5 de janeiro de 2011

Tudo agora é funcional



Se você nunca ouviu falar, saiba que o nome treinamento "funcional" virou moda e você vai ouvir falar cada vez mais em novidades envolvendo esse adjetivo. Ele já apareceu nas revistas como um novo jeito de malhar e começa a ganhar espaço dentro das academias.

Há muita confusão sobre os conceitos dessa "novidade" e muita marmelada sendo dita por aí por gente que ainda não entendeu direito do que se trata. Cada um que tenta definir o que é treinamento funcional inventa uma definição diferente. Nem tudo que dizem ser treinamento funcional deveria levar esse nome.

O termo "funcional" vem de "função", e no caso do treinamento físico refere-se às funções que o corpo humano é capaz de exercer. Como caminhar, correr, saltar, puxar, erguer coisas, lançar coisas e por aí vai. Para realizar essas tarefas, o corpo realiza movimentos complexos, que usam várias articulações e musculaturas ao mesmo tempo. Todo mundo conhece esses movimentos. Nós os realizamos no cotidiano, com relativa facilidade enquanto somos jovens, e com graus crescentes de dificuldade à medida que envelhecemos.

Os atletas fazem os mesmos movimentos que a maioria das pessoas é capaz de fazer, mas conseguem alcançar melhor qualidade e maior intensidade nesses movimentos. Atletas treinados em corrida conseguem correr muito rápido, ou por muito tempo. Adultos saudáveis não treinados correm mais lentamente e se cansam logo. Idosos que foram sedentários muitas vezes mal caminham.

Atletas treinados em levantamento de peso podem erguer cem quilos numa boa. Adultos saudáveis não treinados guardam uma caixa cheia de fotografias no maleiro fazendo força e transpirando um pouco. Idosos sedentários nem se atrevem a subir em uma escadinha.

O que os caras que promovem o treinamento funcional pretendem é treinar todo tipo de pessoa para realizar movimentos com uma facilidade mais parecida com a dos atletas, e menos parecida com a dos velhos. Eles querem que todo mundo esteja sempre preparado para correr, para erguer pesos sem se machucar, para jogar bola sem sofrer lesões, para brincar com as crianças e, se for preciso, para fugir do ladrão pulando o muro.

A diferença do treinamento do atleta para o de um adulto que quer ser saudável passa a ser, portanto, apenas a progressão. Segundo os conceitos do treinamento funcional, o jovem, o cinquentão, o idoso e o atleta podem e devem fazer os mesmos tipos de exercício, mas em intensidades diferentes, adequadas aos seus objetivos.

O treinamento funcional ficou muito associado ao fortalecimento do core (o centro de sustentação do corpo, na parte baixa do tronco) e ao treino do equilíbrio usando superfícies instáveis, como a bola, o bosu e o disco inflável. O que torna o treinamento mais funcional não é a bola, nem o elástico, nem as tiras suspensas, nem qualquer acessório que possa ser usado durante um exercício. As ferramentas podem ser usadas de modos inovadores e de modos muito convencionais.

No Brasil, ainda estamos em fase de aprendizado. Os trabalhos mais sérios ainda estão nas mãos dos personal trainers, que conseguem oferecer um serviço especializado, diferenciado, embora muito mais caro.

As academias ainda estão experimentando inserir espaços de treinamento funcional em sua cultura baseada em cima de máquinas. Mas treinar gente comum como atleta dá mais trabalho e requer mais cuidado do que distribuir séries na musculação. Se a maioria dos frequentadores de academias se convencer de que o treinamento é a melhor maneira de entrar em forma, é provável que as academias precisem fazer mais do que disponibilizar bolas ao lado das máquinas e propor os mesmos exercícios parados de sempre.

Francine Lima   
Texto adaptado e resumido por Lena Simões

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