23 de janeiro de 2011

Flexibilidade



No passado, achava-se que, quanto mais abertos os amantes fossem entre si, melhor para o casamento. Atualmente, sabemos que isso não é verdade. Em fases de transição, todos nos sentimos mais vulneráveis: perder um emprego, mudar de cidade, ter um filho constituem períodos estressantes que, muitas vezes, desequilibram até casais estáveis, que conhecem seus limites.

Não é fácil enfrentar e solucionar os conflitos à medida a que vão ocorrendo. É o caso da mulher que começa a crescer na carreira profissional no exato momento em que o marido sofre um retrocesso, ou até perde o emprego. Pela lógica, estaria tudo bem, porque a boa notícia, logo comunicada, compensaria a má, a ascensão dela diminuiria o revés dele. Na maioria dos casos, no entanto, essa inversão de papéis, acaba atingindo o equilíbrio dos parceiros. Resultado: crise profissional, crise emocional, crise conjugal.

Todos nós enfrentamos esses momentos de incerteza, todos já ficamos olhando solitários por uma janela, em noite chuvosa, sentindo-nos desesperançados e perdidos, imaginando se o pior ainda está por vir. Aí, voltamos ao presente e constatamos que, quando um problema parece estar-se atenuando, surge outro e toma seu lugar. Nossas expectativas podem realizar-se, mas de certo modo, ainda somos os mesmos.

Não é fácil caminhar pela vida, não é fácil construir o próprio caminho, a cada dia. Até os anos 80 do século passado, acreditava-se que os melhores relacionamentos eram como aqueles sanduíches quentes em que o recheio vinha todo misturado. Seria bom se fosse verdade, mas agora sabemos que não é. Nossa individualidade depende de cada um ser capaz de reconhecer e aceitar as próprias fronteiras e as do outro. Um limite marca o lugar onde nossa realidade começa e acaba e também a de nosso parceiro. Limites são uma forma de garantir que podemos ser nós mesmos, assim como podemos nos relacionar intimamente.

São essas fronteiras que nos fazem com que sejamos capazes de conter os sentimentos da pessoa que amamos e assim mesmo preservar nosso coração; que não despejemos nosso "caminhão de lixo" sobre a pessoa amada e transformemos seu coração em nosso depósito de entulho emocional.

Ao saber regular, calibrar, controlar nossos limites, decidimos quem pode se aproximar de nós, e quanto. Aí entramos em contato com nossos desejos, nosso "sim" e nosso "não", que podem ser diferentes no momento dos desejos, do sim e do não do outro. Quando não estamos emocionalmente disponíveis, a porta de nosso coração pode ficar temporariamente fechada. O limite delineia qual é o espaço físico e psíquico de cada um dos amantes. Podemos ser firmes sem ser agressivos.

Existem formas e formas de dizer: "Não gosto, não quero, não vou". Um "não" convicto, mas amoroso, é muito melhor do que um "sim" que contrarie nossos sentimentos. Ao compreender mais sobre limites descobrimos que eles nos protegem sem nos manter afastados de nosso parceiro.

Se tivéssemos sempre limites rígidos, manteríamos o outro fora de muitos espaços de nossa vida e terminaríamos nos sentindo isolados, vazios, alienados. Se tivéssemos apenas limites frágeis, imprecisos, deixaríamos o outro invadir nossa vida de tal maneira que acabaríamos confusos e sobrecarregados com todos os seus problemas, com suas preocupações.

O ideal é estabelecer limites flexíveis, que se abrirão ou se fecharão de acordo com nossos desejos, necessidades, sonhos e esperanças.

 

Maria Helena Matarazzo 

Um comentário:

♪ Sil disse...

Lena, minha amiga, pois tbm assim já a considero.
Vamos sim, tomar nossos cafés virtuais, pois te digo, que ficar perto da LUZ que você emana, me é um privilégio.
Que bom conhecer você, Lena. Eu sempre digo, posso ter meus problemas, mas Deus tem colocado tantas pessoas legais em volta de mim.Obrigada, obrigada viu!
Qto ao texto da Maria Helena (Fantásticooooo por sinal, assim como ela é), eis a chave da questão minha amiga: A tal flexibilidade, tão dificil de se achar hoje em nós mesmas.
Um trabalho árduo, mas recompensador no fim.

Um abraço do tamanho do mundoooooo!