13 de outubro de 2010

Nobel para Vargas Llosa





O escritor peruano Mario Vargas Llosa, anunciado pela Academia Sueca como vencedor do prêmio Nobel de Literatura de 2010, é um dos nomes mais incontestáveis a receber a honraria em muitos anos. Um dos mais destacados representantes da geração do chamado “boom latino-americano” dos anos 1960-70, Vargas Llosa, 74 anos, nascido em Arequipa, mora hoje em Nova York e leciona na Universidade de Princeton, em Nova Jersey.

É autor de diversos romances que combinam sucesso de público com o respeito da crítica, como “A cidade e os cachorros”, “Conversa na catedral”, “A guerra do fim do mundo” (sobre Canudos), “Tia Julia e o escrevinhador”, “Pantaleão e as visitadoras” e “Travessuras da menina má”. Seu próximo romance, “O sonho do celta”, será lançado em breve. Sua obra vem sendo relançada no Brasil pela Alfaguara e uma coletânea de artigos e ensaios, “Sabres e utopias”, acaba de sair por aqui pela Objetiva, do mesmo grupo.

Nos ensaios literários deste livro, Vargas Llosa enfoca nomes como Jorge Luis Borges, Cabrera Infante e Jorge Amado, classificado por ele como o único escritor a merecer ir para o céu. Sua militância latino-americanista fica evidente, mas a literatura ocupa espaço subalterno no volume diante da atenção dispensada às memórias e reflexões sobre sua visão de mundo e carreira política: entusiasta de primeira hora da Revolução Cubana, Vargas Llosa caminhou nos anos 1980 para o liberalismo – o que contribuiu para indispô-lo de forma definitiva com um grande amigo de juventude e também escritor premiado com o Nobel, o colombiano Gabriel García Márquez. Em 1990, disputou a presidência do Peru e foi derrotado por Alberto Fujimori, o que o levou a abandonar a política partidária.

No texto em que fundamenta a escolha, a Academia Sueca destacou “sua cartografia das estruturas de poder e suas vigorosas imagens de resistência, revolta e derrota do indivíduo”. Isso não quer dizer muita coisa, mas o que veio em seguida sim: “Ele é um contador de histórias divinamente dotado”. De todo modo, se pode haver algum potencial de polêmica no anúncio, ele é apenas político. Não faltarão especulações sobre que tipo de sinal a Academia Sueca – que parece nunca deixar de levar tais aspectos em consideração, é verdade – quer enviar ao mundo.

Do ponto de vista estritamente literário, ganhou um dos grandes escritores vivos. Sua vitória é tão boa para ele quanto para o prestígio do próprio Nobel, quebrando uma sequência de seis anos em que haviam sido premiados cinco europeus – além de um turco, Orhan Pamuk. Desde a vitória de García Márquez, em 1982, um escritor sul-americano não levava o prêmio de 1,5 milhão de dólares.

Em declarações ao site do jornal espanhol “El País”, o escritor peruano disse que, a princípio, quando recebeu a notícia, julgou tratar-se de um trote. “Acreditava ter sido inteiramente esquecido pela Academia, nem mesmo sabia que o prêmio seria anunciado este mês”, disse. Declarando-se “muito comovido e entusiasmado”, acrescentou que o prêmio é um “reconhecimento à língua espanhola”.

Como nota curiosa, registre-se que as casas de aposta londrinas, que este ano nem previram o nome de Vargas Llosa, são mais uma vez as grandes derrotadas.


Sergio Rodrigues

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