23 de novembro de 2010

Hipocondria ou bom senso?




A gente ouve tanto falar que atividade física é bom para a saúde que eu acreditava que estava a salvo da maioria dos problemas da modernidade. Não é bem assim. Descobri que, mesmo fazendo exercícios e mantendo um IMC (Índice de Massa Corporal) baixo, a gente pode não estar com uma condição física muito saudável.

Eu jamais imaginaria, mas a nutricionista desconfiou. Com base no meu peso e no tamanho dos meus ossos, ela suspeitou que meu esqueleto estava leve. Pediu que eu consultasse um médico e fizesse uma densitometria óssea. O exame é feito por meio de uma espécie de scanner que passa sobre a região central do corpo - o paciente fica deitado e imóvel - e verifica a perda de material no interior dos ossos da coluna e do fêmur.

Osteopenia. Essa palavrinha que eu não tinha ouvido muitas vezes apareceu no resultado do exame e ergueu as orelhas de todo mundo: nutricionista, médico, professor da musculação. A palavra presente no papel indica que, aos 33, eu já tenho uma perda de massa óssea que merece cuidados. Reforço na ingestão de cálcio e vitamina D, exercícios resistidos e/ou com impacto (mas eu já faço musculação!), sol na pele. Essas medidas, combinadas, haverão de levar mais cálcio para meu esqueleto e torná-lo menos poroso, mais denso. São cuidados que irão evitar que, mais para frente, eu tenha uma palavra mais conhecida no meu exame: osteoporose.

Eu achava que osteoporose era doença de velho sedentário. Mas têm aparecido também mulheres jovens com osteoporose. Imagina eu aos 40 com osteoporose. Parar de pedalar com medo de quebrar a perna numa queda? Não dá. Já que meu problema está moderado ainda, a única alternativa é revertê-lo a partir de já.

Perda óssea não acontece à toa. Há hormônios envolvidos e todo um histórico de hábito alimentar, além de eventuais deficiências na absorção de nutrientes. No meu caso, a hipótese do médico é que minha intolerância à lactose, desconhecida por toda a minha vida até alguns meses atrás, tenha sido a responsável pelo desperdício do leite que eu tomei desde criança. O leite é a nossa principal fonte de cálcio, seguida dos queijos, mas quem não tem a enzima (lactase) necessária para digerir o açúcar do leite (lactose) pode não ser capaz de aproveitar esse cálcio. Quer dizer, tomei leite a vida inteira e não absorvi todo o cálcio que ele tinha. Como os exames de sangue não acusam a perda de massa óssea, pois o corpo manda retirar cálcio dos ossos para manter os níveis sanguíneos sempre normais, só mesmo a densitometria óssea poderia revelar o que estava acontecendo.

Hoje, desmamada das xícaras matinais de café com leite, tenho de apelar para cápsulas de suplemento de cálcio para suprir as necessidades do meu corpo. E sei que não posso abrir mão dos exercícios até pelo menos normalizar a situação.

Fico pensando nas oportunidades que a gente tem para descobrir o que se passa com nosso corpo. Quando aparece alguma dor ou desconforto é mais fácil. A dor incomoda e a gente vai ao médico implorando por uma solução. Mas nem todos os problemas dão sinais externos. Pelo menos não em seu estágio inicial.

Bacana mesmo é descobrir tudo bem antes, quando dá tempo de consertar, de preferência com mudanças de hábito como incluir no café da manhã uma cápsula de suplemento e intensificar a rotina de exercícios. Só que isso depende em parte de uma certa dose de hipocondria. Depende de a gente consultar um nutricionista de vez em quando, mesmo quando acredita que a dieta está OK. Depende de a gente fazer um hemograma periódico mesmo quando sente que está tudo bem. Depende de perguntar tudo ao profissional que nos orienta nas atividades esportivas e correr atrás de orientação sempre que aparecer uma dorzinha, uma tontura, um formigamento. Depende de não escaparmos jamais das perguntas que eles nos fazem sobre saúde. E, acima de tudo, depende de não fugirmos dessas relevações por medo de descobrir que não estamos bem.

Em tempos de exame de DNA, não saber em que pé está nossa saúde é uma atitude no mínimo obsoleta.

Francine Lima 

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