28 de outubro de 2010

Osho: o guru dos novos tempos



No fim dos anos 50, um professor de filosofia chamava atenção na Universidade de Jabalpur, na Índia. As aulas do barbudo de gorro e óculos escuros, lotadas, eram as únicas em que homens e mulheres podiam sentar-se juntos e debater livremente. Chandra Mohan Jain, ou simplesmente Osho, causava polêmica principalmente com seus ataques às religiões tradicionais. Pregando a busca da liberdade através da meditação, ele conquistou uma geração de pessoas que buscava a espiritualidade sem ter de se comprometer com antigas crenças.

Seus livros - mais de 600 livros que são best sellers internacionais, traduzidos em 55 idiomas - editados a partir de palestras e entrevistas, oferecem novas interpretações de livros sagrados, líderes religiosos e sistemas políticos.

A abordagem de Osho traz elementos religiosos, especialmente no sentido de que o ser humano tem a capacidade de se iluminar e pode desenvolver seu potencial inerente. Esse potencial seria desenvolvido pela meditação, mas não com os métodos orientais, que segundo ele não surtem efeito no homem moderno e num mundo consumista. Para isso, Osho desenvolveu técnicas, como a meditação dinâmica, e reformulou outras objetivando a libertação do ser humano por práticas diversas das quais se apropriou como o zen-budismo, o tantrismo e o sufismo.

A trajetória espiritual de Osho começou aos 21 anos, com uma revelação. Ele conta que numa noite de março de 1953 foi acordado por uma energia forte em seu quarto, correu para o jardim onde meditava e viu tudo iluminado. Ficou três horas em estado contemplativo e sete dias sem falar. “Desde aquela noite, nunca mais estive em meu corpo.”

Formado em filosofia, Osho passou a dar aulas e a reunir nas universidades seus primeiros discípulos. A quantidade de pessoas que o buscavam era tão grande que em 1962 ele abriu um centro de meditação e começou a dar palestras ao redor da Índia. Em 1964, suas palavras foram publicadas em um livro, Caminho Perfeito. Dois anos depois, Osho abandonaria sua atividade acadêmica para dedicar-se exclusivamente à vocação de guru e passou a organizar acampamentos de meditação na zona rural do país.

Nos anos 70, Osho já tinha uma pequena multidão de seguidores e o movimento começou a ganhar as feições de uma religião. Em 1970, num campo de meditação, ele fez a iniciação formal do primeiro de seus discípulos – ou neosanias. Em 1971, ele mesmo mudaria seu nome para Bhagwan Shree Rajneesh – ou “Rajneesh, o senhor abençoado”, em sânscrito. Os neosanias adotaram rituais como vestir roupas vermelho-alaranjadas, um colar de 108 contas e um medalhão com a imagem do líder. Osho e seus seguidores mudaram-se para uma comunidade no parque Koregaon, em Puna, Índia, que se tornou um resort de meditação.

Em Puna, Osho aplicava métodos terapêuticos em workshops e dava palestras diariamente. Na época, Osho já tinha cerca de 400 livros publicados, somando um volume de texto maior que o da Bíblia ou do Alcorão. Em 1976, o complexo de Puna ganhou um edifício dedicado à produção editorial do guru. Os livros levavam a palavra de Osho para o mundo inteiro e cada vez mais ocidentais eram conquistados pela ideia de renunciar às repressões impostas por religiões, educação, governos, sem ter de abrir mão do mundo material.


Bianca Nunes

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