6 de janeiro de 2011

Seu momento



Fiz uma promessa no último Réveillon: 2011 seria o ano do bem-estar. Jurei tentar equilibrar as várias seções da minha vida sem deixar nenhuma delas perder o ritmo. Refleti sobre os 365 dias anteriores e concluí que os campos mais importantes (saúde, amor, maternidade, trabalho) estavam relativamente bem resolvidos. O que estava abaixo da média era o bem-estar.

Bem-estar é um termo de difícil definição, genérico demais. Para mim, sempre esteve associado à atividade física. Sempre gostei de mexer o corpo. Quando era criança, fazia balé clássico e natação. Com exceção dos anos indisciplinados de faculdade e dos primeiros passos no jornalismo, nunca mais deixei de praticar algum tipo de exercício. No ano passado, porém, a atividade física que vinha fazendo estava abaixo das minhas necessidades. Meu corpo e minha cabeça reclamaram.

Em 2010, descobri o Pilates que tem rendido ótimos momentos de prazer. Escrevi recentemente sobre o valor desses pequenos prazeres. Sabemos que, por mais adversos que sejam os fatores externos, somos os únicos responsáveis por nossa felicidade. Por isso, resolvi voltar ao tema.

É difícil, para mim, conseguir sentir bem-estar sem movimentar o corpo. Mas essa é uma visão parcial. Bem-estar é muito mais do que isso. Nos últimos anos, pesquisas realizadas em vários países buscaram determinar o Índice de Bem-Estar (IBE) ou a Felicidade Interna Bruta (FIB) da população.

Os indicadores de bem-estar e felicidade parecem oferecer um diagnóstico mais fidedigno das reais condições de vida. Isso porque eles procuram alcançar e quantificar bens que são mais valiosos do que a própria riqueza. A maior dificuldade, porém, é criar ferramentas de pesquisa capazes de medir ingredientes da vida que tantas vezes são expressos por sensações subjetivas.

O que você tem feito pelo seu bem-estar? Quantas vezes neste ano criou oportunidades para ser feliz? A felicidade é um fenômeno predominantemente subjetivo. Está subordinada mais a traços de temperamento e postura perante a vida do que a fatores determinados externamente.

Antes do filósofo grego Sócrates, acreditava-se que a felicidade dependia dos desígnios dos deuses. Essa concepção religiosa da felicidade imperou durante muitos séculos e em diferentes culturas. No século IV antes de Cristo, Sócrates inaugura um paradigma a partir do qual buscar ser feliz é uma tarefa de responsabilidade do indivíduo.

Tenho plena consciência de que minha felicidade e meu bem-estar dependem de mim. É muito fácil culpar o chefe, o marido, o governo, o mundo pelo nosso infortúnio quando fechamos os olhos e o coração para as pequenas felicidades cotidianas.

Em 2010, enfrentei  madrugadas de trabalho. Fiquei sem dormir e sem comer. Mas aprendi a compensar. A tirar o pé do acelerador quando isso é possível. E a aproveitar as felicidades miúdas.

Fui extremamente feliz terça-feira à noite. Consegui chegar a tempo à minha aula semanal de Pilates. Há algumas semanas esse exercício saía todo desengonçado. Na terça, vivi a glória do movimento exato. Senti um enorme prazer quando percebi que era capaz de ficar perfeitamente equilibrada sobre a bola graças ao controle de meu abdómen.

Nessa história de Pilates ainda tenho muitos desafios pela frente. Mas foi maravilhoso ter inventado desafios num campo totalmente desconhecido. Quando entro naquela sala de aula desligo todos os canais. Durante duas horas, tenho olhos só para mim. É o meu momento. Um momento que me faz feliz e me ajuda a viver todos os outros do jeito que merecem ser vividos.

Cristiane Segatto

Texto adaptado e resumido por Lena Simões

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