17 de dezembro de 2010

Garotas crescem



Durante as minhas férias, no mês passado, estive em Londres, que eu não visitava desde 1994. Neste intervalo a cidade tornou-se a Babilônia, uma metrópole de 7,5 milhões de pessoas que fala todas as línguas e reúne gente de todas as procedências. Tive a impressão de que em um único vagão do metrô de Londres há mais diversidade étnica e cultural do que em São Paulo inteira. Babilondres, disse minha namorada. 

Mas eu não vou escrever sobre a cidade. Vou falar sobre uma moça brasileira que mora por lá, num bairro simpático e movimentado onde muçulmanos de Bangladesh e do Paquistão convivem com a garotada que vem do mundo inteiro para viver a grande experiência europeia de modernidade. 

A casa dela fica perto de Brick Lane, na zona oeste de Londres, uma área alternativa famosa pelos restaurantes asiáticos e por uma espécie de “feira nas nações” que rola aos domingos. Não é um lugar para pessoas tacanhas ou preconceituosas. Minha amiga está na Inglaterra faz alguns anos. Chegou casada, para estudar, e continua por lá, com tudo mudado. Não está mais casada, trabalha, tem uma atividade diferente da que tinha no Brasil. 

Quando eu e a namorada chegamos à cidade era um sábado e havia festa na casa da amiga. Fomos para lá e eu acabei emocionado com a situação. Um dia você conhece no trabalho uma garota promissora que acabou de sair da faculdade. Aí você fecha os olhos por um segundo e, quando os abre de novo, está dançando na casa dela, na Europa, cercado de gente falando inglês. Ela chamou minha atenção para a mudança: “Quem poderia imaginar”? 

A verdade é que as garotas crescem. 

Quando se é homem e mais velho do que elas, é comum ter um olhar paternalista para as mulheres que estão começando a vida adulta ao nosso redor. Afinal, elas são meninas, têm jeito de meninas. É fácil supor que continuarão daquele jeito para sempre. Mas não. 

Passam-se os anos e, de repente, você está diante de uma mulher de 30 e poucos anos. Ela casou, às vezes têm filhos, morou fora, fez pós-graduação, está num emprego bacana ou tem planos de abrir um negócio inovador na internet, começar uma empresa, criar um blog, escrever um livro. A vida anda e leva as pessoas a lugares surpreendentes. 

Eu me comovo com esses movimentos. Elas estão se movendo em todas as direções. Faz lembrar aquele adesivo americano que diz que boas garotas vão pro céu, mas garotas más vão para onde quiserem. 

Escrevo essas palavras e me vêm à mente, instantaneamente, algumas das carinhas que eu vejo diariamente no Twitter. Garotas jovens, muito jovens, mas cheias de verve e de swing, opinando, atacando, elogiando, se expondo até, de um jeito que a minha geração não faria. Ocupando, do jeito delas, um espaço virtual que eu espero que se torne real. 

O espaço das garotas que se tornam mulheres e ganham o mundo de Londres a Salvador, na Bahia.

Ivan Martins

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