24 de novembro de 2010

A hora da madrasta



Não se trata de um post sobre um filme de terror, apesar do título. Quero falar de Wednesday Martin. Americana, doutora em Literatura pela Universidade de Yale. Há nove anos ela se casou com um homem que já era pai. Ganhou duas enteadas adolescentes, sendo que uma delas morava com eles. Na época ainda não tinha filhos. Hoje tem dois. Ela acaba de tirar do forno o livro Stepmonster. Stepmonster é uma mistura de madrasta (stepmother) e monstro ou um novo olhar sobre o porquê de as madrastas pensarem, sentirem e agirem do jeito que pensam, sentem e agem.

Primeiro, aos fatos: estima-se que ao menos metade das mulheres adultas hoje nos Estados Unidos se casaram ou vão se casar com homens que já têm filhos. E 70% desses casamentos vão desmoronar. A taxa de divórcio já é 50% maior nos re-casamentos onde há crianças. Ou seja: madrastas e enteados não estão dando liga. Existe um culpado? E, se existe, é sempre a madrasta? A escritora chama atenção para a vasta literatura que existe sobre como madrastas devem lidar, compreender e tratar seus enteados. Mas quem vê o lado delas?

Afinal, madrasta serve pra que?
O problema todo é que madrasta não tem papel definido. Mãe é mãe, pai é pai, filho é filho, por mais que haja flexibilidade em cada atuação. Mas madrasta é o que? No limbo, ela acaba assumindo o papel de má. E muitas vezes se sente mais confortável nele.

Padrasto não carrega o mesmo estigma.

O senso comum diz que o novo marido da mãe é sempre um companheiro e protetor e provedor em potencial. Nenhuma princesa de contos de fada sofre com o novo marido da mãe.

Ela é a inimiga e pronto!
Os estudos mostram que raramente os sentimentos negativos das crianças em relação à madrasta têm motivos reais. Ela é apenas um símbolo do fato de que os pais não são mais casados – e um belo bode expiatório, especialmente para adolescentes.

Papai é um pau-mandado!
Sempre que há uma decisão na família que desagrada a criança, ela sempre acredita que partiu da madrasta, nunca de seu pai.

Um tempo para cada coisa
Tudo tende a funcionar melhor quando o casal aceita que não tem uma família tradicional. Isso significa que a madrasta não precisa ir a todas as apresentações de escola dos enteados e que o pai pode (e deve) ter alguns momentos exclusivos com seus filhos.

É melhor quando a madrasta já é mãe
Mesmo que o tipo de criação seja diferente daquele que o marido usa com seus filhos, a mulher consegue entender melhor determinados sentimentos quando já tem seus próprios rebentos. Embora a presença de outros personagens familiares também possa trazer outra carga de conflitos. Mas isso já é outra história.

Felizmente eu não tenho qualquer subsídio para escrever um livro como Stepmonster. Eu já era mãe de um casal de pequeninos quando virei madrasta da menina mais doce da face da Terra (minha própria filha tem muitas qualidades, mas uma delas não é ser a menina mais doce da face da Terra). Ela não mora conosco, mas está na minha casa pelo menos três vezes por semana. Eu acho que tive sorte com ela e ela comigo. Temos um relacionamento que mistura admiração e molecagem. Sinto imensamente pelas mulheres que não podem ter o prazer da “madrasternidade”: uma condição especial em que é possível amar e se divertir com uma criança muito próxima sem ter a responsabilidade última por ela. Eu recomendo.

Martha Mendonça 
Dedico este post à Ana, super "mãedrasta" dos meus filhos. Obrigada, sempre, Ana! 

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