4 de dezembro de 2010

Paul ou John?



Quem foi o melhor dos Beatles, Paul McCartney ou John Lennon? A pergunta continua a fazer parte do imaginário global. E ela volta às conversas com a coincidência das datas dos shows de Paul McCartney no Brasil agora em novembro e os 30 anos do assassinato de John Lennon, que ocorreu em 8 de dezembro de 1980. Paul ou John?

A resposta não é tão clara quanto possa parecer. Evidentemente, Paul está vivo e saltando de um lado para outro do palco (às vezes escorregando) em sua Up and Coming Tour. E vivemos das lembranças de John e de sua obra. Tudo isso faz de Paul o aparente vencedor. Para os brasileiros, foi o único beatle que apareceu por aqui. O público estava sedento havia mais de 40 anos por uma apariçãozinha que fosse. Quando Paul esteve no Brasil em 1990 e 1993, ele vivia uma fase de afirmação solo, estava banda The Wings, que durou até 1981. Só nos últimos cinco anos assumiu a bandeira de gestor do espólio dos Beatles. E nos presenteou agora com o que resta da aura da beatlemania. Em termos de materialização, Paul ganhou.

Mas, é preciso observar que as recordações de John são muito fortes. Os lançamentos em torno de sua obra são tantos, que podem ofuscar a presença de Paul: a discografia de John em caixa com 11 álbuns remasterizados sob a supervisão de Yoko e uma série de biografias sobre o músico. Isso para não falar da reedição das duas compilações The Beatles:Red and Blue, de 1973.

Em 2009, o lançamento do videogame The Beatles Rock Band foi fundamental para recolocar as canções dos Beatles na alma da garotada. Em um verdadeiro processo de marketing, as novas gerações passaram a amar os Beatles, como o fizeram seus pais e avós. Crianças e adolescentes compareceram em peso e cantaram com o músico quase todas as músicas de cor. Nem os pais deles sabem as letras tão bem.

Os momentos menos bons foram quando ele cantou suas músicas recentes. O melhor de Paul mora no passado, entre 1962 e 1969, período em que compôs ao lado de John Lennon. Não deixa de ser patético ver um senhor de 68 anos preconizando o culto ao ontem em Yesterday, música que ele canta com especial fervor. Paul promove um show gigantesco e excelente em chama para si a responsabilidade de levar adiante o legado dos Beatles (1960/70). Up and Coming Tour é o show do culto aos mortos. Porque a inspiração de Paul morreu aos poucos, e o ápice dela aconteceu ao lado de John.

Claro que, ao morrer, a obra de John ficou presa a seu tempo e não teve como se renovar com as aquisições técnicas que se sucederam ao longo dos últimos 40 anos. O único recurso foi a viúva Yoko Ono administrar a obra com relançamentos.

Quando Paul anunciou o fim da banda em 1970, Paul se considerou o maior prejudicado. Os outros três se uniram e acusaram injustamente Paul de “capitalista”. Paul comeu quente o prato da vingança: recentemente ele resgatou toda a obra dos Beatles e a incorporou como sua. Uma produção que só fez se renovar.

Ao presentear os fãs com o maior dos megashows, Paul McCartney avançou em relação à idolatria pop tradicional. Ele prova que a história recente do rock é um acúmulo de bobagens sonoras, se comparadas à qualidade do legado dos Beatles. O rock não evoluiu. O rock só viajou, e por caminhos errados. O que o ex-beatle nos ensina é a superioridade da obra sobre a pessoa. Que o melhor é enterrar os mitos e venerar a as canções dos Beatles. Paul nos deu uma lição definitiva: a arte está acima dos mitos.

Paul ou John? Prefiro ficar com as melhores canções de cada um. Elas são suficientes para preencher uma vida.

Luís Antônio Giron

Um comentário:

Milene Lima disse...

No Facebook, no link do Vilmar, eu respondi "John" a essa sua pergunta. Não sou uma profunda conhecedora da história dos Beatles, apenas gosto, como tanta gente nessa imensidão de planeta, mas sempre me cativou John Lennon e seus olhos miúdos, sua nuance um tanto mais rebelde, quebrando um pouco aquele padrão arrumadinho do quarteto. Mas a verdade é que bom mesmo é o que a história herdou dos dois juntos... Perfeitos.

Que lindo o seu blog... O título, o fundo, as letras. Parabéns!

Beijo!