8 de janeiro de 2011

Mulher ciumenta



Em novembro passado, quando eu estava de férias em Londres, foi ao meu quarto do hotel, consertar o ar condicionado, um sujeito gordinho e circunspecto. Era de Chipre, ilha-país na costa da Turquia. Quando eu disse que vinha do Brasil, os olhinhos azuis dele se fecharam num ar de cumplicidade.

"Fui casado com uma brasileira", contou.

"Que sorte a sua", eu respondi. Ele fez cara de que não fora tão bom.

"Era uma mulher muito ciumenta", ele disse. "São todas assim?"

Eu respondi ao sujeito que não, mas ele fez cara de que não estava convencido. Vai saber o que a conterrânea havia aprontado com ele.

Na minha experiência, o ciúme não tem sido frequente. Houve uma namorada que fazia questão de ser agressiva com as mulheres que se aproximavam. Era uma demarcação gratuita de território que me deixava furioso. Outra gostava de fazer comentários privados para desqualificar as moças ao nosso redor: vulgar, burra. Haverá quem se envaideça com esse tipo de demonstração de insegurança, mas eu acho detestável. Homens ciumentos matam, mulheres ciumentas sabotam a relação. Na canção Medo de amar, Vinícius de Moraes diz que o ciúme "é o perfume do amor". Eu diria que é o veneno.

Mas, pelo que vejo por aí, "todas" as mulheres fazem besteiras por ciúme. Às escondidas. É normal que vasculhem os bolsos das calças dele atrás de evidências de vida paralela. Há quem avance a linha do tolerável e vá espiar o celular ou e-mail do marido - coisas que, segundo a lei brasileira, são puníveis com cadeia.

Muitas dessas ações e sentimentos se alimentam de impulsos interiores que pouco ou nada têm a ver com a realidade. As pessoas imaginam situações e agem de acordo com elas, em total desacordo com as circunstâncias. É uma questão de história pessoal e de personalidade. Mas isso e só um pedaço da explicação.

Outra parte da ciumeira feminina é socialmente alimentada. Existe no Brasil uma cultura do barraco em que as mulheres são ensinadas desde crianças a se colocar como vítimas agressivas. São vítimas das outras mulheres (vacas, piriguetes e vagabundas) e dos homens (safados, malandros, mentirosos). Por isso é legítimo controlar, demarcar, ameaçar - com a tácita aprovação das companheiras. Se não existisse essa cultura do barraco, o ciúme seria tratado com muito menos tolerância.

Tal como é, porém, ele virou "tempero do amor". Muitas mulheres acreditam que pegar no pé do parceiro faz parte da etiqueta do afeto. Outras repetem que sem medo de perder não há desejo. Juram que ciúme é prova de amor.

Pode ser, mas eu duvido. A questão é: como mostrar isso para a mulher ciumenta que espera o seu telefonema? Com demonstrações de afeto verdadeiro, eu acho. Com um comportamento leal. Com conversas que a façam entender que exibições de ciúme são destrutivas. Com a insistência em que existem outras maneiras de ser mulher além daquela preconizada pela cultura do barraco. Com a descoberta comum de que a felicidade passa pela redução, não pelo cultivo do ciúme.

Pode-se amar uma mulher ciumenta, mas não se deveria fingir que ela está certa - nem permitir que os medos dela controlem sua vida. Ou a dela.


Ivan Martins 

Um comentário:

Rosani disse...

Olá! Lena

Agradeço o carinho do seu comentário no meu cantinho, a net tem essa magia de encontros, amei seu seu blog é de sensibilidade e beleza ímpar.

beijos,