8 de fevereiro de 2011

Lugar do afeto





É uma coisa esquisita, mas fica horrivelmente mais difícil fazer amigos depois da adolescência. A conclusão é do psicanalista Francisco Daudt da Veiga, exposta no seu livro "O Amor Companheiro", que fala sobre a amizade e seus desdobramentos. Mas, apesar das dificuldades, a vontade de compartilhar o próprio universo - esse amor companheiro, livre do desejo sexual - continua sendo uma das melhores coisas da vida.

E por que, afinal, é tão difícil fazer amigos? "Porque é algo que requer de duas pessoas abertura, confiança, afinidade, privacidade e tempo de investimento. A reunião de tantos fatores depois que ficamos adultos é muito rara, portanto difícil", responde Daudt. Ao mesmo tempo, o autor afirma que se torna mais fácil conquistar novos amigos depois dos 50 anos, quando "os receios do que vão dizer diminuem e o poder de escolha e o tempo disponível aumentam".

Daudt acredita que a base de fazer amigos não é muito diferente de paquerar: é preciso ter vontade. Ele cita inúmeras situações de convívio que criam oportunidades para isso: cursos, universidades, grupos de estudo, agremiações com fins variados. E a internet, por sua vez, está aí para dar uma mãozinha.

Segundo Daudt, o e-mail é um reavivador de amizades antigas, um grande lugar para a palavra breve e afetuosa: é o cartão-bilhete renascido.

A internet é um ótimo lugar para fazer amigos. E destaca a facilidade que ela tem de agrupar tribos de interesses comuns. Mas como confiar em uma pessoa cuja face às vezes sequer conhecemos? Será que as amizades feitas no mundo virtual são válidas também para o real?

Eu não faço distinção entre o virtual e o real. O que existe do outro lado da tela é sempre uma pessoa, com sua carga de mentiras e verdades, da mesma forma que no contato face a face. A vida é construída de encontros e desencontros, e a internet é um canal, uma possibilidade de estabelecer novos contatos.

Mas não basta fazer amigos. É preciso também mantê-los. Em seu livro, Daudt cita exemplos de certos cuidados que todos deveríamos tomar para preservar as amizades. Ele afirma que é preciso constantemente "aquecer o coração" daqueles que amamos: "Aquecer o coração é o pequeno gesto que, de tão pessoal, aciona a sensação de que alguém nos vê, nos percebe e gosta da gente. Outro dia um amigo me ligou só para dizer que os livrinhos do Carlos Zéfiro vão voltar às bancas. Que legal, que carinhoso e cúmplice, que nostálgico e pessoal, que consideração com nossa memória e nossa adolescência pela vida afora. Aqueceu meu coração". Simples assim.


Juliana Krapp 

4 comentários:

TRIBUNA-BRASIL.COM disse...

Lena, grato pela visita. Até que enfim, os comenários "SAIRAM DO ARMÁRIO", TCHÊ! Abraços.

Anônimo disse...

....é preciso mantê-los...
por isso estou sempre aqui!
te adoro,miga....

anatolio pereverzieff disse...

Muito bem resumido este artigo. Pela importância do tema achei-o proveitoso! Mas, não devemos nos esquecer de que trocar velhas amizades por novas,normalmente não dá certo. Dos velhos amigos temos o conhecimento de todas as suas mazelas, e eles conosco;e muita tolerância!

Unknown disse...

"Os afectos podem, às vezes, somar-se. Subtrair-se, nunca ."

Um abraço afectuoso.