29 de novembro de 2010

Franco, o gato Ninja



Era quase meia-noite de uma quinta-feira, há cerca de quatro meses, quando encontrei um gatinho na entrada no condomínio onde moro, em Fortaleza. O miado era tão fraco, mas tão sentido, que me cortou o coração. Não teve jeito. Tive de socorrê-lo. Era só o couro e o osso e muita pulga.

Na época, já tinha em casa uma gata persa linda, a Valentina, uma “senhora” felina, calma, concentrada, toda cheia de si. Coitada se fosse invadida pelas pulgas do gatinho. Não tive escolha. Levei o filhote direto para a pia do banheiro, meti água com sabão, catei todas as pulgas. Ele só tremia de tanto frio. Talvez de tanto medo. Depois de muito bem secado com uma toalha, foi a vez de matar a fome e a sede. E olha que não eram pequenas. Coitado, foi desmamado só Deus sabe como, e jogado no mundo como um lixo.

Mas, milagres acontecem. Passada a fase de adaptação, o Franco, como foi batizado revelou-se um dos gatos mais inteligentes que já vi. É super atento. Suas orelhas funcionam como radares para sons que não consigo ouvir. Ruídos insignificantes, para mim, despertam a sua atenção e os olhos felinos saltam a postos. E o bom humor, então, é incrível. Na sua subjetividade de gato, as gargalhadas devem ser estridentes. Imagino assim, pela reação que ele tem ao final de suas ações pensadas estrategicamente para me assustar. Ele se enfia nos cantos mais inimagináveis.

E lá vou eu, na minha pressa de sempre, correndo de um canto a outro do apartamento para deixar tudo pronto antes de sair ao trabalho. De repente, ele salta nos meus pés, vindo não sei de onde, como se materializasse depois de uma fase invisível. Não dá para entender como ele consegue fazer. Mas faz e me provoca, além do susto, uma boa gargalhada. Ele me tira do tempo, e do estresse do dia a dia. É a zooterapia pura, sem muitas técnicas de planejamento.

Outra tirada do Franco, que a Física newtoniana não explica, é o movimento de seu corpo esguio no ar, como um gato morcego. Mas ele não conta com nenhuma roupa especial, como o homem morcego que passou recentemente no Fantástico. Basta um bom pretexto para ele se deslocar de onde estiver, saltando no espaço a uma distância que só mesmo com asas.

É um gato Ninja, não tenho dúvidas. E quando ele dá para me escalar, como se eu fosse uma montanha, só para pegar meu pingente no colar, é outro feito que me deixa a pensar. Como pode? Ele está lá, todo tranquilo, nos meus pés, a me olhar enquanto me arrumo. Parece que fica à espera do sutil movimento de quando eu pego a correntinha, arrumo o fecho e, de repente, ele afia as unhas e sobe em mim, dos pés ao pescoço, em milésimos de segundo. Só tenho tempo de me virar, mas ele salta no ar e sai disparado como uma flecha. Parece que sua mente não para.

É o tempo todo traçando novos planos para me tirar a atenção, ou melhor, para ter a minha atenção. Jamais pensei que um simples gatinho sem raça definida fosse revelar-se tão intrigante!

Valéria Feitosa

Este post a dedico às minhas amigas Angelina e Ana Lúcia, apaixonas por gatas e gatos...

Um comentário:

josenaide coelho disse...

Será que esse gatinho não tem raça mesmo?