9 de agosto de 2011

É um erro associar separação ao fracasso





A experiência da separação se apresenta como uma realidade humana típica. Prova incontestável deste fato, é o nosso próprio nascimento: comprovadamente há vida intra-uterina, mas nos referimos ao nascimento somente no momento em que, de fato, a criança e mãe se separam. Ou seja, o nascimento é consagrado pela separação de duas vidas, ambas pré-existentes, que se reencontram em um outro nível de realidade.

Até então, o feto, apesar de pulsar e reclamar junto à mãe é encarado como "alguém que está por vir". De modo que o nascimento é, a um só tempo, uma separação e um sinalizador de um novo momento de se relacionar com a realidade concreta.

No decorrer de nosso desenvolvimento psíquico inúmeras são as ocasiões onde o mote da separação se apresenta, especialmente na relação pais-filhos: o primeiro passeio do casal após o nascimento do filho; o primeiro dia de aula; a primeira noite dormida na casa dos amiguinhos; a primeira balada; o primeiro namoro. A lista é interminável, fato que nos aponta à percepção de que a separação é uma realidade humana. Mas o que podemos perceber entre separação e relacionamento amoroso?

Vivemos a realidade da globalização: a um clique de mouse ou um toque de celular atravessamos o mundo; um minuto diante da televisão e nos damos conta daquilo que acontece nos locais mais distantes do planeta. Outra faceta deste fenômeno mundial refere-se à esfera econômica: vivemos a globalização do capitalismo, onde seus valores matemático-financeiros se impõe, não só no âmbito comercial, mas também como parâmetros que regulam nossas relações interpessoais.

Uma decorrência diretamente perceptível deste fato, é a maneira bancária de nos mantermos em relação. Explico. Passamos a viver e medir nossas experiências exclusivamente pelo viés econômico, ou seja, o sucesso de um relacionamento é medido pelo tempo de duração; o sucesso de um indivíduo é medido, por sua vez, pela quantidade de relações em que se envolve. A própria noção de mensurar um relacionamento nos mostra quão arraigada esta percepção financeira está em nossas existências. O que importa, então, dentro deste viés, é "quanto" e não "como".

O que podemos perceber deste modo, é que a separação ora entendida como um aspecto legítimo - dentre tantos outros - da natureza humana, passa ao status de erro, falta, falha. Tratamos algo próprio da experiência humana e, portanto, necessário, como um deslize a ser evitado. E a culpabilização decorrente deste processo nos afasta de um aspecto primordial da separação: a possibilidade de emersão de nossa individualidade.

A separação é necessária à vida. Se, por um lado, apresenta um aspecto de dor e solidão, por outro pode se apresentar como edificante. Pois é a partir da experiência de separação que a possibilidade de individualidade apresenta-se como possível. É a partir da dor da separação que surge a alegria da existência individual. E esta tomada de consciência de nossa individualidade se dá, justamente, quando podemos nos perceber "separados" do outro, como uma existência autônoma, onde também passamos a perceber o outro como uma entidade única, desejante, que também deve ser levada em conta como tal.

Podemos perceber aos poucos se delineando uma ideia de escolha. De um lado, o chamado a uma percepção "econômica" da separação, vinculada intimamente a ideia de quantidade (mais é melhor); por outro, o chamado a um entendimento mais integrado da ideia de separação, como um dos aspectos da existência humana, percebido agora não mais como falha, mas como necessário ao processo de crescimento individual.

O que podemos perceber, então, é que dentro de uma perspectiva materialista, onde se prioriza a quantidade, a separação é vista e sentida como perda. Mas, diante de uma percepção integral, onde procuramos entender cada passo por nos dado, como partes de um quebra-cabeças - nossa vida - a separação pode se apresentar não só como uma etapa, mas uma etapa edificante, onde são colocados à prova nossos critérios éticos de escolha. E a questão principal da separação diz respeito justamente ao posicionamento ético que nos propomos e propomos ao mundo.

Então, as escolhas que norteiam um relacionamento devem estar presentes, também, no processo de separação. Este processo deve ser ético e procurar criar uma nova síntese, ou seja, não encará-la como perda, mas sim como um novo momento, onde se apresenta um novo estágio de consciência, trazendo à tona possibilidades de crescimento pessoal e novas opções de vida.



Luiz André Martins 

John Lennon - (Just Like) Starting Over
 


29 comentários:

Caca disse...

Acho que as duas coisas que mais interferem nas separações (quando se tratam de decisões de cada um) é a sensação de perda, que ninguém quer sentir e o medo do que o mundo exterior vai pensar (o medo do julgamento). A culpabilidade tende sempre a ser transferida. Poucos são os que encaram isso de forma tranquila, sem neuras.

Excelente este artigo. abraços.

Ale disse...

Na separação, esquecemos das delicadezas, dos momentos bons, dos aconchegos,

Levamos apenas essa sensação ruim de fracasso, como se o que vivemos até então, dentro do seu tempo, não tivesse sido eterno

bjkas

Van disse...

O que é preciso diante da separação é maturidade ! Maturidade ao encarar que não deu certo , maturidade ao perceber que as brigas e os desentendimentos são maiores que qualquer tipo de afeto. A maturidade é necessária para saber qual direção seguir.

Óbvio que a sensação de fracasso advém do fato de que ninguém casa pensando em se separar , todos querem (e esperam) que a relação seja duradoura. Mas algumas vezes não é... Traz dor e tristeza.

Mas a separação não deve jamais levar do coração a esperança de que sempre , em todas as coisas da vida , até mesmo no amor , é possível buscar um recomeço e ainda ser feliz ! Grande Beijo , Leninha !

www.meusescritoseoutraspalavras.blogspot.com

Só pra você disse...

Bom dia amiga, como vai? Passando para desejar um belissimo dia e uma ótima semana e já me deparei com um assunto muito bom que é "separação", claro que a dor que uma gera acaba sobrando para todos ao redor, não somente para os envolvidos, e isso as vezes é desnecessário, o que poderia ser algo mais natural, nunca o é, porque o ser humano é egoísta demais para entender ou compreender o momento certo disso ( se for o caso). Pagamos por uma decisão errada e ter o direito de recomeçar e igual para todos. Muito bom esse texto que é cada dia mais comum no nosso meio.

Beijocas querida.

Penélope disse...

Lena, sua presença no Projetando Pessoas está maravilhosa e suas páginas também.
Este texto aqui postado é bastante reflexivo, pois muitas pessoas aderem ao fracasso por conta de uma separação onde os dois tem culpa e ao mesmo tempo não.
Relações começam e acabam e nós temos por dever seguir em frente da melhor forma possível, superando as falhas desta relação.
Muito belo e verdadeiro mesmo.
Abraços

Anônimo disse...

BUENO! EL CIERRE SIMPLIFICA QUE NADA ES PERJUDICIAL, SI HAY COHERENCIA. GRACIAS POR COMPARTIR.
UN ABRAZO

mfc disse...

Pois... a separação é mesmo multidisciplinar.
Quando falamos nela, lembramo-nos logo do divórcio... mas é curto e redutor!
A vida é realmente feita de cortes que nos fazem crescer!

Anônimo disse...

Tive várias separações mas não senti muito nenhuma delas.
Não que eu seja insensível, mas não me apego muito. Assim fica mais fácil na hora de partir.
Uma ótima semana Leninha
bjos

Patrícia Pinna disse...

Boa tarde, Lena. Muito bom o texto, bem explicativo.Separação é sempre delicada, e infelizmente ou felizmente passamos por ela.
Tem situações tão claras em que se a pessoa não se separar, viverá tão infeliz que não tem sentido a relação.
Contudo, ninguém entra numa relação para se separar.
O sofrimento existe, e muitas vezes a pessoa que se separa, acaba aceitando a culpa pelo término, como se somente ela estivesse errada.
As pessoas pensam diferente das outras, e tem vezes que dentro de uma relação, essa diferença não é suportável, quando falta principalmente respeito.
Tem vezes que é bem melhor e necessário recomeçar mesmo!
Beijo grande, e fique com Deus!

Anônimo disse...

A separação é quando já não estamos mais ligados a alguém por um laço de amor ou amizade e sim por uma elo de uma corrente que se rompe.

Abraço com carinho!

Mafalda S. disse...

Amiga, adorei o texto, como sempre.

Mas hoje quero falar que gostei muito da tua entrevista no Projetando Pessoas. Sinto que temos muito em comum.

Beijinhos

AquilesMarchel disse...

no final do texto fico pensando
poxa muits vezes a gente nem cresce no fim de varios relacionamentos
acabamos estagnados, achando que tudo é fracasso e que nada vai dar cerrto

outro ótimo texto minha colega de facebook

Imaculada disse...

Lena querida!
A Sandra visitou-me e falou de sua entrevista lá no(projetandopessoas)
Aplausos pra ti! Amei a entrevista
bastante pertinente... Você é muito querida e irradia muita luz.
Seu texto de hoje é bastante reflexivo... Muito bom!
Separação para mim não é encarada como perda pois na vida nada é eterno.
Abraços! Uma linda e abençoada tarde pra ti.

Calu Barros disse...

Linda Lena,
que as afirmações do autor nos dois últimos parágrafos façam-se num passe de mágica atitude de todos os humanos.Em cada situação uma percepção, que aclarará ou cegará as partes envolvidas.Tenho visto mais o segundo que o primeiro caso, infelizmente.
Assim confirmo o que disse no começo, espero mesmo que as pessoas tenham ética e bom senso para entenderem que a vida é cíclica e nem sempre gira para onde propusemos, mas cabe a nós aproveitarmos o giro dado e buscarmos aí o novo equilíbrio.
Adorei o "papo".Amanhã trago cafézinho.
Obs: vc está glamourosa lá no Projetando.
Bjos, bjos,
Calu

Cissa Romeu disse...

Oi Lena, tudo bem?
Separação nunca é fácil, e temos que considerar que sempre para uma das partes é mais difícil.
O sentimento de perda. Resta tentar dar uma volta por cima, porque novas coisas virão.
Ótimo texto, Lena!

Ah! Comento com dois perfis, o de "Cissa Romeu" e o "Ana Cecília...", os dois têm fotos diferentes, ainda não troquei a foto deles.
Beijos e ótima terça!

Maria Alice Cerqueira disse...

Boa tarde amiga!
Gostei muito de vê-la no Projetando Pessoas.
Assunto difícil o seu verdadeiro texto! (Separação) Ha tanta coisa a falar e ao mesmo tempo não! Porque é um assunto muito delicado, pois evolve os sentimentos não só das pessoas que se separam! Numa separação não certos ou culpados, mas o desejo de ser feliz, que por alguma razão não foi encontrado!
Amiga tenha uma linda Semana!
Abraço Amigo
Maria Alice

lenalima disse...

OI Lena!
separação é algo que sempre traz sofrimento, adorei o texto!
abraços!!!

MA FERREIRA disse...

Leninha..

Separacao doi. Doi sim.

Mas essa dor passa. E tem mesmo que ser sentida. Nesta hr a gente se reconstroi na marra.

Tira-nos daquela zona de conforto em que muitas vezes nos mantem numa armadilha.

Exelente este texto, pela ampla abordagem do tema..

Lindinha..obrigada pela dica dos evento em Brasilia. Vou pesquisar mais a respeito!

Bj ..saudades

Ma
to indo te visitar no outro blog...da Sandra..bj

Toninho disse...

O ideal e o real de frente.O peso da sociedade, o medo tudo se mistura e cria um massa dificil e pesada de digerir.Haja arte e analise.Poderia ser como os rios criando energia, mas faltam estas quedas. Hoje estive lendo sua entevista(Projetando Pessoas), legal sua participação.Parabens Lena.
Meu terno abraço.
Bju.

Wanderley Elian Lima disse...

Olá Lena
Não tenho experiência sobre separação. Conheci meu amor com 23 anos e ele com 22, e estamos junto até hoje. Acho que saberia lidar bem com a separação, sem me sentir fracassado.
Bjux

Unknown disse...

Ainda me encontro de férias,passo para deixar um beijo.

Vera Lúcia disse...

OLÁ Lena,
De fato, é um erro querer associar separação com fracasso. Não há qualquer correlação.
Como bem frisou o texto, é uma mera etapa de nossa vida. Passado o desconforto do processo, resta ao casal seguir suas vidas de uma maneira madura, deixando as portas abertas para novas possibilidades e
opções de vida.
Vi sua entrevista lá no Projetando
Pessoas e gostei de conhecê-la um pouco mais.
Beijos.

Sandra Portugal disse...

Querida e iluminada Lena, quero te contar uma coisinha, selecionei para as entrevistas do Projetando Pessoas, Pessoas e não CVs, perfis. Fiz contato às pessoas que mais contribuiram para me projetar, em qualquer que tenha sido o aspecto da minha vida! Precisava de 30 entrevistas, enviei emails uns 2 meses antes, para umas 40 pessoas que fizeram parte dos meus 52 anos de vida! E recebi as respostas todas antes das primeiras publicações, sem que uma tivesse visto as respostas dos outros! Passei a selecionar a ordem em que iria publicar, e simplesmente chorava de emoção com cada relato, muitas vezes de fatos que por mais que conhecesse a amiga, ou o amigo, eu ainda desconhecia! Fui montando e preparei tudo no início de julho! Agora perto de 24/07 quando toda a celebração começou, revisei, mudei umas cores e divulguei a ordem e datas das postagens! E agora, a cada dia, envio mensagens de divulgação da entrevista do dia, de acordo com o grupo de cada amigo. E confesso me emociono TODOS os dias, quando a postagem é publicada parece que ela vem repleta de energia, de vibração e tudo flui, em forma de visitas, emails, smss, comentários, e reflete de acordo com a mídia! Estou anotando diariamente as sugestões, a quantidade de visitas e de comentários!
Amiga, você BRILHA MUITO, seus blogs são simplesmente MARAVILHOSOS!!! Estamos com 456 visitas no dia de hoje no projetando Pessoas e 30 comentários! Blogueiro que é blogueiro comenta, e a sua marca é muito prestigiada! Você de VERDADE PROJETA PESSOAS, você está me projetando diariamente no mundo dos blogs, com suas escolhas de texto, com sua atenção, com seu jeitinho, com sua VIBRAÇÃO! Obrigada por ter me Projetado no mundo virtual e estar me acompanhando por esses meses!!!! Adoro você, com muita gratidão! Sandra
http://projetandopessoas.blogspot.com//

Unknown disse...

Leninha

Primeiro ponto:Adorei a entrevista.
Agradeço à Sandra o convite para te conhecer um pouco melhor, porque sinto que já te conheço à muito.
Sintonia...empatia...sei lá e o mais engraçado é que como você mesma comentou nós temos coisas que somos muito parecidas.

Segundo ponto: O seu post...pois é!
Separação sinónimo de evolução pessoal, e aceitação após o luto!
Depois, é deixar fluir e sentir o nosso próprio sucesso.
E fica tão fácil quando se deixa partir algo dentro de nós. É uma sensação de liberdade única!

Beijinho com carinho

Anônimo disse...

Lena ..lendo isso até parece fácil nè?rs...
Separação doi sempre..e isso é um facto irrefutável..bj querida que adoro..bj e boa noite.

LUCONI MARCIA MARIA disse...

Lena toda transformação real do ser humano sempre causa certo sofrimento,
a separação entre casais também é assim, por este ou aquele motivo dependendo dos valores de cada um,a insegurança sempre também bate, uma nova vida, é difícil, mas levantar a cabeça e ir em frente é inevitável, ninguém consegue ser feliz em cima de escombros, gostei muito do artigo, você sempre nos traz assuntos importantes para o nosso bem estar, sempre um convite a reflexão, beijos Luconi

Cidinha disse...

Oi, Lena..belo post! O texto nos mostra claramente como lida com algo tão delicado que nos faz sofrer e ao mesmo tempo nos ensina, nos faz crescer e nos edifica. Trazendo crecimento pessoal e novas opções de vida.. Adorei a entrevista e mais uma vez, obrigada pela visita e todo seu carinho.. Bjs mil no seu coração!

Meire Oliveira disse...

Brilhante EstreLeninha amadeirada :) O mais importante numa relação é a qualidade e não a quantidade, mesmo porque tenho pessoas que conheço há pouquíssimo tempo, como vc e me dou super bem, até melhor do que muitas pessoas que conheço há muito mais tempo, e claro que essa relação só pode ser tão bonita pq existe o respeito quanto ao espaço do outro. A separação a qual o texto fala é essencial para nosso crescimento :)

Mãezinha do meu coração, vc me chama de fada, mas quem tem uma varinha de condão é vc e com ela sai por aí deixando tudo o que toca com um sorriso estampado no rosto. Suas palavras são fonte inesgotável de força e carinho para o meu core, sempre o deixa quentinho, calminho, além das nuvens! Obrigada por isso e por tudo que vc representa na minha vida!!! te amo do tamanho da Baía de Guanabara multiplicado pelo infinito!!! hihi
bjokitas com master carinho meu! ;)

Severa Cabral(escritora) disse...

Boa noite meu docinho de côco!
A separação é necessária à vida. Se, por um lado, apresenta um aspecto de dor e solidão, por outro pode se apresentar como edificante. Pois é a partir da experiência de separação que a possibilidade de individualidade apresenta-se como possível.
Minha querida estou bem ,já estou na luta...
Hj ganhei duas homenagens,uma da blogueira Regilene e outa do meu amigo Clemente.Convido-a passar por lá e deixar uma palavrinha de carinho que sei que vc é boa nisso,,,teu carísma te supera em tudo que colocas as mãos...
Bjs de boa noite minha amada!