22 de novembro de 2010

Paul McCartney, o eterno beatle



Quando veio pela primeira vez ao Brasil, em 1990, Paul McCartney entrou no Guinness por colocar mais de 184 mil pagantes no Maracanã. Na segunda passagem por aqui, em 1993, ele tentou se esconder em um condomínio no Guarujá, mas equipes de TV se infiltraram de barco e helicóptero na isolada área residencial. Em 2010, o panorama não é muito diferente: em pouquíssimo tempo a Up and Coming Tour viu 180 mil entradas evaporarem rapidamente.

Isso porque o ex-beatle consegue manter acesa a chama do fanatismo, mesmo que não intencionalmente. Na entrevista à Rolling Stone Brasil, concedida agora em novembro, McCartney fala sobre o desafio de se manter humano em um mundo que teima em elevá-lo ao status de lenda.

Como funciona a sua seleção de repertório para as turnês? Você tem mais de 50 anos de músicas para escolher. Certamente muita coisa fica de fora. Você sofre fazendo isso?
Não é ruim, é um processo meio interessante. Eu começo pensando: "Se eu fosse a esse show, o que eu gostaria de ouvir o Paul cantar?" Há algumas canções que são meio óbvias, que você não poderia deixar de fora. E aí surge uma segunda lista, de coisas novas para surpreender a plateia. E aí tem uma terceira lista, que tem as músicas que nós gostaríamos de tocar, sabe? Juntamos tudo isso e na reta final dos ensaios, vemos qual será o set list e o escrevemos. No último dia de ensaio, tocamos esse repertório para que cada um saiba qual guitarra [usar], para que os caras da técnica saibam o que está acontecendo. E é assim que fazemos!

Houve uma fase, no começo dos anos 70, quando você não tocava músicas dos Beatles com o Wings. Como era tocar só músicas novas para um público que talvez estivesse esperando sucessos dos Beatles?
É, bem, foi... Foi muito bom porque determinamos essa regra, já que estávamos tentando estabelecer algo novo com o Wings. Queria fazer com que o Wings tivesse sucesso por mérito próprio, sem usar músicas dos Beatles, queria que tivéssemos uma identidade. Depois que conseguimos isso, em 1976, após Band on the Run, me senti mais confortável. Mas, sim, você percebia que a plateia gostaria que você tocasse músicas dos Beatles. Então criamos a regra para depois começarmos a tocar faixas dos Beatles.  É muito libertador poder fazer o que eu quiser hoje, posso escolher qualquer música. Provei algo.

Por falar em tendências, parece que existe uma nova nas turnês: o Roger Waters está fazendo uma do The Wall, os Rolling Stones já falaram sobre fazer uma do Exile on Main Street. Você faria algo do tipo?
Quer saber? Eu não me interesso por isso. Já me perguntaram se eu faria o Band on the Run. Não sei, sinto que se eu tocasse só esse disco seria uma apresentação interessante, mas haveria tantas músicas que eu teria de deixar de fora e... Eu não gosto de colocar essa pressão em mim mesmo. Gosto de poder escolher o que me der na telha, o que eu quiser tocar. Mas acho que faremos algumas coisas agora, com o relançamento de Band on the Run. Acho que tocaremos mais canções do disco. Se os Stones tocassem só o Exile, seria uma noite divertida - mas eu provavelmente ficaria meio decepcionado por eles não tocarem "Satisfaction".

Tenho uma teoria: se você quisesse, poderia passar o resto da vida sem trabalhar, vendendo autógrafos. Com um por dia, você ganharia cerca de mil dólares a cada dia. Seria só rabiscar um papel, simples assim. Mas como isso seria tedioso... Sabe, não dá para pensar assim. Isso passa pela sua cabeça uma vez, você pensa: "É, seria incrível". Mas na verdade não é algo que você gostaria de fazer. Eu amo a música! Eu não conseguiria respirar sem música. É algo mágico que os humanos desenvolveram, é muito especial para muita gente. É algo que cura. Uma das coisas de que mais gosto é quando me encontro com alguém e a pessoa me diz: "Eu estava doente e escutei a sua música, que me fez melhorar". Penso: "Uau! Que legal".


Paulo Terron

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