5 de fevereiro de 2011

Medo do mundo




Suores, tremores, sensações de branco, taquicardia e falta de ar. Quem sofre de fobia social conhece muito bem esses sintomas. Frequentemente confundida com a timidez, ela é grave e especialistas acreditam que possui origem genética. A fobia social, ao contrário da síndrome do pânico, atinge mais homens do que mulheres. A boa notícia é que para esses problemas, também há tratamento. Em geral, uma combinação de medicamentos e psicoterapia. 

Existem três tipos principais de fobias: a agorafobia, que é o medo de ficar sozinho, de lugares dos quais a pessoa não possa sair caso tenha uma crise de ansiedade (túneis, shoppings, teatro, avião, elevador, de lugares muito amplos); a fobia social, caracterizada por sintomas de ansiedade em contato com pessoas estranhas, especialmente quando o paciente tem que fazer alguma coisa na frente dos outros, como comer, segurar um copo, assinar cheques, tomar um cafezinho, digitar no computador; e as fobias específicas, aquelas em que a pessoa evita o contato com determinados objetos ou situações. 

O paciente que sofre de fobia social frequentemente tem graus muito importantes de incapacitação em diferentes áreas da vida: trabalho, convivência familiar, para não falar da vida social que se torna impossível. As fobias impossibilitam o convívio social 

Ela se manifesta muito cedo, na infância, e torna-se mais evidente no início da vida adulta quando os contatos com os outros ficam cada vez mais obrigatórios. Na infância é uma criança que não consegue falar na frente da turma, que evita convites para dormir na casa de amigos, que evita brincar no playground do prédio. 

A maioria das pessoas demora a perceber que sofre do problema. Além disso, só recentemente ela passou a ser mais divulgada e é comum as pessoas confundirem a timidez com os sintomas da denominada fobia social. 

Timidez é uma "maneira de ser", uma característica de personalidade. A pessoa não gosta de contatos com estranhos, de grandes grupos, de grandes reuniões, prefere poucos amigos, círculos menores, é mais recatada, fala pouco, é mais introspectiva, mais introvertida. O tímido não sofre de sintomas e não é incapacitado pela sua maneira de ser. Há inclusive pessoas notoriamente tímidas que são atores, cantores ou músicos, e capazes de ter ótimos desempenhos na frente de grandes públicos. O tímido assina cheques na frente dos outros, realiza tarefas observado pelos outros, sem sintomas de ansiedade. 

Fobia social (que agora passou a ser chamada de Transtorno de Ansiedade Social, segundo a Associação Americana de Psiquiatria) é uma doença. A pessoa sofre de sintomas físicos e mentais de ansiedade quando entra em contato com estranhos (sudorese, tremores, coração disparado, "branco na cabeça", tonteira, sensação de que vai desmaiar), principalmente quando tem que realizar algo na frente dos outros. O paciente não consegue, por causa dos sintomas de ansiedade, realizar atos simples como assinar um cheque ou levar o garfo até a boca, na presença de estranhos. 

Este quadro é completamente diferente da timidez. O paciente que sofre de da doença fica incapacitado, às vezes em graus extremos (um paciente nosso que não foi ao casamento da única filha). O "fóbico social" é incapaz de falar em público, mesmo para pequenos grupos. 

O termo social não é o ideal. O que ocorre com o paciente é que ele tem sintomas físicos e mentais na presença dos outros, principalmente estranhos, em qualquer tipo de situação, não necessariamente situações sociais.



Marcio Versiani, professor de Psiquiatria e Coordenador do Programa de Ansiedade e Depressão do Instituto de Psiquiatria da UFRJ

Nenhum comentário: