9 de fevereiro de 2011

Donos da história





Quando Freud formulou a sua teoria das neuroses, colocou muita ênfase na histeria, principalmente no que ele chamava de histeria de conversão, isto é, o paciente convertia o elemento emocional de um acontecimento em um elemento físico. Por exemplo, as pessoas chegavam a ficar privadas da visão depois de um trauma emocional, ainda que sem muita importância outras pessoas, estas em maior número, desmaiavam, e assim por diante.

Isto serve para provar que as emoções estão intimamente ligadas às sensações físicas, mas parece que Freud não se deteve na análise dessa relação. Os seguidores de Freud, igualmente, insistem em separar o mental do físico, como se uma coisa não tivesse nenhuma relação com a outra. A psicanálise concentra sua atenção exclusivamente no funcionamento da psique, considerando as entidades mentais pensadas por Freud, o id, o ego e o superego, como responsáveis pelo comportamento humano.

Na visão de Freud, o homem não é mais do que um joguete nas mãos do inconsciente, onde se desenrola uma batalha entre essas três entidades, cada uma tentando exercer o controle. Para Freud, toda a atividade humana é dirigida pelo inconsciente.

Os teóricos do comportamentalismo, que defendem o ponto de vista de que todo o comportamento humano se resume no "condicionamento", também se baseiam nesse pressuposto de que o homem é dirigido pelo inconsciente, isto é, o comportamento humano é originado e modificado por meio de condicionamentos apropriados, dos quais ele mesmo não se dê conta.

Ora, toda esta visão da atividade mental deixa de lado, ou não leva em conta, uma coisa fundamental na vida do ser humano: a vontade. Parece, lendo Freud e os comportamentalistas, que o homem não tem vontade, ou que não tem como exercer a sua própria vontade. Tudo se passa a sua revelia. O homem está destinado, segundo essa visão, a ser dirigido por forças exteriores a ele mesmo, e ele não pode fazer nada para modificar essa situação.

Se observarmos, atentamente, a nossa maneira de agir, veremos que realmente o homem se move levado por forças externas, através das suas emoções. Ele vive, inconscientemente, em função de acontecimentos exteriores a ele mesmo. E esta é a causa do sofrimento humano.

A despeito disso, a partir do desenvolvimento emocional, podemos aprender a exercer a nossa vontade, tornando-nos donos da nossa própria vida. Podemos libertar-nos da dependência e do domínio que o outro, ou as circunstâncias da vida, exercem sobre nós, qualquer que seja a forma desse domínio.



Durval Guelfi 

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