28 de janeiro de 2011

Definições do amor




Pensamos por meio de palavras e frases. Qualquer erro no uso das palavras determina um engano que tenderá a se amplificar e nos conduzirá a conclusões cada vez mais equivocadas. Não se trata de insistir para que sejamos mais atentos ao significado das palavras que utilizamos apenas por perfeccionismo. Trata-se de não utilizarmos mal nossa mente, já que ela funciona a partir das palavras, frases e suas conclusões. Qualquer erro poderá ter consequências desastrosas para nosso futuro.

A forma mais comum de engano no nosso sistema de pensamento deriva de usarmos uma mesma palavra com mais de um sentido. No caso, a palavra é AMOR. Na linguagem coloquial, amor é usado como sinônimo de solidariedade, como amor por tudo e por todos que estão sobre a Terra.

"Eu te amo" é uma expressão usada por um sedutor que conheceu sua "vítima" há poucos minutos e deseja levá-la para a cama. Pessoas alegres e pouco criteriosas se dizem encantadas e amam com facilidade cada nova pessoa que conhecem. Uma pessoa egoísta empenhada em se mostrar feliz consigo mesma não titubeia em afirmar: "eu me amo". Estamos diante de diferentes usos da mesma palavra: uso equivocado, vazio ou idealizado. Usamos a palavra amor como o coringa em certos jogos: ela serve para todas as situações.

Amor é palavra usada e abusada. Usa-se mais a palavra amor do que vive-se o sentimento. E quantas são as pessoas que se sentem felizes no amor? Pouquíssimas. E quem é capaz de definir o que seja o amor? Quase ninguém. E como podemos pretender nos dar bem nesse campo se não sabemos nem mesmo como conceituar o sentimento?

Peço licença para propor uma definição de amor. A questão é fundamental, pois envolve emoções que nos são fundamentais e em torno das quais temos sofrido muito. De todo o modo, as diferenças entre amor e sexo são gritantes: amor é a sensação de prazer que deriva do fim da dor relacionada com o desamparo; sexo é um prazer positivo, já que independe da existência prévia de uma dor ou desconforto. O amor é interpessoal, uma vez que o aconchego depende da presença de uma outra pessoa; o sexo é pessoal, posto que a estimulação das zonas erógenas pode ser feita pela própria pessoa.

O amor é sentido por um objeto definido, ao passo que a excitação sexual independe de objeto definido e pode ser despertada por múltiplas pessoas em um tempo muito curto. Amor e sexo são impulsos completamente diferentes, que podem ser vivenciados separadamente. É claro também que combinam muito bem e nada é mais agradável do que trocar carícias eróticas com aquela pessoa que também nos provoca a sensação de aconchego!

A partir dessas definições precisas fica claro como é difícil sustentar como interessantes as expressões "amor próprio", "amor ao próximo" e principalmente "fazer amor". Fica difícil também entender como é que se perpetuou o uso de "autoestima", já que, de alguma forma significa o mesmo que amor por si mesmo. Vamos tentar desfazer essa confusão passo por passo.

Fazer amor é expressão usada como sinônimo de trocas eróticas, o que não tem nada a ver com o fenômeno amoroso. Acredito que a expressão foi cunhada com o intuito de "purificar" os "pecados" do sexo, uma vez que a palavra "amor" daria dignidade e beleza ao que era visto como sujo e indigno. Amor é um sentimento e não se "faz" um sentimento. É comum que as trocas eróticas se dêem entre aqueles que se amam. Porém, não sei se a prática sexual não é mais comum entre os que não se amam e que muitas vezes nem mesmo se conhecem. Transar é expressão bastante mais adequada para descrever as trocas eróticas que envolvem um relacionamento sexual.

Amor ao próximo pressupõe um sentimento difuso de amor por todas as pessoas, o que não está de acordo com a idéia de que o sentimento só se manifesta em relação a quem nos provoca aconchego. Pode existir uma certa sensação de aconchego quando nos sentimos integrados em um grupo maior, como por exemplo quando nos sentimos parte de um povo. Penso que a melhor palavra para definir esse outro tipo de aconchego derivado de nos sentirmos integrados em um todo maior é solidariedade.


Flávio Gikovate 
 

5 comentários:

Anônimo disse...

Boa noite LENA...
texto intrigante e verdadeiro!
Também não gosto da expressão "fazer amor", me parece pejorativa.
bjos
não encontraste um tempinho para me fazer uma visita?

Carla Farinazzi disse...

Oi Lena!!

Olha só, muito bom o seu blog! Muito bom mesmo, li vários textos aqui e gostei muitíssimo.

Parabéns

Beijo

Carla

Mafalda S. disse...

Querida Lena, estou a gostar cada vez mais do teu blog (sempre com textos super-inspiradores)! E para o provar enviei-te uma remessa massiva de SELINHOS.

Espero que gostes.

Beijinhos da amiga portuguesa.

Unknown disse...

Amor e desejo são coisas diferentes. Nem tudo o que se ama se deseja e nem tudo o que se deseja se ama .

Beijo e bom fim de semana.

Sandra Portugal disse...

Seu blog é belíssimo!!! De muito bom gosto e com texto muito fortes e inspiradores. Vim te visitar através do blog da Mafalda e adorei! bjs Sandra
http://projetandopessoas.blogspot.com//