6 de junho de 2011

Diário de emoções





Quantas vezes você sentiu angústia, uma dor no peito incontrolável, uma vontade imensa de colocar para fora o que sentia, com a nítida sensação que se não falasse iria explodir e percebeu que não havia ninguém com quem falar? Ou ainda, quantas vezes desabafou com alguém que confiava e depois tudo aquilo que foi confidenciado tornou-se alvo de fofocas ou comentários maldosos?

Já percebeu as infinitas vezes que procurou alguém para falar o que estava sentindo e era só parar para respirar, o outro logo vinha contando a própria história, deixando-o com a sensação de que não foi ouvido? E naquele momento você precisava apenas de alguém com sensibilidade para que o ouvisse com atenção para aliviar sua dor.

A experiência do outro pode até ajudar, mas o que acontece mesmo é que todos estão tão ansiosos para falar, que nem percebem o momento que devem calar e permitir que quem os procurou tenham apenas um ombro para chorar. A última coisa que você queria era ouvir mais problemas, já que naquele momento estava difícil suportar os seus, não é mesmo?

E você desejando apenas alguém que o ouvisse, teve que suportar julgamentos, críticas e opiniões, que sequer havia pedido. Parece que o fato de falar dá ao outro o direito de julgar, emitir opiniões, mesmo quando não solicitado.

Há ainda aqueles que nos dão seu silêncio, mas não o silêncio de apoio que se demonstra num olhar, num abraço apertado; oferecem-nos aquele silêncio que não há outra forma de interpretar senão como desprezo, indiferença, e acabamos somando mais uma dor, nos fazendo sentir que nossos sentimentos não têm valor algum. E como isso também dói.

Os sentimentos e emoções afetam todo nosso organismo, como todos nós sabemos. Como não é algo que podemos visualizar, é abstrato, muitas vezes temos dificuldade em identificá-los ou entendê-los e assim, elaborá-los. Sentimos angústia, cansaço, uma grande confusão que nos impede até de pensar e, fugimos. Não queremos pensar e muito menos enfrentar, ainda que inconscientemente. Mas logo a angústia insiste em retornar como se fosse para nos lembrar que há algo mal resolvido dentro de nós.

Nesse momento, muitas vezes, o melhor amigo poderá ser um papel em branco... é isso mesmo, uma folha onde você poderá escrever tudo o que sente, sem julgamentos, ou ainda no computador, mas só tome o cuidado para que outra pessoa não tenha acesso às suas anotações.

Quando você escreve o que sente, permite uma conexão com você mesmo e com tudo aquilo que você tem de mais valioso: seus sentimentos. Ainda que ninguém os respeitem ou considerem, você deve respeitá-los e acima de tudo, ouvi-los.

Ao escrever, você adquire antes de tudo autoconhecimento. Você pode escrever o que está sentindo no momento, ou escrever sobre toda sua história, principalmente momentos que marcaram sua vida. Isso trará um entendimento mais profundo de muitas situações que foram deixadas de lado, mas nem por isso deixam de machucar.

Você pode fazer um diário, anotando tudo o que sente. Quando for escrever, não se preocupe com a caligrafia, acentos, pontuação, dê ouvidos apenas aos seus sentimentos, permitindo-se expressar apenas sua emoção. Ao escrever seus sentimentos, o lado direito de seu cérebro estará ativado, que é a parte responsável pelas emoções, e ao preocupar-se com a letra, ativará o lado esquerdo, responsável pela razão, e que poderá bloquear suas emoções. Por isso, não se preocupe com nada, apenas em colocar em palavras o que sente.

No começo será natural sentir um pouco de dificuldade, mas se deixar fluir tudo o que estiver sentindo, sem querer entender ou justificar, aos poucos perceberá que os sentimentos virão e seus dedos correrão sobre o papel ou teclado com muita facilidade. Se estiver muito confuso, poderá escrever o que estiver sentindo separando por áreas da sua vida, por exemplo, profissional, financeiro, afetivo, familiar, pessoal, pois muitas vezes a confusão se instala quando misturamos tudo.

Depois que suas emoções foram colocadas no papel, você poderá em outro momento em que estiver mais calmo, ler o que escreveu e analisar, agora sim com a razão, sobre tudo que estava sentindo. Isso fará com que perceba mais claramente seus sentimentos e também os motivos que os despertaram. É como se organizasse sua mente, equilibrando sua emoção com a razão.

Podemos encontrar nas letras os motivos e o entendimento dos próprios sentimentos. Você pode também escrever, se for o caso, para alguém com quem você não consegue verbalizar o que sente, seja depois de uma briga ou apenas para expressar seus sentimentos, sem pensar em entregar, apenas para desabafar o que sente.

Mas escrever serve mesmo para conhecer-se! Descobrir o que pensamos sobre nós mesmos e também os sentimentos que são despertados dentro de nós por aqueles com quem convivemos eleva nossa percepção de nós mesmos. É como um levantamento de nossas idéias e uma auditoria nos sentimentos. É uma maneira de comprometer-se consigo próprio, transformando o raciocínio em palavras que podem ser relidas, analisadas, sem defesas ou fugas, que muitas vezes acontecem quando ficam limitadas apenas aos pensamentos.

Depois de tudo analisado, você poderá, se quiser, rasgar, amassar, queimar, jogar no lixo, deletar, ou ainda, poderá guardar para ir observando, cada vez que reler, seu próprio progresso, suas conquistas, sua capacidade de superar obstáculos que a princípio pareciam intransponíveis. Escrever é altamente terapêutico e torna-se cada vez mais fácil com a prática. Você só saberá se começar. Você tem uma folha de papel em branco?...



Rosemeire Zago 



Porcupine Tree - Sentimental


29 comentários:

MA FERREIRA disse...

Lena...boa sugestão essa.
Porque tudo tem um sentido mais forte na hora em que estamos sentindo, experimentando, dentro da experiencia.
Escrever nesses momentos é bom, pq sai da alma, com muita emoção.

Depois de um tempo, se lermos o que escrevemos, muitas vezes vemos que exageramos um pouco.

Acredito ser terapeutico escrever.

A emoção costuma ser uma lente de aumento. Depois a razão acalma..
Um grande beijo..

Ma

Anônimo disse...

Por isso escrevo tanto...não existe mais espço para guardar aqui dentro..bjs ..bom dia

Meire Oliveira disse...

Lena, minha querida eu escrevo para caramba, que o diga minha agenda rsrs Escrever o que eu sinto sempre me foi indispensável minha amiga, sempre me alivia um cadinho da dor, da angústia. Na época da faculdade quando eu não estava legal por algum motivo eu chegava e ficava bem quietinha escrevendo e meus colegas se acostumaram com isso, me respeitavam. Eu escrevia para junto com as palavras tentar tirar tudo de ruim que eu estava sentindo, depois eu rasgava. Hoje eu desabafo com a agenda, no fim do ano releio e jogo fora. É mais ou menos como falar porque cada vez que vc fala sobre alguma coisa vc olha por um ângulo diferente da situação, escrever tbm; vc escreve e quando volta para reler, lê com outros olhos. Escrever foi o que me ajudou muito a falar dos meus sentimentos, coisa que eu já tive muitaa dificuldade em fazer. E o melhor disso tudo é que a folha não vai sair contando para ninguém e nem vai te julgar :)
Saudades minha linda, tenha um início de semana maravilindo (maravilhoso+lindo) assim como vc, bjokitas com todo meu carinho.

Ale disse...

Lena,

Que dica sábia...
Um papel, escrever... Depois, com calma poder ler, avaliar os sentimentos, as sensações,

Sem correr o risco, de desabafar pra pessoa errada, ou envolver alguém, num conflito pessoal, e assim, sofrer ainda mais.


Uma semana linda,

Um beijo!

mfc disse...

Dói tanto esse diálogo de surdos quando desejamos a compreensão de alguém para um nosso problema.

Anônimo disse...

Lena eu escrevia muito sabe, mas agora bem menos assim como a leitura
Quando sinto a necessidade de colocar algo pra fora, vou às compras
Adoro entrar em uma loja e comprar, nem que seja de 1,99...srsrsr
Bjs Lena e uma boa semana

SOL da Esteva disse...

Lena

O Amigo(a) é aquele que sabe ouvir sem interrupções; é aquele(a) que está ali.
Infelizmente, o Amigo (gente)não sabe estabelecer a oportunidade de estar calado ouvindo; por isso o papel em branco, o diário, o gravador...
são dos melhores amigos que temos porque sempre podemos escutar o eco dos nossos ditos.

Beijo

SOL da Esteva
http://acordarsonhando.blogspot.com/

Mafalda S. disse...

Não imaginas como escrever me ajuda. Tenho diários para aí desde os 8 anos de idade, e são realmente um óptimo escape para os problemas do dia-a-dia. E também para as coisas boas, para os nossos sucessos, para nos lembrarmos que muito do que sonhamos, conseguimos alcançar.

Beijos

Anônimo disse...

Quantas e quantas vezes me senti assim .. e é bem dessa maneira mesmo Lena.. na hora que mais precisamos, não encontramos ninguém disposto a nos ouvir.. e por muitas vezes isso me deixava pior do que eu estava.. hoje aprendi.. nem procuro mais ninguém e nem faço uso do papel.. me recorro ao espelho.. falo comigo mesma. Essa é uma das duras lições que vamos aprendendo no decorrer da vida.

Um beijo grande em seu coração Lena!

Verinha

orvalho do ceu disse...

Olá, querida Lena
Por essas e outras que eu escrevo desde minha adolescência... é muito bom!!!
Uma folha em branco nos define quando a torneamos com palavras saídas do coração...
Bjs de paz

Imaculada disse...

Muito bom esse texto!
Ao escrevermos adquirimos um auto conhecimento e entramos em contato com com nosso Eu interior sem máscaras, o que faz avaliarmos melhor as situações que nos afligem.
Grande abraço e uma semana abençoada pra ti.

Anônimo disse...

Lena adorei o texto. E realmente uma forma de viver esse catatuau de emoções é escrevendo, já que nem sempre tem alguém disposto a nos ouvir eentender.
Beijos querida e uma semana maravilhosa pra você.

Fê Iasi disse...

Lena, que post reconfortante! Às vezes brinco dizendo que o word é o meu melhor amigo..rsrsrs...Bjo!

Nina Pilar disse...

lena querida,
teu texto é muito bom, escrever é desafiar nossos demônios, encurralá-los, deixá-los a deriva, é desnudar a nossa própria alma,
e mostrar-la sem nenhum pudor, muito bom , é assim mesmo,
estes sentimentos são contraditórios,
imprevisíveis,
e cheio de nós.
E qdo deixamos nossa assinatura, nossos pedaços desfolhados.

beijo amiga...

é muito bom vir aqui.

Unknown disse...

Lena

A minha melhor terapia.
Bem ou mal, não estou nem aí...mas sinto que se não escrevesse rebentava, e tudo isso porque na maioria das vezes evito dizer as coisas para não magoar as pessoas. Logo...vou enchendo e é na escrita que descarrego tudo o que me vai na alma.

Boa semana minha querida

Beijinho

MARILENE disse...

Se todos seguíssemos esse conselho e deixássemos as atitudes para depois, evitaríamos muitos atos passionais dos quais acabamos nos arrependendo.
A leitura do que escrevemos no momento da emoção nos mostra a realidade com outro formato.

Bjs.

Vera Lúcia disse...

Excelente, Lena.
Já havia lido algo a respeito e achei uma solução ótima, principalmente para aqueles que sentem dificuldades em externar suas emoções.
Concordo plenamente com esse tipo de terapia.
Beijos, querida.

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida

Um texto muito verdadeiro...há poucas pessoas que saibam ouvir o outro...apenas ouvir, por isso eu escrevo e nas palavras que derramo no papel, lavo a alma e expurgo os fantasmas, adorei.

Beijinhos
Sonhadora

Claudia Caprecci disse...

Excelente dica Lena!
Vou tentar fazer isso.
No CVV eles ouvem a pessoa,repetem o que ela disse para que ela possa ouvir o que falou.
Ouvindo o que acabou de dizer muitas vezes toma consciência de uma série de coisas que não conseguia perceber.
A verdade é que nossa ajuda está sempre dentro de nós mesmos.
Beijos.
Ótima noite!
Claudia.

Sobre o Tempo disse...

Escrever é a maneira que encontro de expressar meus sentimentos, mesmo que confusos.
Lena, pode postar o vídeo qdo quiser. Ótima semana! Bjs

Wanderley Elian Lima disse...

Oi Lena
Escreve no momento que se sente, e colocar no papel todas nossas emoções.
Bjux

Ingrid disse...

eu escrevo.. simplesmente ..sem pensar muito.. e me faz bem!
beijos Lena..

Marina disse...

Lena, grande dica pra todos, principalmente para aqueles que tem momentos de explosão... escrever é um exercício fascinante para a alma, trabalha nosso cérebro, nosso linguajar, as pessoas deveriam exercitar mais esse poder, assim ao falarem sairiam coisas agradáveis, mesmo em tempos de aflições, conflitos, aborrecimentos...eu amo escrever, já perdi a conta de quantas agendas, cadernos, folhas tenho escrito em todos os momentos... procuro calar e um pedaço de papel, uma caneta, seja o que for é meu terapeuta... e tá lá tudo registrado, as vezes quando deparo com eles, releio e penso, puxa, escrevi isso mesmo...pois saiu de dentro e muitas coisas foram resolvidas... isso é muito bom...bjs e um lindo inicio de semana cheio de aromas perfumados para alegrar seu ambiente.Giovanna

Yasmine Lemos disse...

Oi Lena,
o papel e a caneta sempre foram meus amigos mas pacientes, e neles muitas vezes despejo e até firo suas linhas,mas é preciso registrar ,embora nunca tenha coragem de rasgar "meus erros" ou angústias,leio tudo depois e me descubro novamente
beijo e uma semana de paz

Artes e escritas disse...

Um bálsamo para descrever o indescritível é escrever. Parabéns por mais essa bela postagem. Um abraço, Yayá.

Toninho disse...

Texto de uma bela analise de comportar-se.Onde podemos analisar como é bom o saber ouvir alem do escutar.Como interessante saber o momento de se isolar em nossas reflexões profundas e neste interim como ajuda o ombro,seja ele humano ou material.E no papel deixar pingar todas nossas mazelas, todos nossos quereres não satisfeitos e assim ir compondo parte de nossa historia.Muito bom Lena.
Um abração terno de paz e luz.

Débora Andrade disse...

Como diria a Clarice Lispector, eu escrevo para ouvir a minha alma cantando, falando, até mesmo chorando. Eu realmente me encontro quando escrevo, passo a me conhecer melhor, me compreendo. Dou apoio a mim mesma, dou colo a mim quando preciso, já que muitas vezes, se eu não o fizer, ninguém o fará. Tenho que começar a escrever mais sobre a alegria, porque sem que percebamos, nos tornamos aquilo que escrevemos. Talvez por isso, eu custe a melhorar, escrevo tanto sobre a minha dor pela necessidade que a minha alma tem de expulsá-la, que acabo, ao contrário, me aperfeiçoando nela.
Saudade, minha amiga!

Beijos, amo você!
Débora.

Só pra você disse...

Palavras verdadeiras! Muito bom o texto...


Beijocas

Tatiana Kielberman disse...

Mais um lindo texto da Rose...

Eu faço esse diário e funciona muito!

Beijos, querida Lena!