3 de novembro de 2010

Meu maior medo



 
Meu maior medo é viver sozinho e não ter fé para receber um mundo diferente e não ter paz para se despedir.

Meu maior medo é almoçar sozinho, jantar sozinho e me esforçar em me manter ocupado para não provocar compaixão dos garçons.

Meu maior medo é ajudar as pessoas porque não sei me ajudar.

Meu maior medo é desperdiçar espaço em uma cama de casal, sem acordar
durante a chuva mais revolta, sem adormecer diante da chuva mais branda.

Meu maior medo é a necessidade de ligar a tevê enquanto tomo banho.

Meu maior medo é conversar com o rádio em engarrafamento.

Meu maior medo é enfrentar um final de semana sozinho depois de ouvir os programas de meus colegas de trabalho.

Meu maior medo é a segunda-feira e me calar para não parecer estranho e anti-social.

Meu maior medo é escavar a noite para encontrar um par e voltar mais solteiro do que antes.

Meu maior medo é não conseguir acabar uma cerveja sozinho.

Meu maior medo é a indecisão ao escolher um presente para mim.

Meu maior medo é a expectativa de dar certo na família, que não me deixa
ao menos dar errado.

Meu maior medo é escutar uma música, entender a letra e faltar uma companhia para concordar comigo.

Meu maior medo é que a metade do rosto que apanho com a mão seja convencida a partir com a metade do rosto que não alcanço.

Meu maior medo é escrever para não pensar.


Fabrício Carpinejar
Trecho de "Pais e filhos, maridos e esposas II"

Um comentário:

josenaide coelho disse...

pra k tanto
medo????quem tem medo de viver não mereçe viver,viver pra k se tem medo da vida,lindo tudo isso.......