25 de janeiro de 2011

Coisas do coração



Falar do ciúme como sentimento é fácil. Assim como todos os sentimentos são normais, o ciúme também o é. Também já sabemos que devemos dar vazão a todos os sentimentos para que possamos elaborá-los. Contudo, existem alguns pontos que precisam ser notados num sentimento: sua origem, intensidade, a forma como reagimos a ele e a importância que isto tem no nosso cotidiano.

Segundo o escritor Roland Barthes (1915-1980), o ciumento sofre quatro vezes, pois esse sentimento o exclui, o torna agressivo, o deixa louco e, por ser um sentimento banal, comum, pode-se ainda observar sua complexidade.

Isso acontece quando numa rápida consulta ao dicionário percebemos todas as suas nuances: dor, respeito, inveja, medo da perda, fraqueza, zelo e rivalidade. Por tudo isso ele nos torna refém de sua interpretação em nossa vida na busca da felicidade e realização amorosa.

As primeiras manifestações de ciúme podem ocorrer já na primeira infância quando chega o irmãozinho e o afeto e a atenção serão divididos. Pois desenvolver o sentido do `isso é meu!´ traduz a necessidade de limites e espaços.

Após Freud, podemos classificar o ciúme em duas categorias: o ciúme normal e o neurótico ou paranóico, delírio puro. Mas de concreto devemos nos atentar ao sofrimento não só do ciumento, mas também da pessoa amada, pois esse sofrimento é a medida que anuncia a normalidade ou não desse sentimento.

Num relacionamento tanto afetivo quanto de amizade devemos dar espaço a crises de todos os tipos, inclusive de ciúme. Mas ela deve estar circunscrita a fatos reais, pois a fragilização que uma crise permite a visita de fantasmas passados que se misturam aos traumas e aos fatos provocando uma mistura explosiva. É muito importante que cada um de nós saiba como lidar em nossa própria história com esse sentimento. Para variar, quando se fala de emoções, não há fórmula mágica, porém atenção e compreensão a alguns detalhes ajudam bastante.

Em primeiro lugar cuidar-se, admitindo o ciúme como um conteúdo seu e não do outro, entendendo o que desencadeia o sentimento e qual foi a situação real que o provocou.

Falar abertamente de uma dor tem efeito analgésico e auxilia na diminuição do sofrimento, trazendo paz suficiente para que se elabore melhor as dificuldades e medos.

De qualquer forma, o ciúme é sempre um sinal de alerta barulhento e atordoante. Não admiti-lo é perder a chance de refletir e recuperar o que realmente nos é caro ou o outro que pode ser vítima de nosso desassossego e, principalmente, recuperar parte de nós mesmos que estão se perdendo dando um valor maior a tudo e a todos, maior do que damos a nós mesmos.

Apesar de tanta exposição ainda ficamos perplexos com tantas possibilidades que a vida afetiva nos dá de dor e prazer. Mas devemos perceber que esse é o grande estímulo da vida, ou seja, seu movimento em busca do paraíso perdido. Oxalá não encontremos para que nunca desistamos de buscá-lo.



Márcia Atik

3 comentários:

Mafalda S. disse...

Gosto imenso quando publicas textos informativos como este.

Quanto a ciúmes, por vezes eu e o meu maridinho também os temos, mas nada de grave. Temos muita confiança um no outro e acho que isso é uma boa base de qualquer relacionamento.

Beijinhos

Maria Auxiliadora de Oliveira Amapola disse...

Boa noite.

Adorei o texto.
Eu nunca tinha sentido ciúmes, acho que é porque nossa familia era numerosa e ainda é.
Mas quando comecei a namorar, conheci esse sentimento tão ruim, tão desconfortável.

Eu nunca demonstrava, mas sofria muito com qualquer detalhe. Ainda bem que não me casei. Se tivesse feito isso, a separação seria certeira.

Um grande abraço.

Maria Auxiliadora de Oliveira Amapola disse...

Estou lhe seguindo. (Maria Auxiliadora) Amapola.