30 de novembro de 2010

O bom humor faz bem para saúde




“Procure ver o lado bom das coisas ruins.” Essa frase poderia estar em qualquer livro de auto-ajuda. Mas, segundo os especialistas que estudam o humor a sério, trata-se do maior segredo para viver bem. Não se trata de ver o mundo com os olhos róseos de Pollyanna. Esse tipo de flexibilidade para encarar os acontecimentos ruins não garante apenas algumas risadas: pode fazer bem para a saúde.

O bom humor é a expressão de que o corpo está bem. Ele depende de fatores físicos e culturais e varia de acordo com a personalidade e a formação de cada um. Mas pode ser ajudado com uma visão otimista do mundo. Um indivíduo bem-humorado sofre menos porque produz mais endorfina, um hormônio que relaxa. A endorfina aumenta a tendência de ter bom humor. Ou seja, quanto mais bem-humorado você está, maior o seu bem-estar e, conseqüentemente, mais bem-humorado você fica. A endorfina também controla a pressão sanguínea, melhora o sono e o desempenho sexual.

Mas, mesmo que não houvesse tantos benefícios no bom humor, os efeitos do mau humor sobre o corpo já seriam suficientes para justificar uma busca incessante de motivos para ficar feliz. O indivíduo mal-humorado fica angustiado, o que provoca a liberação no corpo de hormônios como a adrenalina. Isso causa palpitação, arritmia cardíaca, mãos frias, dor de cabeça, dificuldades na digestão e irritabilidade. A vítima acaba maltratando os outros porque não está bem, sente-se culpada e fica com um humor pior ainda. Essa situação pode ser desencadeada por pequenas tragédias cotidianas, como  uma conta para pagar, que só são trágicas porque as encaramos desse modo.

Evidentemente, nem sempre dá para achar graça em tudo. Há situações em que a tristeza é inevitável – e é bom que seja assim. A alegria favorece a integração e a tristeza propicia a introspecção e o amadurecimento. Temos de saber lidar com a flutuação entre esses estágios, que faz parte da natureza humana. O humor pode variar da depressão (o extremo da tristeza) até a mania (o máximo da euforia). Esses dois estados são manifestações de doenças e devem ser tratados com a ajuda de psiquiatras e remédios que regulam a produção de substâncias no cérebro.

Enquanto as consequências deletérias do mau humor são estudadas há décadas, não faz muito tempo que a comunidade científica passou a pesquisar os efeitos benéficos do bom humor. O interesse no assunto surgiu há vinte anos, quando Norman Cousins publicou o livro Anatomia de uma Doença, contando um impressionante caso de cura pelo riso. Nos anos 60, ele contraiu uma doença degenerativa na coluna vertebral, chamada espondilite ancilosa, e sua chance de sobreviver era de apenas uma em quinhentas. Em vez de ficar no hospital, ele resolveu sair e se hospedar num hotel das redondezas, com autorização dos médicos. Sob os cuidados de uma enfermeira, com o corpo quase paralisado, Cousins reunia os amigos para assistir a programas e seriados cômicos na TV. Gradualmente foi se recuperando até voltar a viver e a trabalhar normalmente. Ele morreu em 1990, aos 75 anos.

Hoje há muitos profissionais de saúde que defendem a entrada das risadas no dia-a-dia dos pacientes internados. O mais radical deles é Patch Adams, um médico americano que construiu o primeiro “hospital bobo” do mundo. Adams quer que os doentes dêem risadas enquanto se recuperam. Uma boa gargalhada é um método ótimo de relaxamento muscular. Isso ocorre porque os músculos não envolvidos no riso tendem a se soltar. Está aí a explicação para quando as pernas ficam bambas de tanto rir ou para quando a bexiga se esvazia inadvertidamente depois daquela piada genial. Quando a risada acaba, o que surge é uma calmaria geral. Além disso, se é certo que a tristeza abala o sistema imunológico, sabe-se também que a endorfina, liberada durante o riso, melhora a circulação, a capacidade de resistir à dor e a eficácia das defesas do organismo.

Fábio Peixoto  
Artigo adaptado por Lena Simões

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