3 de novembro de 2010

Comer, Rezar, Amar: uma visão masculina



Elizabeth Gilbert, a autora de "Comer Rezar Amar," era infeliz em seu casamento e, por isso, decidiu tirar um ano sabático viajando pelo mundo. Liz buscou o equilíbrio pessoal comendo na Itália, rezando na Índia e amando na Indonésia. Bonita a história, não?

Principalmente se ela tiver final feliz. Julia Roberts, que interpreta a escritora no filme, encara mais uma vez o papel de heroína – vocês devem se lembrar de Erin Brockovich. Mas nem tudo foram flores na vida dos HOMENS com quem Liz se relaciona nesta história.

Ela tinha uma carreira consolidada como escritora, contava com um círculo de relacionamentos em Nova York que não a deixaria se sentir sozinha – a não ser se assim ela quisesse – e era casada com um homem que a amava, que a amava muito. Num dia ordinário, Liz decide e comunica ao marido que não quer mais fazer parte daquele casamento. Ele não entende nada. Esta é mais uma história de relacionamento em que a mulher acha que deixa claro para o marido a sua infelicidade e ele, por sua vez, acha que está tudo bem. Elas, que querem tanto discutir a relação, talvez precisem deixar mais claro o que passa dentro de suas cabeças, por mais que muitas vezes nem elas mesmas o saibam. Esse era o caso de Liz.

Que atire a primeira pedra a mulher que assistiu ao filme e não se emocionou na cena em que as condições do divórcio são negociadas. Stephen, o marido rejeitado, abre mão de tudo em prol do seu casamento. Liz, com a frieza que muitas mulheres comumente atribuem aos homens, diz que ele vai encontrar alguém que o ame do jeito que ele é. Depois de destruir esse coraçãozinho, a escritora ainda se envolve com um jovem ator que protagoniza uma peça baseada num de seus livros. Ironicamente, ele se parece com o ex-marido de Liz.

Ironicamente, ele também leva uma vida instável. Ironicamente, ele é feliz ao lado de Liz. Ironicamente, ela se cansa dele. A mulher vai morar com um garoto que é igual ao seu ex-marido (15 anos mais novo, porém) e sai da casa dele dizendo que não aguentava mais aquilo. Aquilo o quê? Se foi ela quem o procurou – ou pelo menos procurou, num corpo mais sarado, tudo o que já tinha vivido com o ex.

Ok. Se a solução era viajar e fugir dos problemas, “buscar o equilíbrio”, os problemas de Liz tinham o prazo de um ano para se resolver. Evidentemente, nada é tão fácil. Fazer amigos na Itália, aprender o idioma do país, comer muita pasta e ainda se sentir feliz com os “pneus” que se fazem notar não é para qualquer mulher. Ponto para Liz. Isolar-se do mundo externo para rezar num retiro espiritual na Índia e buscar o controle sobre os próprios pensamentos – de mulher! – não é fácil. Mais um ponto para Liz. Em Bali, na Indonésia, o objetivo da escritora era se reencontrar com um curandeiro que um ano antes lhe havia prometido ensinar tudo o que ele sabia.

Junto ao aprendizado, Liz, que de alguma maneira se sentia melhor consigo mesma após as passagens pela Itália e pela Índia, deparou-se com a prova final da sua recuperação: um homem. E não é que todo o aprendizado – e equilíbrio – chegam à beira do precipício novamente?

Pois não são só os homens que precisam perder o medo de relacionamentos e aprender a amar. A culpa não é só nossa!


Carlos Giffoni 
 

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