1 de fevereiro de 2013

Como nos mantermos abertos quando o mundo se fecha para nós






Tem momentos em que o mundo se parece como um grande muro à nossa frente. Diante de problemas complexos ou nos deparando com o caos da cidade, temos que encarar o mesmo desafio mental: dissolver uma barreira que nos parece intransponível.

A internet não funciona, o trânsito está pesado, o barulho é intenso. Quando finalmente você chega ao local marcado, fica sabendo que seu compromisso foi cancelado... E assim vai, cada um conhece as resistências e os desafios que enfrenta no seu cotidiano. O ponto aqui é saber como nos mantermos abertos quando o "mundo" se fecha para nós.

O budismo nos ensina que nossa sanidade básica está sustentada pela capacidade interna de nos mantermos abertos e receptivos. Este senso de abertura nos permite atrair novas possibilidades. É como dizer: "Ok esta porta está fechada, mas posso ir por outra". O desafio está em conseguirmos manter um senso de perspectiva constante, principalmente quando nos defrontamos com uma porta fechada depois da outra.

Quando nossa mente se fecha, torna-se fixa e raivosa. O desconforto da falta de espaço dentro e fora de nós cresce na medida em que nos vemos paralisados, sem recursos para agir. Quando temos a sensação de não haver saída: tudo se torna agressivo. Onde quer que nos movamos, deparamo-nos com outro obstáculo. Por menor que ele seja, gera mais uma irritação. Como recuperar as forças diante de tanta pressão?

O melhor é parar. Desistir de insistir. Assim como a água se mantém turva enquanto estiver turbulenta, temos que nos aquietar para recuperar uma visão clara. Aquietarmo-nos sem nos deixarmos ser tomados por uma sensação de fracasso e derrota. Lama Gangchen Rinpoche me disse certa vez quando estava enfrentando alguns "portões fechados": "Não olhe para a sombra, mas para o lado da realidade. Uma mente cientista é capaz de analisar a realidade sem gerar dúvidas". Ou seja, devemos nos manter parados o tempo suficiente para que surja em nós a disponibilidade interna de olhar para todos lados. Pois, enquanto nossa mente estiver lutando para ver algo, permanecerá defensiva.

Os primeiros sinais de uma nova abertura mental surgem quando temos o desejo de conhecer algo sem intelectualizar demais. Deixar-se levar por uma certa curiosidade, mas sem ainda aprofundar nossos conhecimentos de forma a já definir o caminho a seguir.

Na medida em que nos conectamos com esta sensação de interesse pela novidade recuperamos nossas forças, pois é a partir desta nova atitude que nos damos uma nova chance. Quanto mais perspectivas tivermos, mais seguros nos sentiremos para seguir adiante.

Durante esta "parada obrigatória", podemos aproveitar o tempo para recuperar uma visão panorâmica e reconhecer como as coisas estão ligadas umas às outras. A partir desta visão interdependente, novas perspectivas podem se manifestar. Caso contrário, será como agitar novamente a água, tornando-a turbulenta. Temos que parar o tempo o suficiente para recuperar o espaço interior.

O budismo nos lembra que a raiz de nossos pensamentos de sofrimento está no hábito de dar solidez à realidade. Quando projetarmos a ideia de que as coisas são imutáveis, densas e concretas, criamos uma separação entre nós e o "outro", entre o que acontece dentro e fora de nós. Quanto maior for a ideia de que as coisas são fixas maiores nos aparecerão os obstáculos.

Ao ser perguntado: "Como lidamos com as situações práticas da vida enquanto tentamos ser simples e experimentar o espaço?" Trungpa Rinpoche respondeu: "Veja bem, a fim de experimentar o espaço aberto, precisamos também experimentar a solidez da terra, da forma. Eles são interdependentes. Muitas vezes damos um aspecto romântico ao espaço aberto e depois caímos em armadilhas. Contanto que não romantizemos o espaço aberto, imaginando-o um lugar maravilhoso, mas relacionando o espaço à Terra, evitaremos as armadilhas. O espaço não pode ser experimentado sem os contornos da Terra para defini-lo. Se formos pintar um quadro do espaço aberto, teremos de expressá-lo em termos do horizonte da Terra.

É preciso, portanto, voltarmos aos problemas da vida cotidiana, aos problemas banais. Essa é a razão de serem tão importantes a simplicidade e a precisão das atividades diárias. Se percebermos o espaço aberto, deveremos retornar às nossas velhas, familiares, claustrofóbicas situações de vida e examiná-las mais de perto, esquadrinhá-las, absorvermo-nos nelas, até que o absurdo de sua solidez nos chame a atenção e possamos ver-lhe também a qualidade de espaço". Em seguida, perguntaram-lhe: "Como nos relacionamos com a impaciência que acompanha o período de espera?" E ele apenas disse:"A impaciência significa que não temos uma compreensão completa do processo. Se virmos a totalidade de cada ação, deixaremos de ser impacientes". (Chögyam Trungpa, Além do Materialismo Espiritual, Editora Cultrix).

Bel Cesar

3 comentários:

Toninho disse...

Que saudade deste Amadeirado.
Uma bela escolha para reflexão sobre a espera e o processo de estresse que tanto tem feito vitimas.É preciso arte Lena, para saber respirar e atravessar este muros sobre uma corda esticada.
Bom lhe ver por aqui.
Meu terno abraço mineiro amiga.
Bom e belo fim de semana com paz e alegria.
Bjo.

Rô... disse...

oi Lena,


sabe que tenho uma amiga budista,
e aprendo muito com ela,
bom demais conhecer outras crenças,
e respeitar as diferenças...

beijinhos

Ingrid disse...

o exercício da tranquilidade..
bela escolha linda Lena..
beijo e lindo findi..