28 de janeiro de 2011

Honestidade emocional




Nas três últimas décadas ocorreu uma mudança radical na forma como as pessoas encaram a sexualidade. Caminhou-se da repressão para a liberação, e só agora se está chegando a um ponto de equilíbrio. Depende de com quem, como, quando, onde e por quê.

Mudaram crenças, valores e comportamentos. Antigamente se considerava a sexualidade como uma força instintiva, maléfica que deveria ser contida a todo custo. Isso porque o instinto sexual era percebido como uma força animalesca que precisava ser dominada antes que exercesse seu domínio sobre nós.

Tal atitude reflete uma concepção do homem partido ao meio, em que a parte superior (a razão) era considerada boa; e a inferior (os instintos), má. A cabeça tinha de conter os impulsos, reprimir os instintos, enjaular os desejos, suprimir as fantasias.

Agora essa concepção mudou e já sabemos que não adianta ter cabeça sem corpo. Nossos pensamentos são tão importantes quanto a fala do coração, quanto o que nossas entranhas desejam. O que significa que cada vez mais o ser humano é entendido como um ser integrado.

Antigamente também se aceitava o sexo apenas dentro do casamento. Entretanto, as pesquisas modernas comprovam que o impulso sexual se manifesta desde a infância até a velhice – não só na idade adulta, quando as pessoas se casam e se reproduzem. Por isso se estuda o sexo pré-conjugal, conjugal, extraconjugal, pós-conjugal.

Na época da repressão sexual, incutiam-se nas pessoas o medo, a culpa e a vergonha para impedir que o impulso sexual se manifestasse. Tais sentimentos, que são armas psicológicas poderosas, quando conjugados tinham uma força incrível. Tornavam-se um cinto de castidade psicológico que trancava a sexualidade a sete chaves, congelando-a, impedindo-a de se manifestar.

Grandes mudanças ocorreram dos anos 60 para cá. Com a revolução sexual, devido o advento da pílula anticoncepcional e da conquista do mercado de trabalho pela mulher, deu-se um processo de descongelamento acelerado da sexualidade. Isso provocou um aquecimento geral das relações homem-mulher, e as pessoas ficaram deslumbradas com a liberdade. O que importava era basicamente o momento. Foi a época do sexo pelo sexo, do prazer pelo prazer. Não se pensava muito nas conseqüências.

Passado o momento de euforia com a liberdade, começou a aparecer também uma sensação de vazio diante de tanto amor colorido. Quando existe uma troca intensa de parceiros, as pessoas transam muito mais para se testar do que para se envolver com o outro. E aí, nos anos 80, surgiu a AIDS, que brecou a sexualidade de toda uma geração. Descobriram que liberdade sempre implica responsabilidade.

Mas, afinal, o que é responsabilidade? É a habilidade de responder por aquilo que se faz, porque na vida tudo tem consequências. Por isso, mais e mais se diz que sexo com responsabilidade é sexo sem vítimas. E sexo sem responsabilidade é sexo com vítimas.

Assim, foi surgindo uma nova moral sexual. O que significa que um ato em si não é certo ou errado. Depende. Sob esse ponto de vista, pode-se comparar sexo com dinheiro. Se for com a pessoa errada, na hora errada, pelas razões erradas, é lamentável. Mas, se for nas condições certas, essa experiência pode ser muito importante.

É preciso haver honestidade emocional para ninguém se violentar nem violentar o outro. A regra fundamental para a nova moral sexual é, portanto, respeitar-se. Não se machucar e não machucar o outro. Dentro da nova moral sexual o pecaminoso ou virtuoso não é o ato em si. São as circunstâncias em que ele ocorre e as consequências que determinam sua validade.



Maria Helena Matarazzo

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