As mudanças são inerentes à vida e nela, como no movimento das águas, existe um curso. A tentativa de represar este fluxo acarreta uma estagnação que, em algum momento, tenderá a romper de forma mais ou menos violenta. Contrário a este movimento se faz o apego que nos cristaliza na manutenção de vínculos, sejam sociais, econômicos, comportamentais ou emocionais.
O forte apelo do novo gera uma relação ambígua de atração e medo, de sedução e sofrimento. Quando vamos, também deixamos. É o luto inserido na vitória. A dor no prazer.
A dor da perda é necessária para a conquista do novo e será proporcional a intensidade do apego. Toda mudança acarreta uma perda inscrita em sua história e quanto mais apegados a este passado, maior o medo de mudar, levantando toda uma série de barreiras a que o novo se instale.
Um casal transporta para a sua relação suas tradições arraigadas, seus apegos. É como se despendessem mais tempo em manter e copiar que em criar e investir no novo.
Assim ocorreu com João e Maria. Vindos de famílias fechadas em seus princípios, fizeram de seu casamento uma prisão e, como em todo o aprisionamento, uma opressão. Aos olhos externos, era o casamento perfeito, pois espelhava todos os conceitos valorizados socialmente, da cordialidade à estabilidade, da criação primorosa dos filhos à higiene. Sim, higiene, pois as tradições clamam pela assepsia, onde o Eu não se revele em sua sombra. O não retratado também não é identificado, daí a imutabilidade da qual se alimenta a tradição.
Perfeito aos olhos externos e desconfortável para seus integrantes. Estagnação do Eu na escultura clássica da perfeição sem o gozo. Por fim, apenas o rompimento foi encontrado como saída para uma situação que nem mesmo eles entendiam. Como não foram capazes de manter uma relação tão "perfeita"?
Esta ruptura foi o movimento necessário para que ambos pudessem viver as mudanças pessoais, encarar e lidar com suas sombras, se achar e se perder sem medo. Crescer, em última análise, dentro de suas próprias características.
Para João e Maria, apenas a separação foi capaz de deflagrar as transformações que eles necessitavam. Mas é claro que este não é o único caminho. Se tivessem conseguido perceber o grau de expectativas que haviam projetado sobre a relação, começando pela atitude interna de ambos ao manter uma estrutura com a qual não se identificavam, e repudiando como ameaçadores o novo e a mudança, este relacionamento poderia ter tido outro destino.
A questão é que projetamos sobre as estruturas ou instituições externas, nossa tendência interna de temer as mudanças, tornando-as então sufocantes para nós. Por isso constantemente nos iludimos que mudando de emprego, de casamento, de morada, poderemos nos livrar do tormento interno da opressão que nos sufoca. Mas o externo é espelho do interno.
Enquanto projetarmos o medo sobre a ideia de mudança - veja que esta mudança se faz a cada minuto - enquanto nos apegamos a manutenção e impedirmos a renovação, a opressão permanecerá.
Ana S. Botto
O forte apelo do novo gera uma relação ambígua de atração e medo, de sedução e sofrimento. Quando vamos, também deixamos. É o luto inserido na vitória. A dor no prazer.
A dor da perda é necessária para a conquista do novo e será proporcional a intensidade do apego. Toda mudança acarreta uma perda inscrita em sua história e quanto mais apegados a este passado, maior o medo de mudar, levantando toda uma série de barreiras a que o novo se instale.
Um casal transporta para a sua relação suas tradições arraigadas, seus apegos. É como se despendessem mais tempo em manter e copiar que em criar e investir no novo.
Assim ocorreu com João e Maria. Vindos de famílias fechadas em seus princípios, fizeram de seu casamento uma prisão e, como em todo o aprisionamento, uma opressão. Aos olhos externos, era o casamento perfeito, pois espelhava todos os conceitos valorizados socialmente, da cordialidade à estabilidade, da criação primorosa dos filhos à higiene. Sim, higiene, pois as tradições clamam pela assepsia, onde o Eu não se revele em sua sombra. O não retratado também não é identificado, daí a imutabilidade da qual se alimenta a tradição.
Perfeito aos olhos externos e desconfortável para seus integrantes. Estagnação do Eu na escultura clássica da perfeição sem o gozo. Por fim, apenas o rompimento foi encontrado como saída para uma situação que nem mesmo eles entendiam. Como não foram capazes de manter uma relação tão "perfeita"?
Esta ruptura foi o movimento necessário para que ambos pudessem viver as mudanças pessoais, encarar e lidar com suas sombras, se achar e se perder sem medo. Crescer, em última análise, dentro de suas próprias características.
Para João e Maria, apenas a separação foi capaz de deflagrar as transformações que eles necessitavam. Mas é claro que este não é o único caminho. Se tivessem conseguido perceber o grau de expectativas que haviam projetado sobre a relação, começando pela atitude interna de ambos ao manter uma estrutura com a qual não se identificavam, e repudiando como ameaçadores o novo e a mudança, este relacionamento poderia ter tido outro destino.
A questão é que projetamos sobre as estruturas ou instituições externas, nossa tendência interna de temer as mudanças, tornando-as então sufocantes para nós. Por isso constantemente nos iludimos que mudando de emprego, de casamento, de morada, poderemos nos livrar do tormento interno da opressão que nos sufoca. Mas o externo é espelho do interno.
Enquanto projetarmos o medo sobre a ideia de mudança - veja que esta mudança se faz a cada minuto - enquanto nos apegamos a manutenção e impedirmos a renovação, a opressão permanecerá.
Ana S. Botto
14 comentários:
Lena,
Os medos manifestam-se em qualquer enquadramento. Uma relação mais fechada tem as suas virtudes e os seus defeitos, depende sempre do posicionamento de cada um. E, como sabemos, tudo é relativo.
Gosto de liberdade, mas sei que esse conceito tem a ver muito com a matéria de que sou feito. Por isso caminho a partir desse enquadramento. Creio que, quando queremos criar situações tipo, apenas estamos a dar azo à nossa necessidade de catalogar. Apesar das boas intenções.
(Gosto de a ler, suscita-me sempre reflexões...)
Beijo :)
De fato Lena a vida é uma constante mudança.. e é necessário que estejamos sempre prontas e receptivas a cada uma delas!
Beijocas super em seu coração...
Verinha
Muito interessante este texto!
O que todos devemos fazer é acabar com este receio de mudanças.
Talvez sejam as mudanças, toda essa transitoriedade que faça a vida interessante, intensa.
Beeijo*
e é esse ir da vida que leva a tudo e todos que faz com que muitos grudem nas margens feito arbustos, uma luta vã poruque dia menos dia serão levados
e é esse ir da vida que leva a tudo e todos que faz com que muitos grudem nas margens feito arbustos, uma luta vã poruque dia menos dia serão levados
Lena,
Adoro passar aqui e ler textos que só me acrescentam.
A vida é feita disso mesmo, de mudanças.
Mesmo que dê muito medo de arriscar, elas são necessárias.
Ficar estagnada na vida é que não dá.
Um beijo pra ti!
Lindo texto !!! Permitir nossas mudanças , sem medo, mas com a cautela de nos entregarmos a vida é essencial ao amadurecimento ! Um abraço, Fabiola.
Como diz a clássica música :"Eu prefiro ser essa metamorfóse ambulante..." As pessoas têm medo de mudar, preferem conformar-se com situações. Cada dia é um dia diferente e cada passo nos tornamos diferente do que éramos anteriormente. Mudança é fundamental em nossa vida, dentro e fora de nós :) Boa semana pra ti querida...bjos.
...Eu tenho medo é de nunca mudar...
Toda mudança acarreta um pouco de medo, de dúvida, de surpresa.
Mas mudar de vez enquanto é preciso.
Água parada apodrece.
Bjs e uma boa semana
Lena, deixei um troféu para vc em meu blog. Muita paz!
Lena minha querida amiga ... a vida esta feita de mudancas todo dia muda alguma coisa... so esta en noss saber estar atentos a esas mudancas... mais nunca com medo delas.. e sim com muita fe e esperanca en elas.... linda entrada amiga minha-...
saludos
otima semana
abracos
Quaase quatrocentos já em flor!
Ee esse texto sobre mudança?! Uau!!!
Espetacular! Com certeza ♥
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