30 de março de 2011

A idade e a mudança




Mês passado participei de um evento sobre o Dia da Mulher.

Era um bate-papo com uma plateia composta de umas 250 mulheres de todas as raças, credos e idades.

E por falar em idade, lá pelas tantas, fui questionada sobre a minha e, como não me envergonho dela, respondi.

Foi um momento inesquecível...

A plateia inteira fez um 'oooohh' de descrédito.

Aí fiquei pensando: 'pô, estou neste auditório há quase uma hora exibindo minha inteligência, e a única coisa que provocou uma reação calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho? Onde é que nós estamos?'

Onde não sei, mas estamos correndo atrás de algo caquético chamado 'juventude eterna'. Estão todos em busca da reversão do tempo.

Acho ótimo, porque decrepitude também não é meu sonho de consumo, mas cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sozinhas.

Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas de senhoritas mesmo em idade avançada.

A fonte da juventude chama-se "mudança".

De fato, quem é escravo da repetição está condenado a virar cadáver antes da hora.

A única maneira de ser idoso sem envelhecer é não se opor a novos comportamentos, é ter disposição para guinadas.

Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos.

Mudança, o que vem a ser tal coisa?

Minha mãe recentemente mudou do apartamento enorme em que morou a vida toda para um bem menorzinho.

Teve que vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras, que havia guardado e, mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e simplificada, rejuvenesceu.

Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos.

Rejuvenesceu.

Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou um baita emprego por um não tão bom, só que em Florianópolis, onde ela vai à praia sempre que tem sol.

Rejuvenesceu.

Toda mudança cobra um alto preço emocional.

Antes de se tomar uma decisão difícil, e durante a tomada, chora-se muito, os questionamentos são inúmeros, a vida se desestabiliza.

Mas então chega o depois, a coisa feita, e aí a recompensa fica escancarada na face.

Mudanças fazem milagres por nossos olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna.

Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem, só que continuará opaco porque não existe plástica que resgate seu brilho.

Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar.

Olhe-se no espelho...


Lya Luft

8 comentários:

Isa Martins disse...

Oi Lena, realmente a mudança pode nos rejuvenescer, tanto a mudança de hábitos materiais quanto em nosso modo de agir diante da vida
Eu mudei tudo e como estou gostando dessa nova fase, outra cidade, outra casa e ainda quero mais...
Excelente texto, beijos pra ti!

Anônimo disse...

Lena querida

Tem toda permissão para usar meu poema no cartão para seu marido, isto muito me lisonjeia

Mil beijos, e obrigada pelo seu carinho sempre.

Pena disse...

Linda e Estimada Amiga:
Um belo retrato de si e da sua beleza.
Mais uma "explosâo" de ternura literária de sonho.
Adorei.
Dá vida às palavras com a sua pureza que revela sem esconder ou omitir nada.
Excelente!
Beijinhos amigos de respeito e gratidão pela visita adorável e terna ao meu blogue.
Sempre a estimá-la e a admirá-la

pena

Bem-Haja, amiga gigantesca.
É perfeita no que concebe.
MUITO OBRIGADO pela honra da sua amizade.
Adorei.

Anônimo disse...

Bom dia Lena!!
As mudanças são sempre difíceis, mas no fundo são sempre bem-vindas.
Não gosto de mesmices e comodidades.
Acho que a vida precisa estar sempre mudando, para que possamos acompanhar o ritmo das coisas, estar atenada e saber aproveitá-la da melhor forma possível.
Gosto muito da Lya Luft...Vc já leu um livro dela(um dos últimos) chamado "Múltipla escolha"?)Fantástico!!!!
Um abraço e um bom fim de semana.
Emilinha

Rafael Castellar das Neves disse...

Muito bem dito...reflexão muito boa!

[]s

Regina Antunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Lena, quando mudamos para melhor é sempre muito bom...
Fale a verdade, acretidem se quiser...

Abraços!

Vivian disse...

Oi, Lena!!

Que texto lindo da Lya!!!
Não conhecia!!Ah! Vou guardar comigo!!!
A mudança, são necessárias para que possamos continuar crescendo e evoluindo!!E ficar velha é mais que aparência...tem muitos jovens que parecem velhos...Já tem senhoras que não parecem velhas...justamente por manter a mente sempre ativa, sempre se renovando!!
Tive uma professora de pintura incrível, quando perguntei a idade dela, e me disse que tinha 68 anos, minha surpresa foi grande!!Quero ser como ela quando crescer!!!rsrsrs
E não era a aparência o que mais chamava a atenção nela e sim a luz que emanava do seu interior...
Beijos!!