29 de janeiro de 2011

Ponto de equilíbrio




Se eu fosse falar nessa "tal" felicidade, que se encontra sempre na relação amorosa com o outro, eu diria que na verdade ela se esconde, não se encontra. Porque ninguém consegue corresponder todas as nossas expectativas de ideal de amor, mas no momento da paixão é isso que parece: um preenchimento imediato, que transborda até.

Já dizia o velho e bom amigo Freud, que somente por nascer e nos separarmos da mãe, ficamos com uma falta existencial pelo resto da vida. Vamos preenchendo-a com inúmeras coisas: escola, amigos, família, coleções, TV, esporte, comida, universidade, trabalho, etc, etc.

É interessante notar que quando abraçamos algo novo, nos sentimos mesmo "apaixonados" pelo que estamos fazendo, só que ali adiante isso tende a diminuir (como nos relacionamentos) e a falta volta a cutucar. É só saber que ela sempre estará lá e que nada a preenche totalmente, por todo o tempo. A falta move o ser humano a buscar ações, criações, atividades. Quem não sabe lidar com a falta troca de tudo a todo momento: de namorado, de atividade, de trabalho, de casa, de cara, de corpo, de cidade, etc. Porque não aguenta conviver com um "não sei", com um "nada", com um "sem novidades", com um "vazio", que nos assaltam de quando em vez.

É preciso suportar a falta, vivenciá-la. Por outro lado, quem vive na "falta" entra em depressão. O ideal é ir preenchendo-a com atividades coerentes às nossas habilidades e aptidões, aos caminhos já transcorridos, às possibilidades que a sociedade nos oferece, aos limites do nosso corpo e a verdadeira existência do outro, sem idealizações. Só assim evitamos grandes frustrações.

Me parece que ninguém é completamente feliz ou completamente infeliz. Temos estados de felicidade e esta é particular para cada um de nós. Felicidade pode ser ter saúde, uma família que me apóie, ter amigos, uma casa, passarinhos visitando minha varanda, um companheiro de quem eu goste, que goste de mim e me respeite, dar aulas, dançar Flamenco e viajar de quando em vez.

Só que nem sempre minha família estará disponível, nem meus amigos, nem o companheiro será 100% atento às minhas carências talvez falte dinheiro para viajar no próximo feriado, e eu tenha que parar de dançar o Flamenco por causa da dor nos joelhos. E isso me deixará certamente num estado de "falta" que causará desconforto e certa tristeza, uma "infelicidade". Normal. Ela não me aniquila porque os passarinhos continuam visitando a minha varanda, aqui, no 17º andar.


Ana Cristina Canosa 
 
 

6 comentários:

Anônimo disse...

Que maravilha de texto! Agora compreendo o porque de algumas atitudes minhas, movidas, claro, pela insatisfação. De início estava bom, mas logo parece faltar algo, e minha tendência é jogar tudo para o alto, todo o trabalho já realizado, e começar de novo com aquela ideia "agora vai ser diferente, vai dar certo", mas logo volta a ser como antes rs... Enfim, acho que vou guardar esse texto para reler mais vezes rs...
Beijo na alma!

Anônimo disse...

Olá Lena querida,

Concordo plenamente com tudo que foi dito nesta Maravilhosa mensagem.
Mas "eu acredito" que a chave para mudanças de atitudes e padrões, estão todas dentro do ser humano.
Começar a mudar certos conceitos exige muito de cada um, não é fácil, mas é possível...
Estamos aqui para este aprendizado...
Parabéns pela postagem, adorei!
Um grande beijo em seu coração!


*consegui dar uma escapadinha das férias para te visitar, não tem jeito... adoro ler e participar dos meus blogs amigos. Beijos

Unknown disse...

Toda o amor é um problema de equilíbrio entre dois opostos ...

Beijo.

Lena disse...

Obrigada, Manuel. A sua presença é sempre muito importante para mim. Gosto muito da sua crítica objetiva. Volte sempre!
Bjs.

Lena disse...

Boa noite, Meri
Fiquei hiper orgulhosa quando te vi como minha "seguidora". Quanta honra! Muito obrigada!
Realmente esse texto, dentro de uma objetividade ímpar, sintetiza um pouquinho o que acontece nas nossas vidas. Eu, por exemplo, preciso aprender vez por todas esse negócio de felicidade absoluta ou o seu inverso, infelicidade absoluta. Vamos preenchendo aqui e ali e acolá, vamos revendo posturas, reajustando comportamentos, pq reinventar a roda não tem mais sentido. Bjkas!!!Um ótimo domingo!!!

Anônimo disse...

Este vazio ou falta como você coloca, as vezes aflora em meu interior...e realmente surge uma vontade de fazer algo novo!
bjos, Lena