23 de setembro de 2010

A mulher e a dor



Quanto mais a medicina avança no conhecimento sobre os mecanismos da dor, mais se aproxima da definição de Platão. Por volta de 380 a.C., ele classificou a dor como uma experiência “do corpo e da alma”.

A dor não é disparada apenas por sensores nervosos. Depende das emoções, da memória, dos hormônios. É por isso que muitas vezes não pode ser debelada apenas com medicamentos. Quem não conhece alguém que sofre de dor crônica, passa a vida se entupindo de remédios e não encontra alívio?

As mulheres sofrem mais. Alguns estudos sugerem que a enxaqueca acomete três mulheres a cada homem. O mesmo ocorre com as dores lombares. A relação é ainda mais desigual no caso da fibromialgia: sete mulheres sofrem do problema enquanto apenas um homem passa por isso. O que explica a diferença? Há várias razões. Mecanismos biológicos explicam parte do problema. Mas influências psicossociais, como ansiedade, depressão e relações familiares, também contam muito.

Determinados perfis emocionais favorecem o aparecimento da dor. Pessoas depressivas, pessimistas, hipocondríacas ou rígidas demais costumam ter mais dores. Variáveis sociais como desilusões amorosas, desemprego e perda de padrão de vida também interferem na gênese da dor. Quando a pessoa não consegue lidar bem com essas situações estressantes, ocorre um desgaste mental que provoca reações fisiológicas. O cérebro acostuma-se a responder a qualquer situação negativa disparando os mecanismos da dor.

A relação entre emoções e dor crônica é estudada pelo Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho, em São Paulo. Durante um ano, foram mapeados os principais fatores emocionais que influenciam na qualidade de vida de 173 mulheres e foram descobertas coisas interessantes:

• 74% percebem que a depressão aumenta a dor;

• 65% sentem que o stress aumenta a dor;

• 56% dizem precisar de mais carinho quando sentem dor;

• 43% reconhecem que é possível aprender a lidar com a dor; e,

• 36% dizem que a dor diminui quando estão relaxadas

Um outro índice chama a atenção: 58% das mulheres se dizem decepcionadas com os remédios. Desistiram de procurar ajuda. É o sinal de que o tratamento da dor necessita de outras estratégias. O apoio psicológico torna-se fundamental e não necessariamente tem que ser psicoterapia.

É grande a eficácia de grupos de apoio nos quais as pessoas que sentem dor possam se reunir e trocar experiências. Mulheres que sentem dor o tempo todo acham que chateiam a família. Desistem de falar sobre o assunto e ficam amarguradas. Depois de um ano de encontros com outras mulheres, a dor de muitas delas diminuiu. Isso reafirma algo que muita gente acha que sabe, mas nem sempre aplica: ninguém merece sofrer sozinho e em silêncio.



Autor: Cristiane Segatto

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