15 de abril de 2011

Os paradoxos da paixão




Por experiência própria, você já deve ter descoberto que há muitas maneiras de amar.

Existem os amores descomprometidos e rápidos, surgidos de olhares que se cruzam ao acaso, provocando uma enorme descarga de energia, uma vontade incontrolável de seguir, de perseguir, de caçar. São encontros não marcados, diante dos quais vibramos numa intensidade anormal porque sabemos que a primeira vez também pode ser a última.

Existem ainda os amores intensos e rápidos, aqueles nos quais se perde a consciência do perigo e a noção de limites. O que se deseja é variedade, excitação, a promessa certeira do prazer. O que se deseja é estar fora do mundo das proibições, experimentando o perigoso jogo do tudo ou nada. Estes encontros poderiam ser chamados de minipaixões. Acontecem com frequência em viagens, férias e também são facilitados pelo anonimato das grandes cidades. O objetivo é a conquista: um alvo determinado, aquele homem, aquela mulher. Nessas horas, fantasia e realidade se misturam e se confundem.

Mas as diferentes maneiras de amar não acabam por aí. Como esquecer os amores comprometidos e lentos? Para muitas pessoas, só o primeiro encontro não basta. A busca da felicidade exige um segundo, um terceiro, um quinquagésimo. Nesses casos, a ligação amorosa nasce da revelação, do desvendamento, da descoberta. Deseja-se encontrar aquele "algo mais", que só parece atingível quando se explora cada milímetro do outro, por meio de uma sucessão de perguntas, de toques, de confidências e provas de dedicação que, aos poucos, vão construindo o vínculo amoroso.

Poderíamos falar também dos amores intensos e lentos, quando se descobre que o prazer é a energia que une e agrega. Nesses amores de combustão vagarosa, a relação se delineia à medida que os parceiros se encaixam e criam laços de apego. São vínculos que dão a sensação de um porto seguro, de morar dentro do outro, e não de estar só de passagem.

Na verdade, as possibilidades de relacionamento amoroso são infinitas, mas também vale lembrar que, raramente, os encontros acontecem da forma como previmos ou planejamos. O que, de resto, é ótimo, pois quando nos abrimos para essa força vital que chamamos Eros, amor, descobrimos que o impulso erótico profundo, misterioso, não pode ser facilmente compreendido, classificado ou controlado.

Talvez não exista, no vasto repertório de experiências humanas, nada que se compare a uma paixão. É um sentimento que nos faz viver momentos de expectativa, de excitação, de incerteza; que de uma hora para outra nos tira os pés do chão, deixando-nos "nas nuvens".

Estou falando daquelas paixões sentidas na pele, na carne, que fazem a temperatura emocional ultrapassar os 100 graus centígrados, que dão ao mundo um colorido que nunca observáramos antes. Paixões que mudam o rumo de nossas vidas, nas quais nos entregamos totalmente, sem defesas e sem receio, nas mãos do ser amado. Paixões que, colocando-nos na fronteira da sanidade e da loucura, nos fazem perder a consciência do perigo e a noção de limites.

Ao nos apaixonarmos, sentimo-nos a dois passos do Paraíso; ora entrando (quando estamos junto da pessoa amada), ora saindo (quando nos afastamos). Uma idéia fixa nos envolve: como representar tudo para o outro e como conseguir que o outro se transforme em tudo para nós. Sob o domínio da paixão, sentimos a compulsão de negar o que somos, ou já fomos, para corresponder às expectativas daquele ou daquela por quem nos apaixonamos. Nessa fase, nada se compara à extasiante experiência de estar a sós, de mergulhar, de se fundir com a pessoa amada. Invade-nos uma fome insaciável de intimidade, infinita de reciprocidade, que torna apavorante a perda do amor recém-encontrado.

Como algo tão assustador pode ao mesmo tempo ser tão bom?

Você já deve ter percebido por experiência própria que paixão jamais combina com lógica ou rima com racionalidade. Não se trata de uma escolha consciente, de um ato premeditado; simplesmente, acontece. Apesar disso, sempre fica uma pergunta no ar: por que as pessoas se apaixonam perdidamente? É difícil, para não dizer impossível, explicar de forma total uma experiência humana ao mesmo tempo tão universal e tão misteriosa como é a paixão amorosa. No entanto, podemos levantar algumas possibilidades.

Em nosso mundo externo sempre existe falhas, buracos, assim como em nosso mundo interno sempre existem carências e necessidades. Quando nos damos conta de nosso vazio interior, surge a necessidade de preenchê-lo, ou seja, sentimo-nos ávidos de amor. Nessas circunstâncias, em geral, o aparecimento de uma pessoa de carne e osso para suprir a carência se transforma em mera questão de tempo. De uma hora para outra, a paixão bate à porta.

Na ânsia de se preencher, de se completar, o apaixonado absorve, engole o outro, ou se deixa absorver, engolir totalmente. Em conseqüência, a paixão vai crescendo de forma avassaladora e se transforma em "monomania", na coisa mais importante da vida, na razão de ser da própria existência.

A "vítima" da paixão passa a ver o mundo por uma ótica distorcida. Os valores se alteram, tudo muda de sentido. Quem se apaixona fica por demais ansioso para poder decifrar os sinais que o outro lhe envia. Fica também por demais apegado para poder realmente enxergar o outro e por demais obcecado para poder conhecer o outro. Chega a dizer que o ser amado é tudo e tudo se resume ao ser amado. Isso significa ignorar as demais pessoas.

Embutida nessa entrega total, há também uma exigência de complementação total. As grandes paixões desconhecem barreiras, insurgem-se contra o proibido. A literatura está cheia de exemplos de amantes que, apesar dos mais terríveis obstáculos, mantiveram-se unidos por laços indestrutíveis.

Mas a ligação entre paixão e sofrimento não aparece apenas na ficção, nos romances, nas novelas. Ela existe na vida real. A separação é tão dolorosa porque um homem, uma mulher apaixonados não preenchem suas necessidades afetivas com várias relações de troca, de amizade. Para eles, o ser amado é a única fonte de gratificação. Isso transforma a paixão numa espécie de prisão paradisíaca.

A expressão "estar perdidamente apaixonado" dá bem a medida da ambiguidade que envolve esse sentimento que todos ansiamos por experimentar, mas que tanto nos perturba quando, sem pedir licença, ele invade nosso coração.



Maria Helena Matarazzo

15 comentários:

Sonhos De Deus disse...

Bom dia querida lena nossa em que lindo ,ai se não sabe como falou comigo hoje , muito lindo querida estou vivenvo a ultima frase,sem pedir licença, ele invade nosso coração.Ai amiga queria estar pertinho de vc pr saber mais do amor posta mais rsrsrs amei ...bjks no teu coração vc me faz um bem danadooooo!

Anônimo disse...

Nossa!

Como eu amei este texto, Lena

Seja qual for dessas formas, a paixão, o amor é sempre um delícia, felizes os que se abrem para essas descobertas

Beijos!

Regina Antunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
AC disse...

Excelente texto, pleno de lucidez!

Beijo :)

Anônimo disse...

Maravilhoso texto Lena.. sentimentos esses que por vezes não conseguimos compreendê-los em sua totalidade!

Beijocas em seu coração..
Verinha

Calu Barros disse...

De todas as maneiras que há de amar, já nos defrontamos...como diz Chico na canção.
O amor em suas mútiplas faces se faz presente no ritmo da vida.Nem sempre conseguimos distinguir bem se é um ou outro( amor/ paixão), mas sabemos que o vivemos.
Excelente tratado este, da MªHelena.Faz pensar, faz lembrar, faz sentir.
Tuas escolhas são sempre propícias, Lena.
Lindo fim de semana.
Bjo grande,
Calu

Anônimo disse...

Olá passando para retribuir a visitinha, e agradecer pelo recado. Parabéns pelo seu trabalho. Desde já serei teu seguidor.]

Abraços!

kiro disse...

Eu amei esse texto! Tah a cara do meu momento!!! Eita Lena, minha flor ♥

Bom bom bom ver vc presenteando almas assim... ♥

Maria Auxiliadora de Oliveira Amapola disse...

Boa tarde, querida amiga.

Muito interessante.
A paixão quando chega, chega tirando a paz, o sono, a razão.

Um grande abraço.
Tenha um lindo fim de semana de paz.

Catia Bosso disse...

Lena Lindona! Sabe que ao ler este texto me lembrei daquele texto lindinho da lata de leite moça.. vou colar aqui e vamos recordar...: ''Toda forma de amar vale a pena. Não se preocupe com a sua
Deve ser por isso que existe amor que nasce meio quadrado, meio sem querer
Que existe triângulo amoroso e amores que andam em círculos
Porque o amor, não importa a forma, tem o privilégio da juventude
Amor, não envelhece com a gente. Nunca muda
Nem na essência e muito menos na alma
O que às vezes muda é só a forma de amar
Mas de amar, o amor de sempre. Nossa nova forma de amar você
É? o amor faz maravilhas e como faz bem"
Pois é , achei que vem a calhar com seu belo texto! Parabéns e Obrigada por seu carinho no meu blog, beijos de beija-flor....

Wanderley Elian Lima disse...

Oi Lena
Paixão só o é, se for desvairada, o amor não, ele é calmo e consciente, seja de que forma ele se manifeste, sempre é mais duradouro que a paixão.
Bjux

Blog Luz por Roberta Maia disse...

Lena querida, será possível amar e ser apaixonada?! Ter o fogo e a calmaria?!
Acredito que há momentos que temos isso, o amor e a paixão, em um mesmo momento da relação e com a mesma pessoa...delicia se permanecer para sempre,risos!!!


Tenha um Lindo Fim de Semana!!!
Paz e Amor!!!

Unknown disse...

Realmente o amor é tudo na vida! Só quem ama sabe de verdade o que é felicidade! Um grande abraço!!

Anônimo disse...

Lena

como é bom chegar em casa e ler mais um de seus afagos.

Que você tenha um final de semana maravilhoso e repleto de amor

Quando a vida dentro de mim se tornou possivel disse...

Este também é DEMAIS DE BOM!!
Obrigada por partilhar.
Bjs