7 de março de 2011

A mulher boazinha




Qual o elogio que uma mulher adora receber?
Bom, se você está com tempo, pode-se listar aqui uns setecentos:
mulher adora que verbalizem seus atributos, sejam eles físicos ou morais.
Diga que ela é uma mulher inteligente, e ela irá com a sua cara.
Diga que ela tem um ótimo caráter e um corpo que é uma provocação,
e ela decorará o seu número.
Fale do seu olhar, da sua pele, do seu sorriso, da sua presença de espírito,
da sua aura de mistério, de como ela tem classe:
ela achará você muito observador e lhe dará uma cópia da chave de casa.
Mas não pense que o jogo está ganho: manter o cargo vai depender da sua
perspicácia para encontrar novas qualidades nessa mulher poderosa, absoluta.
Diga que ela cozinha melhor que a sua mãe,
que ela tem uma voz que faz você pensar obscenidades,
que ela é um avião no mundo dos negócios.
Fale sobre sua competência, seu senso de oportunidade,
seu bom gosto musical.
Agora quer ver o mundo cair?
Diga que ela é muito boazinha.
Descreva aí uma mulher boazinha.

Voz fina, roupas pastel, calçados rente ao chão.

Aceita encomendas de doces, contribui para a igreja,
cuida dos sobrinhos nos finais de semana.
Disponível, serena, previsível, nunca foi vista negando um favor.
Nunca teve um chilique.
Nunca colocou os pés num show de rock.
É queridinha.
Pequeninha.
Educadinha.
Enfim, uma mulher boazinha.
Fomos boazinhas por séculos.
Engolíamos tudo e fingíamos não ver nada, ceguinhas.
Vivíamos no nosso mundinho, rodeadas de panelinhas e nenezinhos.
A vida feminina era esse frege: bordados, paredes brancas,
crucifixo em cima da cama, tudo certinho.
Passamos um tempão assim, comportadinhas, enquanto íamos alimentando um desejo incontrolável de virar a mesa.
Quietinhas, mas inquietas.
Até que chegou o dia em que deixamos de ser as coitadinhas.
Ninguém mais fala em namoradinhas do Brasil: 
somos atrizes, estrelas, profissionais.
Adolescentes não são mais brotinhos: são garotas da geração teen.

Ser chamada de patricinha é ofensa mortal.
Pitchulinha é coisa de retardada.
Quem gosta de diminutivos, definha.
Ser boazinha não tem nada a ver com ser generosa.
Ser boa é bom, ser boazinha é péssimo.
As boazinhas não têm defeitos.
Não têm atitude.
Conformam-se com a coadjuvância.
PH neutro.
Ser chamada de boazinha, mesmo com a melhor das intenções,
é o pior dos desaforos.
Mulheres bacanas, complicadas, batalhadoras, persistentes, ciumentas,
apressadas, é isso que somos hoje.
Merecemos adjetivos velozes, produtivos, enigmáticos.
As “inhas” não moram mais aqui.
Foram para o espaço, sozinhas.



Martha Medeiros 

5 comentários:

Maria Rodrigues disse...

Amiga excelente texto.
Hoje é o dia de TODAS as mulheres, de TODAS as raças e religiões, mulheres que se esquecem tantas vezes de si em prol da família, mulheres que lutam por uma vida melhor, mulheres companheiras, amigas, colegas, mães, mulheres que sorriem quando a alma chora, mulheres que não desistem de alcançar os seus sonhos e que no fundo do seu coração apenas desejam encontrar o seu caminho na estrada da VIDA.
Para uma grande mulher, com um coração maravilhoso eu desejo um DIA muito feliz.
beijinhos
Maria

EXPEDITO GONÇALVES DIAS disse...

Gostei do texto da Martha. Excelente escolha, ideal para a data. Deixo um carinho nesta data especial. Parabéns com todos os aumentativos...
Lena, um grande abraço!

kiro disse...

perfeito!!! Nossa

Me senti mais mulherão agora!!!

Renata Marengo disse...

Oi Lena! Adorei esse texto! Beijo grande!

Renata Marengo disse...

Ah! Mais uma coisinha: vou postar lá no AteConsciente.net a tua frase mês, tá certo? Vou colocar um link aqui do Amadeirado para citar a fonte! Qualquer coisa me avisa! Beijos