17 de janeiro de 2011

Viver sem medo




Iniciar um relacionamento sempre nos dá muita satisfação e alegria, mas também provoca medo, sentimento que é parte de nós. E, para que possamos ficar à vontade, temos de aprender a lidar com ele. É necessário coragem para amar, qualidade perseguida, praticada e conservada por todos a vida inteira.

Quando nos sentimos atraídos na direção de um novo amor, surge na nossa cabeça um turbilhão imaginário. Logo no começo, sentimos uma satisfação embrulhada em medo. Somos invadidos por uma onda de alegria, mas ao mesmo tempo advertidos sobre a possibilidade de deixar nosso amor correr tão livremente. Isso significa que, quando nosso desejo por outra pessoa nos faz entrar em contato com o destino, percebemos o medo no centro de nossa experiência. Normalmente, tentamos evitar esse sentimento que ameaça nossa segurança, mas o medo é parte de nós.

Somos uma mistura de impulsos incrivelmente diferentes, muitos dos quais não se encaixam. Nossos sentimentos em geral não são da maneira como imaginamos que deveriam ser. Para ficarmos à vontade no amor, precisamos aprender a lidar com esse medo. Isso quer dizer: aceitar a experiência como ela é. Um dos maiores obstáculos em um relacionamento são, muitas vezes, histórias que inventamos de como as relações deveriam ser. Nossa mente fica continuamente representando seus dramas e somos testemunhas (muitas vezes de acusação) de como vivemos forjando histórias a respeito do que sentimos, do que está acontecendo ou vai acontecer no futuro. ("Será que sou amado, não sou mais, ainda sou?").

Como fazer para não sermos carregados ou derrubados por nossos medos? Isso acontece somente quando olhamos para a realidade, contudo não basta percebermos o que está ocorrendo, é preciso que façamos a conexão entre ver e sentir. Vemos a pessoa chegar e sentimos angústia, como se existissem zonas de alarme entre um encontro e outro. Aí a realidade nos mostra se temos razão para ficarmos felizes, para nos soltarmos ou para ficarmos inquietos, mais do que preocupados.

Todos sabemos que, para ver e sentir, é preciso ter coragem. A essência da coragem é ser capaz de ter consciência e enfrentar. "Cada um na vida tem seus medos e suas coragens", como disse André Compte-Sponville em seu Pequeno Tratado das Grandes Virtudes. E coragem não é ausência de medo, mas a capacidade de enfrentá-lo, de dominá-lo, de superá-lo.

Cada um se pergunta: "Será que vou conseguir ou fracassar?". Toda coragem é pessoal, porque ninguém pode lutar em nosso lugar, mas o que o amor descobre, revela, é uma energia. Toda coragem é feita de uma energia especial, de uma vontade de viver, de combater, de enfrentar.

Se os relacionamentos são difíceis é porque o "ser humano" é difícil. Por exemplo: parece fácil para uma mulher convidar um homem para sair, mas não é. Parece fácil, porém emocionalmente é difícil. Sim, qualquer mulher pode convidar um homem para sair, e muitas vezes elas o fazem. Podem telefonar ou marcar um encontro –uma vez, duas, três...Então esperarão que ele também o faça. Homens e mulheres ainda são tradicionais em seus padrões mais profundos de reação. Mesmo hoje, quando uma mulher convida um homem para sair, ela tem que fazer um esforço deliberado. É um comportamento que a mulher é capaz de se forçar a ter, mas não é sentido de forma profunda. A mulher vem se programando desde a revolução sexual para ser mais liberada, o que é diferente de uma reação natural, espontânea. É possível condicionar as pessoas a mudarem por fora, mas as atitudes mais profundas não podem ser modificadas tão facilmente.

Não é mais fácil para as mulheres perderem o medo de tomar a iniciativa do que é para os homens admitirem o medo de se envolver. Na interação homem-mulher, qualquer coisa que é fácil para um pode ser difícil para o outro. O que parece simples para um sexo é, na verdade, estranho ou até amedrontador para o outro, devido às muitas tentativas, ascensões e quedas. Então, é preciso ter coragem para amar, mas essa qualidade é algo que cada um, durante toda a vida, persegue, pratica, demonstra, mantém e conserva. Como um ideal.

Mas por que lutar tanto? Simplesmente para conseguir se afirmar e, assim, ter mais força da próxima vez que se for mergulhar no amor.
 
 
Maria Helena Matarazzo

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Lena.

Na vida devemos enfrentar situações com determinação e coragem.
Nos relacionamentos, a mulher sempre precisa um pouco mais de coragem para tomar determinadas atitudes e o homem para enfrentar seus sentimentos.
E a vida é esta busca por um equilibrio constante.
Todos precisam enfrentar seus medos e seus receios.
Um grande abraço em seu coração!