18 de outubro de 2011

E por falar em desapego...





Falar sobre desapego geralmente soa mal: dependendo do ponto de vista, parece complicado, pretensioso, arrogante e até falso e mentiroso. Quem, em sua vida, nunca sofreu por ter que abrir mão de alguém ou de algo que julgava ou sentia ser de estrema importância para si?

Quando crianças, o fato de saber que chegará um novo irmãozinho e que por isso o lugar de "único" deixará de existir, faz sofrer, assim como saber que frequentar a escola exige abrir mão do aconchego da mãe para aprender a caminhar sozinho. Mais difícil ainda, é aprender a viver em sociedade: emprestar brinquedos, dividir a atenção da professora, perder-se na multidão anônima da escola. Estes são os primeiros treinos conscientes de desapego: a descoberta que o mundo é muito maior do que o mundo pessoal, e que, para viver nele é preciso soltar-se e caminhar consigo e pelos próprios pés.

Diariamente, somos colocados frente a situações que nos levam a praticar, com bom senso, o desapego. É o modo que a vida tem de nos ensinar a sermos livres. Mas, de repente, a vida nos dá um chacoalhão: ela quer que cresçamos e, se parados, não saímos do lugar. Estes empurrões são proporcionais às nossas necessidades, mas apesar disso, muitas vezes é difícil entendê-los e aceitá-los. É muito comum a indagação angustiada: "Porque eu? Porque comigo?"

Poder. Status. Perdas de bens materiais, de emprego, de estabilidade financeira nos abalam terrivelmente, pois nos obrigam a nos separar da fonte de nosso conforto e estabilidade. É preciso reduzir despesas, deixar de lado o supérfluo, repensar as necessidades, o que implica em reavaliar valores pessoais e familiares, as verdadeiras amizades.

Implica em praticar o bom senso, a indulgência; em saber relevar e deixar ir tudo e todos que não conseguem se enquadrar na nova realidade. É um momento poderoso de descoberta dos amigos de verdade, e, sobretudo do próprio potencial ético, da força interior, do nível de autoconfiança e da certeza do merecimento pessoal na reestruturação de uma nova arquitetura profissional e financeira.

Desapego é deixar ir, sim, com gratidão pelo que se teve e pela oportunidade de poder e saber empreender novos caminhos.

Envelhecer. Não aceitar o estereótipo social de inutilidade, fragilidade, doença, solidão e medo, mas sim entender a beleza da maturidade, a riqueza das experiências vividas e deixar ir, sem dó e frustração, as idéias amargas da perda da juventude do corpo. Valorizar e praticar os bons hábitos adquiridos na estrada percorrida assim como as novas possibilidades dos novos tempos, do novo corpo, da nova inteligência intelectual e principalmente, a emocional. Desapego é deixar ir, sim, com gratidão pelo que se teve e pela oportunidade de poder e saber empreender novos caminhos.

Adoecer, perder a saúde e o bem estar físico. O tratamento médico é indispensável como também buscar as causas internas e externas, respeitando os limites do corpo e da alma. Neste caso, o desapego é não se revoltar; é a aceitação humilde e verdadeira da própria humanidade e de suas propriedades: a temporalidade e a mortalidade do corpo físico, o que não significa largar-se, não se cuidar, entregar-se. Isto seria negligência e omissão.

O foco principal é perceber que, apesar de termos em nós o poder divino e suas qualidades inerentes, o controle central ainda escapa de nossas mãos. Graças à nossa imaturidade espiritual e emocional, que nos impedem assumir plenamente o controle de nossa evolução pessoal, não temos a saúde plena em tempo total.

A doença nos fere como uma violenta bofetada, e nos mostra de forma dura e objetiva (embora achemos cruel e injusta) a nossa vulnerabilidade, impotência, ignorância, joga no chão nossa arrogância de sermos melhores que o resto do rebanho.

A doença e suas conseqüências e seqüelas são o grande desafio para nossa fé em uma inteligência maior e em sua justiça, embora não a compreendamos. São o teste para o desapego do controle sobre si próprio, sobre a família, sobre os bens materiais, sobre o futuro, sobre a morte e sobre a vida. E, diante da morte, o desafio da aceitação da temporalidade e da mortalidade; da entrega a uma nova etapa ainda desconhecida, permitindo-se deixar ir sem dor ou medo.

Luto. Morte. Dor. A grande perda do familiar querido, principalmente filhos. Dor maior não existe!

A dor da distância, da não presença física, da saudade. Mas é preciso se desligar, deixar ir, entregar à sabedoria do todo, para que haja evolução, mudança, crescimento, tanto pessoal quanto daquele que passou à outra dimensão. Isto é desapego, é deixar ir, sem dor; é amor verdadeiro, que tudo dá sem querer troca. Desapego é deixar ir, sim, com gratidão pelo que se teve e pela oportunidade de poder e saber empreender novos caminhos. É libertação do orgulho, da vaidade, do medo, da arrogância. Não desanime e deixe ir... Consciente e amorosamente troque e transforme-se para ter harmonia e luz. Muita paz!




Eda Cecília Marini 

19 comentários:

Gisa disse...

Concordo, mas a dor é difícil de controlar.
Um grande bj

Anônimo disse...

EL DESAPEGO ES UN INSTRUMENTO DE INDIVIDUALIDAD, DE AUTONOMÍA,DE LIBERTAD. MUCHAS GRACIAS POR COMPARTIR TAN IMPORTANTE TEMA.
UN ABRAZO

Mariazita disse...

Lena, minha amiga
É uma reflexão ótima, esta sobre o desapego.
É um caminho por vezes dificil de percorrer, especialmente quando envolve pessoas queridas que desaparecem. Com persistência e o passar do tempo acaba por surgir a conformação.

Uma semana feliz. Beijinhos

MARILENE disse...

Ai, minha amiga! O texto permite grandes reflexões, mas é difícil usarmos a razão em certos momentos. Falta-nos sabedoria para isso, pois não somos educados para perdas, para dor e sofrimento.

Bjs.

Ivana disse...

Só nos damos conta do quanto estamos apegados a alguém quando esse apego nos causa sofrimento e dor. Muitas vezes não somos capazes de avaliar o quanto o nosso apego nos prejudica e também as pessoas envolvidas. Ótimo texto, sempre com novos aprendizados.Um forte abraço, amiga, Lena.

marlene disse...

DESAPEGO MINHA QUERIDA CONTINUA A SER TRISTEZA DA PERDA SAUDADE SOFRIMENTO
MAS COM AQUELA CERTEZA DE UM DIA PODER ABRAÇAR DE NOVO SENTIR VER
IR AOS POUCOS AMENIZANDO O SOFRIMENTO COM FÉ COM ESPERANÇA,DE QUE ALEM DO HORIZONTE DEVE HAVER ALGUM LUGAR PARA QUE SE VIVA FELIZ SEM DOR SEM SEPARAÇÃO SEMPERDAS UM ABRAÇO CHEIO DE LUZ E DE PAZ COM CARINHO MARLENE

blog da Paraguassu disse...

Lena querida,
Sabemos que não é fácil, mas precisamos praticá-lo. O desapego faz parte de nossa vida. Como bem colocaste em teu texto, acompanha-nos desde crianças até o final de nossos dias aqui neste mundo. Seria muito egoísmo de nossa parte, se preferíssemos ver sofrer um ente querido por uma doença incurável, por exemplo.
Quando este parte, lamentamo-nos porque ficamos sem aquela pessoa a quem tanto amávamos. No fundo, pensamos em nós e não no sofrimento daquele que partiu e se viu livre de tantas dores.
Portanto, é importante que pensemos sobre isto. Na vida, por muitas vezes, iremos bater de frente com problemas e questões que nos afligirão e que exigirão muito desapego de nossa parte. Faz parte de nosso crescimento e evolução.
Uma linda semana para você, amiga.
Um grande beijo,
Maria Paraguassu.

Emília Pinto disse...

"Desapego é deixar ir, sim, com gratidão pelo que se teve e pela oportunidade de poder e saber empreender novos caminhos.". Isto sim define o desapego, mas, é dificil quando se trata de amores que se foram, de amigos que se afastaram, de ente queridos que não voltam mais; claro, eles se foram fisicamente, mas nos nossos corações continuam; isso é certo, mas a dor, a raiva muitas vezes, são dificeis de aguentar. Só com tempo... Desapego às coisa materiais, isso eu faço fácilmente; não me apego a casas, a roupas, etc; Costumo dizer que não tenho amor às coisa, mas sim às pessoas; quando vou ao Brasil de férias vejo a casa onde vivi...tenho saudades? Não...não tem lá ninguém..Sinto saudades do Brasil? Muitas. Porquê? Lá tenho os meus pais, amigos, irmão. Então eu apego-me a pessoas, não a coisas; estas deixo ir com facilidade; as outras sou obrigada a deixar ir, mas com sofrimento.
Belo texto no qual devemos refletir e aprender como fazer o desapego. Um beijinho e até breve
Emília

Maria Adeladia disse...

Lena, que texto belo!

O desapego é difícil! Eu geralmente sou e muito apegada às coisas...as pessoas! Tenho pavor em perder pessoas que amo!

Obrigada minha linda pela sua presença no meu, ou nosso espaço.
Amei seu comentário lá no blog.

Beijos.

Aleatoriamente disse...

Oi minha linda.
Esse texto é de uma sabedoria exemplar.
Mas Lena creio que somos tão humanos para muitas coisas, e que Deus na sua bondade e sabedoria, nos conduza por cada etapa. De maneira que possamos nos orgulhar de nosso modo de agir perante elas.

Beijinho amada.
Adoro-te.

Toninho disse...

A arte do desapego é terrivel e ardua, pois ela nos acompanha por toda vida e quando mais precisamos entende-la às vezes é quando mais fragil estamos..Mas sem aceita-la não há como ser feliz.
Belo texto amiga.
Saudade daqui.
Meu terno abraço de paz e luz.
Bju

Ingrid disse...

difícil, mas a gente aprende..
e vive melhor..
beijos querida Lena..

Sandra Portugal disse...

Amiga, que tristeza depararmos com dor, com envelhecimento, com doença, com perda, mas é tão inevitável quanto estar vivo!
Lindo!
bjs Sandra
http://projetandopessoas.blogspot.com//
PS:quinta-feira a entrevistada do Projetando Pessoas será a nossa querida Meire!

Anônimo disse...

Desapego,
só a idade ensina.
Volte sempre!
Bjs.

Roselia Bezerra disse...

Olá,querida
Lindíssimo!!!
Passei pro meu post de amanhã pois pá me deu permissão uma vez... de tanto que apreciei o final do seu post...
Passe lá amanhã, vou te esperar, amiga!!!
Bjm de paz

Cidinha disse...

Olá Lena. Maravilhoso texto. Exemplo de vida, a corrigir nossos erros. Aprendendo com a dor e o desapego para melhor seguirmos a vida. Não é fácil, más necessário pra se viver. Obrigada amiga! Quanta sabedoria! Bjos.

Meire Oliveira disse...

Minha linda e sweet Lenita, falar que é fácil é hipocrisia porque não é. Mas a prática do desapego é sim importante, pois nenhuma situação dura para sempre. Nosso corpo não dura para sempre e mesmo nossas ideias vivem em constante metamorfóse e isso não é ruim, isso se chama evoulir. Aceitar que as coisas mudam é o primeiro passo pra não viver numa constante revolta. O mundo dá voltas, as pessoas mudam, a gente muda. Mudança significa crescimento, então obviamente sem mudança estacionamos e isso não é cool para nós mesmos.

Muito boa a reflexão preciosa Madeirinha feita de material único! Te amo de montão, bjokitas estaladas de carinho :)

Rô... disse...

oi minha querida amiga,

lindo texto,
muito difícil desapegar-se de quem amamos,
mas a vida vai nos mostrando os melhores caminhos,
e temos que ir aprendendo,
mesmo que seja lentamente...

beijinhos
obrigada por mais essa linda
lição de bem viver!

An@ disse...

Eu nos últimos 3 anos tenho praticado o desapego e confesso que apesar de não ser fácil também existe a sensação de leveza e de bem estar por conseguirmos deixar ir seja aquilo que for.

Fez-me pensar nisto um amigo que uma vez me disse:
- Nesta vida apenas precisamos de uma mochila às costas, nada mais!

Eu pensei: E não é que ele tem razão!

É preciso "abandonar" algumas coisas ou situações que no fundo já não fazem parte do nosso "mundo" e nos prendem!

Beijos