O cara só usa bermudão e camiseta tipo skatista, fala gíria e masca chiclete, mora com os pais, nunca se preocupou em fazer um nó de gravata, se nega a assumir o relacionamento com a "ficante" há mais de um ano, e acha que previdência não é assunto que deva despertar interesse.
Há alguns anos, tal descrição certamente seria referente a um rapaz de 18 anos. Acontece que hoje esse perfil corresponde a muitos homens de 35 ou 40 anos, que tem dificuldade de encarar a vida adulta. Aquela vida chata, mas inevitável, cheia de responsabilidades e suas consequências. Como, por exemplo, lembrar de pagar o seguro do carro, usar terno e gravata, concordar em estabelecer vínculos verdadeiros com os outros. Enfim, aceitar a maturidade e assumir de vez o controle de sua vida. Você pode ser esse cara: um adultescente em potencial.
Não faz tanto tempo, as opções de estilo de vida eram um tanto restritas. As mulheres eram educadas para se casar e ter filhos. Já os homens, para serem chefes de família e manterem um emprego estável. Quando atingiam esse estágio, se tornavam adultos. O negócio é que os dias de hoje permitem outras escolhas que não são mais marginalizadas. É possível não casar, trocar de emprego toda hora, não ter filhos, deixar a faculdade para mais tarde, morar fora do país... Isso gerou a cultura do transitório. Ninguém quer mais nada que gere comprometimento, uma vez que isso implica renúncias, tolerância, e, principalmente, maturidade emocional.
Antigamente, existia uma senha para ingressar na idade adulta: o fim dos estudos, quando o cidadão passava a se sustentar sozinho. Isso acontecia, em geral, no fim da faculdade. Agora, a vida escolar pode se alongar ad aeternum: as pós-graduações podem esticar os estudos e a dependência financeira até por volta dos 27 anos. Sem contar que a conclusão da universidade não significa nenhuma garantia de emprego.
Há outra justificativa para o fato: no ser humano, a adolescência tem idade certa para começar, na puberdade, por volta dos 11 anos. Mas não tem idade para terminar. Crescer invariavelmente dói, não tem jeito. O negócio é que as sociedades acabaram criando uma cultura de proteção excessiva à criança e ao adolescente, que acaba não preparando para a vida adulta.
Mas o que acontece quando os adultescentes têm filhos? Como a idade dessa turma passa dos 30, é evidente pensar que a geração dos eternos imaturos está procriando. Existem vários tipos de grupos: os que escutam as mesmas músicas dos filhos, se vestem da mesma forma. Ou aqueles que disputam com eles o chocolate, o controle remoto, o videogame, a internet, a roupa. O comportamento de não tomar nenhuma decisão para não ter que abrir mão de nada, típico do adolescente, passa a ser dos pais.
Amadurecer não precisa ser algo chato. Claro que pode usar bermuda e jogar videogame com os filhos. Mas existe uma diferença do ponto de vista emocional. Alguém que passou da adolescência para a fase adulta é aquela que adquiriu a capacidade de responsabilizar-se por si mesma e por aqueles que precisam dela. Ninguém é obrigado a deixar crescer um bigodão ou cultivar a barriga de chope para entrar no mundo dos adultos. Também não precisa casar, ter filhos, um emprego estável e almoçar na casa da sogra.
Nada disso define um sujeito maduro. Essas são apenas escolhas de um estilo de vida, que ficou impregnado na nossa mente como o estereótipo de adulto. O que importa de verdade não é a aparência, muito menos a escolha do estilo de vida. O que vale é a maturidade emocional. E isso um surfista ou roqueiro pode ter muito mais do que um bem-sucedido empresário.
Para atingir a idade adulta com dignidade, a primeira coisa a lembrar é que não tem jeito. Então, um bom começo é fazer as pazes com o tempo. O amadurecimento está ligado à forma como a estrutura emocional se ajusta ao meio em que vive. Não dá pra deixar de declarar o imposto de renda. Mas é possível fazer a declaração em casa, em cinco minutos, antes de jogar uma partida de videogame. E de bermudas e de chinelo.
Mariana Sgarioni
Não faz tanto tempo, as opções de estilo de vida eram um tanto restritas. As mulheres eram educadas para se casar e ter filhos. Já os homens, para serem chefes de família e manterem um emprego estável. Quando atingiam esse estágio, se tornavam adultos. O negócio é que os dias de hoje permitem outras escolhas que não são mais marginalizadas. É possível não casar, trocar de emprego toda hora, não ter filhos, deixar a faculdade para mais tarde, morar fora do país... Isso gerou a cultura do transitório. Ninguém quer mais nada que gere comprometimento, uma vez que isso implica renúncias, tolerância, e, principalmente, maturidade emocional.
Antigamente, existia uma senha para ingressar na idade adulta: o fim dos estudos, quando o cidadão passava a se sustentar sozinho. Isso acontecia, em geral, no fim da faculdade. Agora, a vida escolar pode se alongar ad aeternum: as pós-graduações podem esticar os estudos e a dependência financeira até por volta dos 27 anos. Sem contar que a conclusão da universidade não significa nenhuma garantia de emprego.
Há outra justificativa para o fato: no ser humano, a adolescência tem idade certa para começar, na puberdade, por volta dos 11 anos. Mas não tem idade para terminar. Crescer invariavelmente dói, não tem jeito. O negócio é que as sociedades acabaram criando uma cultura de proteção excessiva à criança e ao adolescente, que acaba não preparando para a vida adulta.
Mas o que acontece quando os adultescentes têm filhos? Como a idade dessa turma passa dos 30, é evidente pensar que a geração dos eternos imaturos está procriando. Existem vários tipos de grupos: os que escutam as mesmas músicas dos filhos, se vestem da mesma forma. Ou aqueles que disputam com eles o chocolate, o controle remoto, o videogame, a internet, a roupa. O comportamento de não tomar nenhuma decisão para não ter que abrir mão de nada, típico do adolescente, passa a ser dos pais.
Amadurecer não precisa ser algo chato. Claro que pode usar bermuda e jogar videogame com os filhos. Mas existe uma diferença do ponto de vista emocional. Alguém que passou da adolescência para a fase adulta é aquela que adquiriu a capacidade de responsabilizar-se por si mesma e por aqueles que precisam dela. Ninguém é obrigado a deixar crescer um bigodão ou cultivar a barriga de chope para entrar no mundo dos adultos. Também não precisa casar, ter filhos, um emprego estável e almoçar na casa da sogra.
Nada disso define um sujeito maduro. Essas são apenas escolhas de um estilo de vida, que ficou impregnado na nossa mente como o estereótipo de adulto. O que importa de verdade não é a aparência, muito menos a escolha do estilo de vida. O que vale é a maturidade emocional. E isso um surfista ou roqueiro pode ter muito mais do que um bem-sucedido empresário.
Para atingir a idade adulta com dignidade, a primeira coisa a lembrar é que não tem jeito. Então, um bom começo é fazer as pazes com o tempo. O amadurecimento está ligado à forma como a estrutura emocional se ajusta ao meio em que vive. Não dá pra deixar de declarar o imposto de renda. Mas é possível fazer a declaração em casa, em cinco minutos, antes de jogar uma partida de videogame. E de bermudas e de chinelo.
Mariana Sgarioni
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