20 de dezembro de 2010

Gravidez acidental não existe


Comecei a pensar sobre o assunto quando uma amiga me disse que sua amiga havia engravidado por acidente. Ela não era nenhuma adolescente: tinha mais de 35 anos. Se ela tivesse começado a vida sexual aos 15 anos, a média entre os brasileiros, isso quer dizer que ela conseguiu evitar uma gravidez com sucesso por 20 anos. Até acontecer o “acidente”. Não é estranho? 

Até existe camisinha que estoura. Mas o acidente costuma acontecer por imperícia de quem usa esse método do que por falha no produto. E, ainda assim, há o recurso da pílula do dia seguinte. Até já houve caso de pílula anticoncepcional de farinha, mas virou processo na Justiça. E, pode haver falhas diversas de prescrição médica, garantindo que alguém não pode engravidar quando, na verdade, pode. Mas isso é mesmo um acidente ou é um erro médico? 

O que quero dizer é que são pouquíssimos os casos de gravidez acidental. E muitos os casos de gravidez indesejada, não-planejada, mas que não foi evitada como deveria. Talvez, se tivesse feito o que vinha fazendo há 20 anos, essa amiga da minha amiga não teria se surpreendido com o resultado do teste de gravidez. Mas, se até os 35 ela nunca tinha usado nenhum método contraceptivo e não tinha engravidado, realmente estava querendo testar as probabilidades e até que se saiu bem! 

Nos Estados Unidos, mais de um terço das mulheres que engravidam não queriam ter um filho, segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Até tentei encontrar dados sobre isso aqui no Brasil, mas faltam-nos estatísticas detalhadas sobre planejamento familiar. O mais interessante é que a grande maioria das mulheres lá engravidou porque não usou um método contraceptivo ou o usou de maneira incorreta. 

Uma pesquisa feita pelo CDC e publicada em agosto sugere que 4,5 milhões de americanas com vida sexual ativa não usam anticoncepcional, embora afirmem querer evitar gravidez. Você consegue entender? Eu não! Como alguém pode querer evitar a gravidez e, ao mesmo tempo, não fazer nada sobre isso? Será que é por motivos religiosos? Duvido. Ultimamente até o papa Bento XVI andou falando de camisinha… 

Entre as que usam pílula, muitas esquecem de tomar o remédio (atire a primeira pílula quem nunca esqueceu!), mas não tomam uma segunda precaução. E aquelas que só usam camisinha começam ou terminam a relação sexual sem o preservativo. Assim, nem com reza do papa, né?! 

Aí, os mais de 99% de garantia de um método vão ruindo e cedendo lugar à chance de gravidez que, se não é assim tão grande, sempre existe. Para muitas mulheres, a gravidez não planejada acaba sendo uma alegria. Embora não exatamente esperado, um filho era bem-vindo. Para outras, no entanto, um filho estava realmente fora dos planos. E uma gravidez indesejada é sempre uma situação complexa, não importa a idade da mãe. 

É fato que muitas mulheres não querem tomar pílula; outras não se adaptam ao diafragma; algumas não vão querer usar camisinha; várias não vão se dar bem com as injeções ou implantes hormonais. Mas são tantas as opções que, com auxílio médico adequado, é possível achar uma e usá-la corretamente. 

Da próxima vez que você ouvir “ah, foi um acidente…”, pense: será que foi um acidente mesmo?

Letícia Sorg 

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