30 de setembro de 2010

Baixinhas e jeitosas




Uma das poucas coisas divertidas de que eu me lembro da separação dos meus pais foi ouvir minha mãe dizer que, depois de 20 anos, finalmente poderia usar sapatos altos de novo. Ela era um pouco mais alta que meu pai e evitava exacerbar a diferença usando saltos.

Essa história tem pelo menos 30 anos, mas acho que a dificuldade persiste. Altura ainda é uma questão entre casais. Poucas mulheres têm coragem de se envolver com homens menores do que elas. E há poucos caras com personalidade para sair na rua abraçado a uma mulher maior do que ele. Claro, milhões de casais que não cabem nessa regra, mas ela existe – e está sendo reforçada pela moda.

Ontem ao entrar numa loja de sapatos vi uma moça alta e magra experimentando um sapato com plataforma exagerada. Sem salto, ela teria 1,80. Com salto, ficava imensa e desengonçada. A moça estava insegura, mas a vendedora incentivava: “Está lindo, querida”. Não estava. Saí da loja pensando se havia um inferno para vendedores que mentem. Nas lojas as pessoas são movidas pelo desejo. Mas, de onde vem o desejo das mulheres de ficarem tão altas?

Nem toda mulher fica sensual de salto alto. Tem gente que fica só mais alta. Não adianta por salto enorme e andar com os joelhos dobrados. Elegância e sensualidade têm a ver com os movimentos. Gente de aparência rígida não seduz. Mulheres que se mexem com graça ganham pontos.

Quando eu era criança, minhas irmãs, já adolescentes, andavam pela casa de salto alto com um livro equilibrado na cabeça. Eu ria com aquilo, fazendo com que elas também rissem e derrubassem o livro. Não sei se esse treinamento ainda se aplica, mas possa afirmar que as minhas irmãs, depois de adultas, só vestiam salto alto para as festa de casamento.

Os brasileiros têm uma queda acentuada por mulheres pequenas e jeitosas. Somos um país de estatura média e nossos mitos eróticos estão abaixo disso. Desde sempre. Lembro da Carmem Miranda, Sonia Braga e Ana Paula Arosio. Todas pequenas. Carolina Dieckmann, outra moça linda,tem 1,60. Daniela Mercury, miúda. Outro dia me disseram que Shakira, a cantora mais desejada da América do Sul, tem 1,55. Só. Grande mesmo é Gisele Bündchen, que tem 1,79. Mas é inútil tentar se parecer com ela, não?

O fato é que sucesso no Brasil não depende de tamanho. Claro, um salto agulha alonga as pernas, empina o traseiro e dá, à maioria das mulheres, um ar mais sensual. Mas não precisa ser toda hora. Se uma moça baixinha aparece de salto na noite da festa, o impacto é enorme. Não tem de repetir o truque todo dia. Há o risco de banalizar.

Minha impressão é que cada um de nós tem uma medida de parceiro ou parceira que lhe cai bem. Existe até frase feita para isso: é o meu número. Quando você abraça, dá um encaixe. Quando dança, tudo combina. Quando deita, fica melhor. Achar bonita uma mulher alta não quer dizer que o seu corpo vá ficar feliz com ela. Olhar é uma coisa, transar pode ser outra, bem diferente.

Mas encaixe não quer dizer, necessariamente, baixinho com baixinha e alto com alto. Prefiro pensar nisso como a química do tamanho dos corpos. Qual é a sua? Seres humanos são flexíveis e as possibilidades de encantamento são infinitas. Importante, eu acho, é que cada um de nós descubra a sua própria elegância. As mulheres altas não precisam se curvar para parecer mais baixas. E as pequenas não deveriam se maltratar para ficarem maiores.

Graça não tem tamanho. Sedução é jeito e movimento. Com o passar do tempo, a gente descobre do que gosta e quem gosta da gente. Fato.


 Ivan Martins

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