29 de agosto de 2011

É um erro associar separação ao fracasso



A experiência da separação se apresenta como uma realidade humana típica. Prova incontestável deste fato, é o nosso próprio nascimento: comprovadamente há vida intra-uterina, mas nos referimos ao nascimento somente no momento em que, de fato, a criança e mãe se separam. Ou seja, o nascimento é consagrado pela separação de duas vidas, ambas pré-existentes, que se reencontram em um outro nível de realidade.

Até então, o feto, apesar de pulsar e reclamar junto à mãe é encarado como "alguém que está por vir". De modo que o nascimento é, a um só tempo, uma separação e um sinalizador de um novo momento de se relacionar com a realidade concreta.

No decorrer de nosso desenvolvimento psíquico inúmeras são as ocasiões onde o mote da separação se apresenta, especialmente na relação pais-filhos: o primeiro passeio do casal após o nascimento do filho; o primeiro dia de aula; a primeira noite dormida na casa dos amiguinhos; a primeira balada; o primeiro namoro. A lista é interminável, fato que nos aponta à percepção de que a separação é uma realidade humana. Mas o que podemos perceber entre separação e relacionamento amoroso?

Vivemos a realidade da globalização: a um clique de mouse ou um toque de celular atravessamos o mundo; um minuto diante da televisão e nos damos conta daquilo que acontece nos locais mais distantes do planeta. Outra faceta deste fenômeno mundial refere-se à esfera econômica: vivemos a globalização do capitalismo, onde seus valores matemático-financeiros se impõe, não só no âmbito comercial, mas também como parâmetros que regulam nossas relações interpessoais.

Uma decorrência diretamente perceptível deste fato, é a maneira bancária de nos mantermos em relação. Explico. Passamos a viver e medir nossas experiências exclusivamente pelo viés econômico, ou seja, o sucesso de um relacionamento é medido pelo tempo de duração; o sucesso de um indivíduo é medido, por sua vez, pela quantidade de relações em que se envolve. A própria noção de mensurar um relacionamento nos mostra quão arraigada esta percepção financeira está em nossas existências. O que importa, então, dentro deste viés, é "quanto" e não "como".

O que podemos perceber deste modo, é que a separação ora entendida como um aspecto legítimo - dentre tantos outros - da natureza humana, passa ao status de erro, falta, falha. Tratamos algo próprio da experiência humana e, portanto, necessário, como um deslize a ser evitado. E a culpabilização decorrente deste processo nos afasta de um aspecto primordial da separação: a possibilidade de emersão de nossa individualidade.

A separação é necessária à vida. Se, por um lado, apresenta um aspecto de dor e solidão, por outro pode se apresentar como edificante. Pois é a partir da experiência de separação que a possibilidade de individualidade apresenta-se como possível. É a partir da dor da separação que surge a alegria da existência individual. E esta tomada de consciência de nossa individualidade se dá, justamente, quando podemos nos perceber "separados" do outro, como uma existência autônoma, onde também passamos a perceber o outro como uma entidade única, desejante, que também deve ser levada em conta como tal.

Podemos perceber aos poucos se delineando uma ideia de escolha. De um lado, o chamado a uma percepção "econômica" da separação, vinculada intimamente a ideia de quantidade (mais é melhor); por outro, o chamado a um entendimento mais integrado da ideia de separação, como um dos aspectos da existência humana, percebido agora não mais como falha, mas como necessário ao processo de crescimento individual.

O que podemos perceber, então, é que dentro de uma perspectiva materialista, onde se prioriza a quantidade, a separação é vista e sentida como perda. Mas, diante de uma percepção integral, onde procuramos entender cada passo por nos dado, como partes de um quebra-cabeças - nossa vida - a separação pode se apresentar não só como uma etapa, mas uma etapa edificante, onde são colocados à prova nossos critérios éticos de escolha. E a questão principal da separação diz respeito justamente ao posicionamento ético que nos propomos e propomos ao mundo.

Então, as escolhas que norteiam um relacionamento devem estar presentes, também, no processo de separação. Este processo deve ser ético e procurar criar uma nova síntese, ou seja, não encará-la como perda, mas sim como um novo momento, onde se apresenta um novo estágio de consciência, trazendo à tona possibilidades de crescimento pessoal e novas opções de vida.



Luiz André Martins 

Reedição do post do dia 9/8/2011.


Beatles - Hello Goodbye
 

28 comentários:

Anônimo disse...

Lena,
Como diz o texto, nossa vida é uma constante separação.
"E separe-se o homem e a mulher da sua parentela e unir-se-á ao seu conjugue..." União e separação de corpos, depois união com o feto, tanto para a mãe quanto para o pai; separação do útero e união pelo lactar; depois a vida se torna união e separação sempre, pela vida à fora. Namoro que nao dá certo, amizades que se distanciam por infinitas razões. A gente vai sofrendo todas as perdas, mas vai igualmente crescendo e adquirindo bagagem para viver com mais sabedoria.
Texto Maravilhoso querida Lena, flor mais linda do meu jardim. Te amo.

Ale disse...

Lena,

Mas seu texto é corretíssimo: levamos pro lado do fracasso, e esquecemos tudo o que crescemos nesse tempo.... E pior, esquecemos o quão mais poderemos crescer daquele momento em diante,


Um beijo,


Uma semana de paz

Anônimo disse...

bom dia pessoa mais que querida!!!

esse tema é dolorido, mas importante... existem tantas "separações", às vezes por escolha, outras por imposição da vida... do ciclo natural da vida...
minha primeiras separações foram as mais doloridas, as não escolhidas e as que me fizeram crescer, na marra... a primeira foi o meu pai, a segunda minha mãe... tão perto um do outro e eu ainda tão necessitada dos dois... uma infância e adoloscência em que a "separação" surgiu assim, sem pedir "com licença"... enfim...
mais tarde veio a separação não por imposição, nem tão pouco por vontade, mas por "circunstâncias"... um casamento que já não fluia mais... Respirar fundo nessa hora é a saída e seguir em frente... Sabe, amiga, dentre essas "separações" o melhor foi ter conseguido a não me separar de mim mesma, fiquei inteira aos pedaços, mas os pedaços ficaram alí, fortes e juntinhos e assim a gente se reconstrói, chega o segundo casamento mais maduro, mais pés no chão... e nesse, estou grudadinha...rs

beijos pessoa querida que eu amo!!!
minha bibliotecária que me põe a pensar logo cedo!! hehehe...

linda segunda feira pra ti!

Beijokas!

Su.

Célia Gil disse...

A separação é, em si, uma opção de vida que, muitas vezes, é a melhor! Quando não dá mais, quando é um sacrifício, uma anulação pessoal, não vale a pena insistir, isso sim num fracasso, porque a separação pode ser a superação do fracasso! Bjs

Mafalda S. disse...

Tens toda a razão. Nunca tinha analizado dessa perspectiva.

Beijo

Anônimo disse...

Your point is valueble for me. Thanks!

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Anônimo disse...

Tudo tão verdade---o problema é que é uma verdade que ninguém quer...rs..te adoro querida super beijo...

mfc disse...

Mais que separação, o texto trata antes de uma certa emancipação necessária à assunção da individualidadede de cada um.

Leninha Brandão disse...

Minha muito querida Xará Lena,separação,assunto polêmico e de cunho devastador...e sempre existe aquela impressão de fracasso,do por que eu?E as pessoas se machucam,se ferem e se angustiam sem compreender porque não deu certo,se com tantas outras criaturas é tudo tão diferente,vivem tantos anos em relacionamentos felizes(pelo menos aparentam isto).
É assunto prá muitas postagens e comentários,dá até uma blogagem coletiva,uma catarse geral...
Um belo dia prá você,amiga querida e uma semana esplendorosa.
Bjsssssss,
Leninha,Lena,Helena

kiro disse...

Um lindo texto Leninha. Ver a vida com os olhos abertos e sem véus de ilusão.

A separação é um processo natural, em alguns casos até necessário para o crescimento humano.

Lindinha. Muito ótima tua escolha ♥

^_^•


Beijinhos flor ♥

brisa48@bol.com.br disse...

QUERIDA LENA
VIVENDO E APRENDENDO COMO A PERDA NOS FAZ CRESCER COMO PESSOA. Nos momentos de tristeza trancamos a

alegria que existe dentro de nós, sem

saber que essa força é a alegria que

escondemos para dar passagem a

tristeza...por isso coragem para

abrir a porta da alegria e deixar

que ela se transforme em

felicidade. BOA SEMANA

ValériaC disse...

Muitíssimo pertinente seu texto minha querida... a vida é feita de momentos de "separação", seja pais e filhos, entre amigos, em relacionamentos amorosos. Sem duvida alguma não se deve associar separação com fracasso, pois tudo o que se vivencia é válido, nos leva a refletir, a crescer, nada é perdido, tudo pode nos impulsionar para o melhor, tudo é semente para recomeçar.
Feliz semana minha querida...beijos
Valéria

A.S. disse...

Lena,

Mais um belo texto. com a qualidade a que já nos habituaste! Tuas palavras são, verdadeiramente, um excelente motivo de reflexão para tantas coisas que vão acontecendo no passar dos dias!


Beijos meus,
AL

Caca disse...

Oi, Lena! Eu tenho uma certa birra com esa nossa vida na base do perde ganha. Como muito bem dito no texto, estamos monetarizados até a alma nas nossas relações interpessoais.Nada se faz sem que haja uma correspondência em forma de compensação. Seja premiando por um bom feito, seja recompensando por uma perda. É muito ruim, eu acho, embora me considere quase um anômalo sentindo-me assim.
Um abraço e uma ótima semana.

Vera Lúcia disse...

Olá Lena,
Valeu a reedição, pois é um texto que merece ser relido.
Por toda a nossa vida nos submetemos a estes processos de separação, conforme bem salientou o texto.
Entre os casais, devemos mesmo considerar como mais uma mera etapa
a ser vencida, apesar da dor que se instaura. Não há que se falar em perda. Ninguém perde o que já não tem.
Tudo na vida é um processo contínuo de crescimento e, assim, passada a tempestade, novos horizontes se apresentarão, trazendo novas possibilidades para aquele que prezam sua individualidade e o seu bem viver.
Beijos.

Renata Marengo disse...

Oi Lena! Vim aqui agradecer tua visita e comentário (foi muito bom te "conhecer"! faz pouco tempo que tenho o blog, e ainda fico boba com as amizades e conhecimentos que ele me proporciona!)
E encontrei esse texto sobre separação: eu tenho um problema com essa palavra. Não! eu tinha! Essa mensagem me ensinou a ver a separação por outra perspectiva. É que meus pais se separaram quando eu tinha quase 5 anos, e foi muito complicado, mas enfim que adorei esse texto, obrigada! Boa semana! Beijos da amiga Renata.

Rô... disse...

oi Lena querida,

difícil esse momento,
apesar de tão comum em nossos dias,
ainda me dói,
preciso aprender a lidar um pouco melhor com isso,
mas estou aqui no meu exercício diário,
e você,
minha amiga muito me ajudou,
vou guardar esse texto,
para meus estudos...

muitos beijinhos

ANA ROOS disse...

Tenho dificuldades com esse tema, as vezes acho que fujo, as vezes acho que me assumo e sumo!
Doi a despedida pelo que aconteceu de bom, mas dói mais ainda pelo que não se viveu?
Escolhas: seguir ou se despedir, ainda estou aprendendo, mas o que decidi agora no momento é que antes de me unir a mais alguém, vou me unir a mim!

Texto difícil de se ler, pois a cada palavra eu via o quanto cada vez que nos unimos estamos também nos separando...

Beijos no coração minha amiga querida

Meire Oliveira disse...

My sweet librarian, sem separação não há individualidade como diz o texto. Tudo nessa vida tem o momento certo e não é pq posso ficar até 1 mês sem falar com um amigo que não sou mais sua amiga, muito pelo contrário ver que a relação seja ela qual for, do namorado, da amiga, da mãe, da irmã, continua a mesma sempre, se renovando até com a saudade que deixa tudo mais bonito e aconchegante quando nos revemos é o que faz dessa relação enraizada no coração na minha opinião. Não há nada mais bonito que isso :)
Amiga, arrasou na reedição, vice!

Vou te contar um segredo: na verdade meu coração só parece dourado pq reflete o brilho de uma EstreLeninha!!!
Te amo muiiitão!!!
Obrigada mil vezes por fazer parte de my life.

Claudia Caprecci disse...

Lena minha amada,só passei pra te desejar uma semana repleta de coisas boas!
Beijo.

Cidinha disse...

Olá, Lena. È essa a realidade, separar-se sempre. Más no meio de tudo estamos sempre aprendendo a evoluir, com novas experiências. Lindo amiga! Bela reflexção. Bjos e bjos com carinho. Obrigada sempre!

MARILENE disse...

Qualquer separação, mesmo entre namorados, costuma fazer um dos lados ficar com a sensação de fracasso. Em matéria de uniões mais estáveis, fica ainda mais difícil conviver com ela. As duas pessoas não resolvem, ao mesmo tempo, dizer FIM. Por isso a insatisfação e a sensação de que errou, carregada por quem não a desejava.
Mas percebemos, pelos inúmeros casais que até já reconstruíram suas vidas, que o importante é parar um pouco, crescer, encontrar outras motivações, olhar para si mesmo e não travar batalhas que só causam sofrimento.

Bjs.

Severa Cabral(escritora) disse...

Meu docinho de côco !
Faço votos que vc esteja bem e que já tenha se recuperado...
Precisamos ter olhos e ouvidos abertos,coração atento,procurando fazer o nosso trabalho sem magoar os outros e sem observações desnecessarias,lembrar que cada um tem seu jeito particulas de ser de agir e de pensar.O que seria do verde se todos gostassem do amarelo.
O ser humano se diferencia um do outro,pela sua obra,pela sabedoria de vida ...
Estava afastada da net este final de semana porque estava fora da cidade,mas morta de saudades do meu docinho...
Bjs minha linda

Palavras disse...

Oi Lena,

Muito acertiva a escolha do texto. Parabéns! Passei recentemente por um caso de separação na família e o que deixou uma das pessoas muito mal, foi a sensação de fracasso que as outras pessoas impunham.
Muito bom! Vou indicar o link para alguns amigos.

Abraços

MA FERREIRA disse...

Oi queria leninha..

A sepracao num primeiro momento doi.
Acho que tem a ver com EGO. Somos cobrados a sermos perfeitos e de alguma maneira a separacao acaba sendo associada ao fracasso.
Eu sempre digo: tem que ter muita coragem para assumir uma separacao, no caso de pares romanticos.
Pq temos o medo do recomeco. E as vezes ficamos presos em nossa zona de conforto, onde nem somos feliz nem tristes..ou as vezes tristes..mas de alguma forma amparados. ( amparados ), sei nao..

Adorei o tema..saudades..lindo dia a vc..

Julliany kotona disse...

Lena minha linda também acredito nisso separação não deve ser associada a fracasso,meus pais se separaram e hoje vivem muito melhor assim,é dificil no começo é pois é algo novo e o novo sempre da medo,mas depois com o tempo se percebe que é melhor assim,todos nós somos capazes de recomeçar se não deu certo e daí nê,fracasso é desistir de lutar :) Ameeeeeeeeei,digo mil vezes e não me canso seu cantinho é um encanto bjos de Boa noite amada!

Ingrid disse...

para refletir sempre..
um relacionamento envolve duas pessoas.. simples assim.
beijinhos querida, e espero que estejas bem..

Anônimo disse...

Devemos agradecer a Deus (pois eu creio nele), que existem mortes para o nosso crescimento. Estranho nao é?
Ex isso e ex aquilo, mas se soubermos morrer no tempo e nas coisas certas, a vida começa a nascer.
Beijao