capaz de simplificar coisas que na juventude parecem totalmente misteriosas ou inacessíveis. Como sexo e prazer.
Falo disso porque tenho a impressão de que as pessoas estão vendo o tempo sob uma única dimensão: a do envelhecimento. Tempo virou sinônimo de “tudo caído”, papada e rugas. Tempo só nos enfeia e nos debilita. No fim da linha, nos mata. É o inimigo. Um pesadelo que se mede em tic-tacs do relógio, do qual se foge permanentemente. Mas será mesmo isso?
Acho que não. Assim como o prazer, que cresce com o tempo, outras dimensões fundamentais da existência se tornam melhores à medida que o tempo passa. Sem pensar muito, me lembro de uma, importantíssima: a capacidade de lidar com as pessoas e com as situações. A falta de traquejo social dos jovens é um fardo horrível. Ela produz angústias e equívocos em quantidades astronômicas. Ainda bem que passa.
Outra coisa que melhora com o tempo é a autocrítica. Uma das melhores coisas da vida é deixar para trás o sentimento agudo de inadequação e começar a gostar de si mesmo, ainda que moderadamente. Eu, por exemplo, gosto mais de mim hoje do que gostava aos 20 anos, embora hoje tenha uma percepção muito clara das minhas limitações e dos meus talentos. Acho que acontece assim com boa parte das pessoas.
E a gente melhora também no terreno das ideias. A coisa toda vai ficando menos óbvia, verdadeiramente interessante. A gente já viu uma coisa e outra e as leituras e vivências começam finalmente a convergir na direção do entendimento. Desaparecem a certeza dogmática e as respostas automáticas. Em algum momento vem um vislumbre de sabedoria que sugere uma compreensão maior das coisas no futuro. Das coisas e das pessoas.
Claro, aos 20 anos eu era mais bonita, mais esperançosa e a vida era mais divertida. Aos 30 eu fazia tudo o que queria. Era assim mesmo? Frequentemente eu tenho impressão de que as pessoas fazem uma leitura quantitativa do próprio passado. Eu saía mais, transava mais, fazia mais coisas... Mais ou melhor?
Por outro lado, tenho certeza de que a vida continua. E que a gente vai tendo experiências únicas e construindo memórias indeléveis, apesar do tic-tac do relógio. A cada par de semanas, meses, anos, vivemos momentos únicos de ternura e de prazer. E eu suponho que eles são ainda mais ternos e mais prazerosos porque nossa cabeça é melhor do que era uns anos atrás. Porque nós sabemos mais. Porque melhoramos.
Um dos problemas que eu percebo em mim e nas pessoas é o desejo de congelar a existência. As pessoas repetem comportamentos e perseguem sensações que já deveriam ter ultrapassado. Muitos de nós, por exemplo, tentamos desesperadamente manter o corpo, as emoções e o comportamento de uma pessoa de 20 anos (embora tenhamos, 30, 40, 50 ou 60) e “todo mundo” acha mais ou menos normal. Mas não é, né?
A vida exige renovação de repertório.O passado está aqui, a vida continua. E o tempo, de alguma forma, está do nosso lado.
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Um comentário:
Que maravilha, Lena!! É isso mesmo, a gente tem se aceitar com a beleza, a experiência e as marcas do passar do tempo. Isso torna a vida muito mais fácil e prazeiroza!
beijosssssss
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